30 junho 2023

Avise a você


Aprenda a admoestar-se, antes que a vida admoeste a você.
Se o seu problema é alimentar-se excessivamente, exponha na mesa está legenda escrita, diante dos olhos:
—Devo moderar meu apetite.
Se a sua luta decorre da preguiça, dependure este dístico à frente do próprio leito para a reflexão cada manhã:
—Devo trabalhar honestamente.
Se a sua intranquilidade surge da irritação sistemática, coloque este aviso em evidência no lar para observação incessante:
—Devo governar minhas emoções.
Se o seu impedimento irrompe de vícios arraigados, carregue consigo um cartão com esta lembrança breve:
—Devo renovar-me.
Se o seu caso difícil é a inquietação sexual, traga no pensamento este aviso constante:
—Devo controlar meus impulsos.
Se o seu ponto frágil está na palavra irrefletida, espalhe este memorando em torno de seus passos:
—Devo falar caridosamente.
Não acredite em liberdade incondicional. Todo direito está subordinado a determinado dever. Ninguém abusa sem consequências.
Repare os sistemas penalógicos da vida funcionando espontaneamente.
Enfermidades compartilham excessos… 
Obsessões cavalgam desequilíbrios…  
Cárceres segregam a delinquência…  
Reencarnações expiatórias acompanham desatinos…  
Corrijamos a nós mesmos, antes que o mundo nos corrija.
Todos sabemos proclamar os méritos do pensamento positivo, entretanto, não há pensamento positivo para o bem sem pensamento reto.
O tempo é aquele orientador incansável que ensina a cada um de nós, hoje, amanhã e sempre que ninguém pode realmente brincar de viver.
 
Espírito André Luiz, do livro Ideal Espírita, psicografado por Chico Xavier.

29 junho 2023

Fatalidade


A fatalidade do mal é sempre uma criação devida a nós mesmos gerando, em nosso prejuízo, a provação expiatória, em torno da qual passamos compulsoriamente a gravitar.
Semelhante afirmativa dispensa qualquer discussão filosófica, pela simplicidade com que será justo lhe averiguar o acerto, nas mais comezinhas atividades da vida comum.
Uma conta esposada naturalmente é um laço moral tecido pelo devedor à frente do credor, impondo-lhe a obrigação do resgate.
Um templo doméstico entregue ao lixo sistemático transformar-se-á com certeza num depósito de micróbios e detritos, determinando a multiplicação de núcleos infecciosos de enfermidade e morte.
Um campo confiado ao império da erva daninha converter-se-á, sem dúvida, na moradia de vermes insaciáveis, compelindo o lavrador a maior sacrifício na recuperação oportuna.
Assim ocorre em nosso esforço cotidiano.
Não precisamos remontar a existências passadas para sondar a nossa cultura de desequilíbrio e sofrimento.
Auscultemos a nossa peregrinação de cada dia.
Em cada passo, quando marchamos no mundo ao sabor do egoísmo e da invigilância, geramos nos companheiros de experiências as mais difíceis posições morais contra nós.
Aqui, é a nossa preguiça, atraindo em nosso desfavor a indiferença dos missionários do trabalho, ali é a nossa palavra agressiva ou impensada, coagulando a aversão e o temor, ao redor de nossa presença.
Acolá, é o gesto de incompreensão provocando a tristeza e o desânimo nos corações interessados em nosso progresso, e, mais além, é a própria inconstância no bem, sintonizando-nos com os agentes do mal…
Lembremo-nos de que os efeitos se expressarão segundo as causas e alteremos o jogo das circunstâncias, em nossa luta evolutiva, desenvolvendo, conosco e em tomo de nós, mais elevada plantação de amor e serviço, devotamento e boa vontade.
“Acharás o que procuras” – disse-nos o Senhor.
E, em cada instante de nossa vida, estamos recolhendo o que semeamos, dependendo da nossa sementeira de hoje a colheita melhor de amanhã.

Espírito Emmanuel, do livro Indulgência, psicografado por Chico Xavier.

28 junho 2023

Perdoarás


Perdoarás, mas perdoarás compreendendo que o perdão não te coloca na galeria de virtudes especiais, diante daquele a quem hajas brindado com a tua benevolência.

Perdoarás, reconhecendo que poderias estar no lugar dele.

Examinarás todo o acervo de sentimentos e pensamentos, impulsos e ações que te definem a personalidade e perguntarás a ti mesmo, sem qualquer subterfúgio, como agirias na posição do ofensor, no momento psicológico em que ele caiu.

Ouvirás a consciência sem fugir-lhe às anotações e perceberás, para logo, que é forçoso sanar o erro, entretanto, observarás claramente, que ninguém suprime um erro em definitivo sem o clima da compaixão, e ninguém encontra o clima da compaixão sem a luz do entendimento.

A face disso, quando alguém te apedreje, detém-te por alguns instantes, a fim de enxergar o ocorrido. Alguém já disse que de dez partes do ato de ver nove delas se processam fora dos olhos físicos, nas profundezas da mente. Através da meditação, ser-te-á possível verificar o agravo como sendo um espinho de raízes envenenadas, infelicitando muito mais o agressor do que a vítima. Divisarás, desse modo, naquele que te desconsidera ou injuria o prejuízo da ignorância, a inibição da enfermidade, o complexo da angústia ou a cegueira da obsessão. Feito isso, destacarás, facilmente, não a suposta superioridade, diante dele, mas sim distinguirás tuas vantagens, com as oportunidades de refletir e de auxiliar que o irmão menos feliz, de muito tempo até agora, não terá conhecido.

Em verdade, nem sempre nas lesões que venham a ocorrer, na esfera do espírito, conseguirás agir a sós, no plano da condescendência absoluta, de vez que existem as postergações de preceito que não se correlacionam apenas contigo mas também com as obrigações da justiça, à frente de todos. Mesmo nessas circunstâncias, perdoará de ti próprio, esquecendo todo mal, recordando que carregas contigo as próprias fragilidades. E ainda quando o agravo se caracterize por feição complexa, separando-te provisoriamente daqueles que te feriram, podes atender a lição de Jesus, auxiliando a cada um deles com a bênção da prece, porque, em nos referindo aos domínios da alma, em qualquer lugar, a oração é a presença do coração.

Espírito Emmanuel, do livro Hoje, psicografado por Chico Xavier.

27 junho 2023

Além dos outros


“Não fazem os publicanos também o mesmo?” – Jesus. (Mateus, 5:46.)

Trabalhar no horário comum irrepreensivelmente, cuidar dos deveres domésticos, satisfazer exigências legais e exercitar a correção de proceder, fazendo o bastante na esfera das obrigações inadiáveis, são tarefas peculiares a crentes e descrentes na senda diária.
Jesus, contudo, espera algo mais do discípulo.
Correspondes aos impositivos do trabalho diuturno, criando coragem, alegria e estímulo, em derredor de ti?
Sabes improvisar o bem, onde outras pessoas se mostraram infrutíferas?
Aproveitas, com êxito, o material que outrem desprezou por imprestável?
Aguardas, com paciência, onde outros desesperaram?
Na posição de crente, conservas o espírito de serviço, onde o descrente congelou o espírito de ação?
Partilhas a alegria de teus amigos, sem inveja e sem ciúme, e participas do sofrimento de teus adversários, sem falsa superioridade e sem alarde?
Que dás de ti mesmo no ministério da caridade? Garantir o continuísmo da espécie, revelar utilidade geral e adaptar-se aos movimentos da vida são característicos dos próprios irracionais.
O homem vulgar, de muitos milênios para cá, vem comendo e bebendo, dormindo e agindo sem diferenças fundamentais, na ordem coletiva. De vinte séculos a esta parte, todavia, abençoada luz resplandece na Terra com os ensinamentos do Cristo, convidando-nos a escalar os cimos da espiritualidade superior. Nem todos a percebem, ainda, não obstante envolver a todos. Mas, para quantos se felicitam em suas bênçãos extraordinárias, surge o desafio do Mestre, indagando sobre o que de extraordinário estamos fazendo.

Espírito Emmanuel, do livro Fonte Viva, psicografado por Chico Xavier.

Investimentos


TEMA — O valor da cooperação fraterna.

Compreensível o espírito de previdência que induz o homem a se preservar contra a penúria.
A formação bancária na garantia comum, os estabelecimentos de segurança pública, as organizações da economia popular sem estímulo à usura e os institutos de proteção recíproca representam aquisições de inegável valor para a comunidade.
Ninguém deve menosprezar o ensejo de se resguardar contra a exigência imprevista.
Essa realidade, patente no Plano material, não é menos tangível no Reino do Espírito. Urge depositar valores da alma, nas reservas da vida, considerando as nossas necessidades de amanhã.
A interdependência guarda força de lei, em todos os domínios do Universo.
Caridade é dever, porque, se os outros precisam de nós, também nós precisamos dos outros. Não esperes, porém, pelo poder ou pela fortuna terrestres a fim de cumpri-la.
Faze os teus investimentos de ordem moral com o que tens e com o que és.
Começa agora.
Quotas pequeninas de força monetária totalizam grandes créditos. Migalhas de bondade formam largos tesouros de amor.

Relaciona algumas das possibilidades ao alcance de todos:
o minuto de cortesia;
o testemunho de gentileza;
o momento de tolerância, sem nenhum apelo à crítica;
a referência amistosa;
a frase encorajadora;
a demonstração de entendimento;
a desculpa espontânea, sem presunção de superioridade;
a conversação edificante;
a pequenina prestação de serviço;
o auxílio além da obrigação…

No capítulo da propriedade, lembra-te da própria alma, — a única posse inalienável de que dispões, — e recordando que precisas e precisarás de recursos sempre maiores e sempre novos para evoluir e elevar a própria vida, não te esqueças de que podes, a todo instante, trabalhar e servir, investindo felicidade e cooperação com ela.

Espírito Emmanuel, do livro Encontro Marcado, psicografado por Chico Xavier.

26 junho 2023

Salve Kardec


Sobre a Terra de sombra e de amargura
A treva espessa e triste se fizera.
A Ciência e a Fé nas asas da quimera
Mais se afundava pela noite escura.

A alma humana de então se desespera,
E eis que das luzes místicas da altura
Desce outra luz confortadora e pura,
De que o mundo infeliz se achava à espera.

E Kardec recebe-a, sobre o abismo
Espalhando as lições do Espiritismo,
Em claridades de consolação.

Emissário da Luz e da Verdade,
Entrega ao coração da Humanidade
A Doutrina de Amor e Redenção.

Espírito Casimiro Cunha, do livro Doutrina e Vida, psicografado por Chico Xavier.

Nós, porém


Efetivamente, o caminho mais fácil para o homem do mundo é:
Seguir as normas estabelecidas;
Nada criar de útil;
Buscar as vantagens imediatas;
Estudar os lucros prováveis;
Selecionar as alegrias;
Colher preciosidades efêmeras;
Perseguir flores passageiras;
Entronizar a fantasia;
Aplaudir a mentira que lhe conquiste prazeres;
Descansar sempre;
Nada fazer no campo do sacrifício;
Prender-se às opiniões convencionais e perder o dia com absoluto desprestígio das Bênçãos Divinas que lhe conferiram a oportunidade da existência terrestre, para, no fim, encontrar-se com a morte do corpo, face a face.

Esse é o roteiro preferido pela maioria das criaturas.
Nós, porém, somos candidatos à Espiritualidade Superior e nosso domicílio não se fundamenta no solo da Terra.

Em nossas tarefas, somos compelidos a começar pela simplicidade da Manjedoura, escalar a montanha áspera do serviço e aguardar a partida através da Cruz.

Não esperemos outro caminho, senão aquele do Mestre Querido que buscamos.
Outra felicidade não interessa ao discípulo fiel e não podemos trair o mandato daquele Senhor, Justo e Amoroso, que nos elevou a preço de seu próprio sangue e de sua própria renúncia.

Espírito Nina, do livro Doutrina e Aplicação, psicografado por Chico Xavier.

25 junho 2023

Sócrates


Foi no Instituto Celeste de Pitágoras (1) que vim encontrar, nestes últimos tempos, a figura veneranda de Sócrates, o ilustre filho de Sofronisco e Fenareta.
A reunião, nesse castelo luminoso dos planos erráticos, era, nesse dia, dedicada a todos os estudiosos vindos da Terra longínqua. A paisagem exterior, formada na base de substâncias imponderáveis para as ciências terrestres da atualidade recordava a antiga Hélade, cheia de aromas, sonoridades e melodias. Um solo de neblinas evanescentes evocava as terras suaves e encantadoras, onde as tribos jônias e eólias localizaram a sua habitação, organizando a pátria de Orfeu, cheia de deuses e de harmonias. Árvores bizarras e floridas enfeitavam o ambiente de surpresas cariciosas, lembrando os antigos bosques da Tessália, onde Pan se fazia ouvir com as cantilenas de sua flauta, protegendo os rebanhos junto das frondes vetustas, que eram as liras dos ventos brandos, cantando as melodias da Natureza.
O palácio consagrado a Pitágoras tinha aspecto de severa beleza, com suas colunas gregas à maneira das maravilhosas edificações da gloriosa Atenas do passado.
Lá dentro, agasalhava-se toda uma multidão de Espíritos ávidos da palavra esclarecida do grande mestre, que os cidadãos atenienses haviam condenado à morte, 399 anos antes de Jesus-Cristo.
Ali se reuniam vultos venerados pela filosofia e pela ciência de todas as épocas humanas, Terpandro, Tucídides, Lísis, Ésquines, Filolau, Timeu, Símias, Anaxágoras e muitas outras figuras respeitáveis da sabedoria dos homens.
Admirei-me, porém, de não encontrar ali nem os discípulos do sublime filósofo ateniense, nem os juízes que o condenaram à morte. A ausência de Platão, a esse conclave do Infinito, impressionava-me o pensamento, quando, na tribuna de claridades divinas, se materializou aos nossos olhos o vulto venerando da filosofia de todos os séculos. Da sua figura irradiava-se uma onda de luz levemente azulada, enchendo o recinto de vibração desconhecida, de paz suave e branda. Grandes madeixas de cabelos alvos de neve molduravam-lhe o semblante jovial e tranquilo, onde os olhos brilhavam infinitamente cheios de serenidade, alegria e doçura.
As palavras de Sócrates contornaram as teses mais sublimes, porém, inacessíveis ao entendimento das criaturas atuais, tal a transcendência dos seus profundos raciocínios. À maneira das suas lições nas praças públicas de Atenas, falou-nos da mais avançada sabedoria espiritual, através de inquirições que nos conduziam ao âmago dos assuntos; discorreu sobre a liberdade dos seres nos planos divinos que constituem a sua atual morada e sobre os grandes conhecimentos que esperam a Humanidade terrestre no seu futuro espiritual.
É verdade que não posso transmitir aos meus companheiros terrenos a expressão exata dos seus ensinamentos, estribados na mais elevada das justiças, levando-se em conta a grandeza dos seus conceitos, incompreensíveis para as ideologias das pátrias no mundo atual, mas, ansioso de oferecer uma palavra do grande mestre do passado aos meus irmãos, não mais pelas vísceras do corpo e sim pelos laços afetivos da alma, atrevi-me a abordá-lo: – Mestre – disse eu –, venho recentemente da Terra distante, para onde encontro possibilidade de mandar o vosso pensamento. Desejaríeis enviar para o mundo as vossas mensagens benevolentes e sábias?
—Seria inútil – respondeu-me bondosamente –, os homens da Terra ainda não se reconheceram a si mesmos. Ainda são cidadãos da pátria, sem serem irmãos entre si.
Marcham uns contra os outros, ao som de músicas guerreiras e sob a proteção de estandartes que os desunem, aniquilando-lhes os mais nobres sentimentos de humanidade.
—Mas… – retorqui – lá no mundo há uma elite de filósofos que se sentiriam orgulhosos de vos ouvir! …
—Mesmo entre eles as nossas verdades não seriam reconhecidas. Quase todos estão com o pensamento cristalizado no ataúde das escolas. Para todos os espíritos, o progresso reside na experiência. A História não vos fala do suicídio orgulhoso de Empédocles de Agrigento, nas lavas do Etna, para proporcionar aos seus contemporâneos a falsa impressão de sua ascensão para os céus? Quase todos os estudiosos da Terra são assim; o mal de todos é o enfatuado convencimento de sabedoria. Nossas lições valem somente como roteiro de coragem para cada um, nos grandes momentos da experiência individual, quase sempre difícil e dolorosa.
Não crucificaram, por lá, o Filho de Deus, que lhes oferecia a própria vida para que conhecessem e praticassem a Verdade? O pórtico da pitonisa de Delfos está cheio de atualidade para o mundo. Nosso projeto de difundir a felicidade na Terra só terá realização quando os Espíritos aí encarnados deixarem de ser cidadãos para serem homens conscientes de si mesmos. Os Estados e as Leis são invenções puramente humanas, justificáveis, em virtude da heterogeneidade com respeito à posição evolutiva das criaturas; mas, enquanto existirem, sobrará a certeza de que o homem não se descobriu a si mesmo, para viver a existência espontânea e feliz, em comunhão com as disposições divinas da natureza espiritual. A Humanidade está muito longe de compreender essa fraternidade no campo sociológico.
Impressionado com essas respostas, continuei a interrogá-lo:
—Apesar dos milênios decorridos, tendes a exprimir alguma reflexão aos homens, quanto à reparação do erro que cometeram, condenando-vos à morte?
—De modo algum. Méletos e outros acusadores estavam no papel que lhes competia, e a ação que provocaram contra mim nos tribunais atenienses só podia valorizar os princípios da filosofia do bem e da liberdade que as vozes do Alto me inspiravam, para que eu fosse um dos colaboradores na obra de quantos precederam, no Planeta, o pensamento e o exemplo vivo de Jesus-Cristo. Se me condenaram à morte, os meus juízes estavam igualmente condenados pela Natureza; e, até hoje, enquanto a criatura humana não se descobrir a si mesma, os seus destinos e obras serão patrimônios da dor e da morte…
—Poderíeis dizer algo sobre a obra dos vossos discípulos?
—Perfeitamente – respondeu-me o sábio ilustre –, é de lamentar as observações mal-avisadas de Xenofonte, lamentando eu, igualmente, que Platão, não obstante a sua coragem e o seu heroísmo, não haja representado fielmente a minha palavra junto dos nossos contemporâneos e dos nossos pósteros. A História admirou na sua Apologia os discursos sábios e bem feitos, mas a minha palavra não entoaria ladainhas laudatórias aos políticos da época e nem se desviaria para as afirmações dogmáticas no terreno metafísico. Vivi com a minha verdade para morrer com ela. Louvo, todavia, a Antístenes, que falou com mais imparcialidade a meu respeito, de minha personalidade que sempre se reconheceu insuficiente. Julgáveis então que me abalançasse, nos últimos instantes da vida, a recomendações no sentido de que se pagasse um galo a Esculápio? Semelhante expressão, a mim atribuída, constitui a mais incompreensível das ironias.
—Mestre, e o mundo? - indaguei.
—O mundo atual é a semente do mundo paradisíaco do futuro. Não tenhais pressa.
Mergulhando-me no labirinto da História, parece-me que as lutas de Atenas e Esparta, as glórias do Pártenon, os esplendores do século de Péricles, são acontecimentos de há poucos dias; entretanto, soldados espartanos e atenienses, censores, juízes, tribunais, monumentos políticos da cidade que foi minha pátria, estão hoje reduzidos a um punhado de cinzas!…   A nossa única realidade é a vida do Espírito.
—Não vos tentaria alguma missão de amor na face do orbe terrestre, dentro dos grandes objetivos da regeneração humana?
—Nossa tarefa, para que os homens se persuadam com respeito à verdade, deve ser toda indireta. O homem terá de realizar-se interiormente pelo trabalho perseverante, sem o que todo o esforço dos mestres não passará do terreno do puro verbalismo.
E, como se estivesse concentrado em si mesmo, o grande filósofo sentenciou:
—As criaturas humanas ainda não estão preparadas para o amor e para a liberdade…
Durante muitos anos, ainda, todos os discípulos da Verdade terão de morrer muitas vezes!
E enquanto o ilustre sábio ateniense se retirava do recinto, junto de Anaxágoras, dei por terminada a preciosa e rara entrevista.

(1) - Nome convencional para figurar os centros de grandes reuniões espirituais no plano Invisível. - O Autor Espiritual Humberto de Campos Espírito.

Espírito Humberto de Campos (Irmão X), do livro Crônicas de Além-túmulo. Página recebida por Chico Xavier, em 7 de janeiro de 1937.

Confia


Se a provação te busca,
Não reclames. Confia.

Tudo na evolução
Sofre pra expandir-se.

Ante os punhais da rocha
Faz-se a fonte mais pura.

A rosa vem à luz
No colo do espinheiro.

Dentro da própria dor,
A alegria renasce.

Depois da meia-noite,
Rebrilha o amanhecer.

Espírito Emmanuel, do livro Crer e Agir, psicografado por Chico Xavier.

***

Se sentes qualquer dificuldade no relacionamento com os outros é provável que o empecilho maior esteja em ti mesmo.

Espírito Irmão José.

24 junho 2023

Cristianismo restaurado


Espiritismo religioso? Sim. Somente o Cristianismo restaurado pode salvar o mundo que se perde.
Respeitamos a ciência honesta, entretanto, desaprovamos o cientificismo pretensioso que intenta converter consciências livres em cobaias humanas. Admiramos a filosofia digna desse nome, todavia, desestimamos os sofismas e as dissensões infindáveis, a detrimento da obra construtiva do sentimento. Claro que o mundo permanece repleto de enigmas surpreendentes, desde o primeiro instante de aglutinação atômica no mecanismo planetário. A terra, porém, é uma escola e ainda não chegamos, na condição de desencarnados, a ser enciclopédias individuais, nem podemos subtrair a lição aos estudantes da vida, invertendo as leis justas que regem as forças evolutivas.
Se a verdade tem o seu preço em esforço próprio daquele que a investiga, é razoável que cada aprendiz caminhe com os próprios pés, ouça com os ouvidos que lhe pertencem e veja com os olhos que possui.
Jesus não permite que os mortos se levantem dos túmulos para fomentar as discórdias regionais ou incentivar as rixas domésticas. Não concedeu o Senhor aos discípulos a luz divina do Pentecostes para que estabelecessem novas dissensões entre romanos e gregos, publicanos e fariseus, mas simplesmente para que anunciassem o Reino de Deus, conclamando as criaturas à sua justiça.
Essa, ainda, a nossa função, regressando aos ambientes de estudos evangélicos, dos caminhos que a morte nos revelou aos corações.
Nossa missão é essencialmente religiosa, na restauração da fé viva e na revivência das tradições simples dos tempos apostólicos.
Compreendemos a sede e a angústia dos homens menos esclarecidos, interpelando os planos invisíveis para satisfazer impulsos primários de suas indagações, mas temos de dosar as lições como quem sabe o objetivo a atingir.
Continuemos, pois, em nosso esforço reconstrutivo da fé, porquanto no mundo atormentado pela fome de cobiça, flagelado pela guerra e ferido por misérias de toda sorte, não seria justo agravar as desordens do pensamento, com ignorância deliberada dos imperativos da tolerância.
O campo oferece um momento próprio à semeadura e a semente possui o seu dia de germinação, como a árvore que atingirá a época adequada de frutificação.
Tenhamos paciência e prossigamos em nosso trabalho pacífico.
Não temos a presunção de expedir o atestado de óbito das escolas religiosas existentes na atualidade do mundo, nem desejamos estabelecer a luta dogmática e sectarista entre as várias correntes cristãs, tão divididas entre si.
Nosso objetivo é diferente. Desejamos tão só reavivar a crença pura, a fim de que o homem, na qualidade de herdeiro divino, possa entrar na glória espiritual da compreensão de Jesus Cristo, inaugurando novos caminhos à evolução do pensamento religioso.
Que Jesus, pois, nos inspire a ação e nos fortaleça.
Demonstrai vossa fé com os atos de vossa vida. O mundo está cheio de palavras, pregações e polêmicas. Muitos ensinam, poucos aprendem. Quase todos mandam. Raríssimos obedecem. Sede, portanto, os sermões vivos e silenciosos da fé nova e continuemos a cooperar pela restauração do cristianismo puro, no setor religioso que o Divino Mestre nos confiou, porque, em verdade, observando a destruição e o morticínio, as trevas e as perturbações que atormentam o mundo, somos forçados a reconhecer que sem a fé não podereis sair dessa imensa noite que vos obscurece o entendimento; sem o Evangelho de Jesus, sentido e aplicado, não haverá concórdia entre as nações e sem Deus estaremos perdidos.

Espírito Emmanuel, do livro Coletâneas do Além, psicografado por Chico Xavier.

O mar


Ó mar, estranho mar, gigante insatisfeito,
Tu tens o coração em múltiplas crateras,
Que explodem sem cessar no âmago do peito,
Do teu estranho peito, eterno de outras eras!

Na tua onipotência és único, perfeito!
Tu tens mil mansidões e tens mil sanhas feras;
No grito aterrador revelas o teu feito,
As cruzadas triunfais das títeres galeras!

Quando ruges feroz em meio das tormentas,
Sustentas lutas mil, batalhas incruentas.
E eu sinto-me irmanado à tua dor sombria!

Porque minh’alma assim é um mar todo revolto,
Meu triste coração é um pobre batel solto,
Sem norte a navegar, pela maré bravia!…

Francisco Xavier, versos por ele mesmo, em Chico Xavier, O Primeiro Livro.

23 junho 2023

Assunto de liberdade


"Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de servidão." - Paulo. (Gálatas, 5:1) 

Importante pensar como terá Jesus promovido a nossa libertação.
O divino Mestre não nos conclamou a qualquer reação contra os padrões administrativos na movimentação da comunidade, nem desfraldou qualquer bandeira de reivindicações exteriores.
Jesus unicamente obedeceu às Leis Divinas, fazendo o melhor da própria vida e do tempo de que dispunha, em benefício de todos.
Terá tido lutas e conflitos no âmbito pessoal das próprias atividades. Afeições incompreensíveis, companheiros frágeis, adversários e perseguidores não lhe faltaram; nada disso, porém, fê-lo voltar-se contra a hierarquia ou contra a segurança da vida comunitária.
Por fim, a aceitação da cruz lhe assinalou a obediência suprema às Leis de Deus.
Pensa nisto e compreendamos que o Cristo nos ensinou o caminho da libertação de nós mesmos.
Dever observado e cumprido mede o nosso direito de agir com independência.
Não existe liberdade e respeito sem obrigação e desempenho.
Meditemos na lição para não cairmos de novo sob o antigo e pesado jugo de nossas próprias paixões.

Espírito Emmanuel, do livro Ceifa de Luz, psicografado por Chico Xavier.

Receita para melhorar


Dez gramas de juízo na cabeça.
Serenidade na mente.
Equilíbrio dos raciocínios.
Elevação nos sentimentos.
Pureza nos olhos.
Vigilância nos ouvidos.
Lubrificante na cerviz.
Interruptor na língua.
Amor no coração.
Serviço útil e incessante nos braços.
Simplicidade no estômago.
Boa direção dos pés.

—Uso diário em temperatura de boa vontade.

Espírito José Grosso, do livro Cartas do Coração, psicografado por Chico Xavier.

22 junho 2023

Palavras


“Da mesma boca procede bênção e maldição”. Tiago, 3:10.

Nunca te arrependerás:
De haver ouvido cem frases, pronunciando simplesmente uma ou outra pequenina observação.
De evitar o comentário alusivo ao mal, qualquer que seja.
De calar a explosão da cólera.
De preferir o silêncio nos instantes de irritação.
De renunciar aos palpites levianos nas menores controvérsias.
De não opinar em problemas que te não dizem respeito.
De esquivar-te a promessas que não poderias cumprir.
De meditar muitas horas sem abrir os lábios.
De sorrir somente sobre desilusões e amarguras.
De fugir às reclamações de qualquer natureza.
De estimular o bem sob todos os prismas.
De pronunciar palavras de perdão e bondade.
De explanar sobre o otimismo, a fé e a esperança.
De exaltar a confiança no Céu.
De ensinar o que seria útil, verdadeiro e santificante.
De prestar informações que ajudem os outros.
De exprimir bons pensamentos.
De formular apelos à fraternidade e à concórdia.
De demonstrar benevolência e compreensão.
De fortalecer o trabalho e a educação, a justiça e o dever, a paz e o bem, ainda mesmo com sacrifício do próprio coração.
Examina o sentido, o modo e a direção de tuas palavras, antes de pronunciá-las.
Da mesma boca procede a bênção ou a maldição para o caminho.

Espírito Emmanuel, do livro Cartas do Coração psicografado por Chico Xavier.

Assunto nosso


Afirmas que o mundo é mar
De abismos, trevas e escolhos;
Conserva, por isso mesmo,
A caridade nos olhos.

Suplicas esquecimento
Da mágoa em que tens vivido:
Guarda cautela, aplicando
A caridade no ouvido.

Desejas larga distância
Da falta maldosa e oca…
Cultua, quanto puderes,
A caridade na boca.

Pretendes largar, de todo,
Tristezas e laços vãos,
Cultiva, além do dever,
A caridade nas mãos.

Queres que os outros te vejam,
Coração nobre quanto és,
Atende, em questões de rumo.
À caridade os pés.

Sonhas banir da família
Rixa, contenda, pesar…
Inicia, praticando
A caridade no lar.

Ensinas beneficência,
Ante a penúria indefesa,
Mas não olvides pregar
A caridade na mesa.

Exiges a estima alheia
Que os empeços atenua,
Emprega, constantemente,
A caridade na rua.

Se indagássemos do Cristo
Como achar felicidade,
Jesus, decerto, diria:
—Caridade, caridade…

Espírito Casimiro Cunha, do livro Caridade, psicografado por Chico Xavier.

21 junho 2023

Um quadro de lágrimas


Visitamos, ontem, com alguns amigos, um pequeno, de doze a treze anos de idade, em cidade próxima. Mudo e completamente inibido na vida mental, apenas chora e emite sons ininteligíveis.
De volta ao lar, ainda impressionados com a prova dessa criança em grande luta espiritual, reunimo-nos em prece. Ligeiro culto de oração, recordando o quadro de lágrimas que víramos. O Livro dos Espíritos ofereceu-nos a questão 371.
Depois da leitura e rápidos comentários, o poeta Epiphanio Leite trouxe-nos o soneto “Gênio Enfermo”, em clara correlação com o problema do menino em sofrimento.

Francisco Cândido Xavier.

Gênio enfermo


(Versos ao culto amigo que espalhava ateísmo e violência, através da palavra falada e escrita, na última década do século XVIII, suscitando rebeldia e delinquência, e que, presentemente reencontrei, na condição de espírito em reajuste, na provação da idiotia.)

Lembro-te, caro amigo… O gênio agindo às cegas,
Lanças violência e fel nas multidões que arrastas.
Ouço-te na memória as negações nefastas…
Escreves e destróis… Falas e desagregas…

Quanto crime a surgir dos princípios que pregas! …
Um dia, vem a morte ao campo que desgastas…
No Além, sofres a culpa de que não te afastas,
Rogas socorro ao Céu nos grilhões que carregas…

Agora te reencontrei em aldeia remota.
Habitas outro corpo e choras mudo e idiota…
Ah! Quanto sinto a luta em que te vejo imerso! …

Mas louva a provação que te aponta o futuro.
Na dor, terás de novo o pensamento puro,
Refletindo, em ti mesmo, as bênçãos do Universo.

Espírito Epiphanio Leite, do livro Caminhos de Volta, psicografado por Chico Xavier.

Dar


“E dá a qualquer que te pedir; e, ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir.” — Jesus. (Lucas, 6: 30.)

O ato de dar é dos mais sublimes nas operações da vida; entretanto, muitos homens são displicentes e incompreensíveis na execução dele.
Alguns distribuem esmolas levianamente, outros se esquecem da vigilância, entregando seu trabalho a malfeitores.
Jesus é nosso Mestre nas ocorrências mínimas. E se ouvimo-lo recomendando estejamos prontos a dar “a qualquer” que pedir, vemo-lo atendendo a todas as criaturas do seu caminho, não de acordo com os caprichos, mas segundo as necessidades.
Concedeu bem-aventuranças aos aflitos e advertências aos vendilhões.
Certo, os mercadores de má-fé, no íntimo, rogavam-lhe a manutenção do “status quo”, mas sua resposta foi eloquente. Deu alegrias nas bodas de Caná e repreensões em assembleias dos discípulos. Proporcionou a cada situação e a cada personalidade o que necessitavam e, quando os ingratos lhe tomaram o direito da própria vida, aos olhos da Humanidade, não voltou o Cristo a pedir-lhes que o deixassem na obra começada.
Deu tudo o que se coadunava com o bem. E deu com abundância, salientando-se que, sob o peso da cruz, conferiu sublime compreensão à ignorância geral, sem reclamação de qualquer natureza, porque sabia que o ato de dar vem de Deus e nada mais sagrado que colaborar com o Pai que está nos céus.

Espírito Emmanuel, do livro Caminho, Verdade e Vida, psicografado por Chico Xavier.

20 junho 2023

Tranquilizante


Não são os problemas da vida em si que nos agravam a tensão nervosa. São as questões satélites que nascem de nossas dificuldades para aceitá-los.

Quantas vezes, pervagamos na Terra, sofrendo emoções desequilibradas, diante de companheiros queridos que não desejam, por agora, o nosso modo de ser? E em quantas outras nos atormentamos inutilmente perante obstáculos complexos que claramente não nos será possível liquidar em apenas um dia?

Entretanto, observemos:
Enfermidades aparecerão sempre no mundo, pedindo tratamento e não inconformidade para as melhoras precisas;
Entes amados em luta são telas de rotina, solicitando entendimento e não atitudes condenatórias para alcançarem o reequilíbrio;
Erros nossos e faltas alheias fazem parte do nosso aprendizado na escola da experiência, exigindo calma e não censura para serem retificados;
Tentações são inevitáveis, em todos os sentidos, nos climas de atividade indispensáveis à nossa formação de resistência, reclamando serenidade e não agitação para serem extintas.

Em todas as situações aflitivas, use a prece como sendo o nosso melhor tranquilizante no campo do espírito.
E quando problemas apareçam não se deixe arrastar nas labaredas da angústia. Você pode ficar em paz. Para isso, basta que você trabalhe e deixe Deus decidir.

Espírito André Luiz, do livro Busca e Acharás, psicografado por Chico Xavier.

Bilhete fraterno


Meu amigo, prossigamos
No trabalho, dia a dia,
Procurando com Jesus
A verdadeira alegria.
 
Se no caminho despontam
Problemas a resolver,
Perseveremos no bem
Cumprindo o nosso dever.

A dor faz parte da vida…
Ninguém vive sem lutar,
Mas é feliz quem já sabe
Esquecer e perdoar.

Incompreensões? Dissabores?
Não desistas de servir.
Silencia e segue em frente
Na construção do porvir.

Amanhã, após a noite,
Que a morte impõe aos teus passos,
Encontrarás, redivivo,
O Cristo a estender-te os braços!

Espírito Casimiro Cunha, do livro Brilhe Vossa Luz, psicografado por Chico Xavier.

19 junho 2023

Progresso e amor


A caridade jamais acaba. - Paulo. (I Coríntios. 13:8.)

Mais atenção para os fenômenos da vida e verificaremos a instabilidade de todos os processos de aperfeiçoamento a que se lhe atrela o carro evolutivo, com exceção do amor que lhe sustenta as bases eternas.
Muitas vezes se afligem os cultivadores da fé perante os exotismos que surgem nos caminhos do povo, nos tempos de mais intensiva renovação.
Obviamente é preciso guardar a chama da confiança em Deus, com absoluta fidelidade às leis do Bem Eterno, a cavaleiro de quaisquer extravagâncias que alguém nos queira impingir; todavia, com a nossa lealdade ao Senhor é forçoso não conturbar a nossa tarefa com receios pueris.
A caridade jamais acaba, asseverou o apóstolo Paulo, guiado pela Inspiração Divina.
Remontemos ao passado e observaremos, com apoio na História, que as definições propriamente humanas sofrem transformações incessantes.
Leis terrestres, com exceções, são muito diferentes de século para século.
A Ciência é sempre clara no propósito de acertar, mas é um quadro de afirmações provisórias, lidando incessantemente caminho de mais amplos contatos com os princípios que regem as atividades do Universo.
A cultura intelectual assemelha-se a largo movimento de ideias que procura esquecer a maior parte das concepções que valorizava ontem, para lembrar o que precisa estudar hoje, de modo a atingir o que deve ser amanhã.
A arte modifica-se de época para época.
Progresso, na essência, é mudança com alicerces na experimentação.
Tudo, na superfície da vida, é transformação permanente, mas por dentro dela vige o amor invariável.
Não te assustes, assim, diante das inovações que caracterizam o espírito humano, insatisfeito e irrequieto, até que obtenha a madureza necessária à frente do Mundo e do Universo.
Cultiva o amor que constrói e ilumina, na esfera de cada um de nós, para a imortalidade, de vez que, enquanto aparecem e desaparecem as inquietações humanas, a caridade jamais acaba.

Espírito Emmanuel, do livro Bênção de Paz, psicografado por Chico Xavier.

18 junho 2023

Algum serviço


Não afirmes que a vida na Terra se constitui unicamente de provas e sofrimentos.
A escola expõe o desafio das lições, mas é sempre lembrada por celeiro de alegrias inesquecíveis.
Observa e descobrirás a Bondade Eterna selando a vida em toda parte.
Existem montanhas ásperas, no entanto, em seguida a cada uma habitualmente se estende a planície por imenso tapete de relva.
O espinheiral esconde farpas, mas oferece rosas.
O pântano é uma chaga no solo, porém, a fonte é uma bênção.
A argila pode ser considerada na condição de barro obscuro, entretanto, quando devidamente trabalhada se faz o tesouro da porcelana.
Desafetos costumam surgir, contudo, cada coração verdadeiramente amigo vale muito mais que a multidão dos adversários.
Cada lágrima que se verte ou que se vê está cercada por milhões de sorrisos.
Por vezes, repontam gritos de desespero, entre as criaturas, no entanto, ninguém conseguirá contar as preces de paz e amor que se elevam, cada dia, da Terra para os Céus.
Em determinadas ocasiões, crises e conflitos explodem no caminho, porém, as horas de tranquilidade e esperança, regozijo e beleza são inumeráveis no curso de cada existência.
Quando a tribulação te bata à porta responde com a paz que possas articular.
Deus criou todas as instalações e vantagens, suportes e benefícios que sustentam a vida e garantem o equilíbrio do mundo, mas há sempre, em nosso próprio favor, algum serviço que nos compete fazer.

Espírito Meimei, do livro Aulas da Vida, psicografado por Chico Xavier.

17 junho 2023

Carta de irmão


Meu amigo, se procuras
A Nova Revelação,
Não menosprezes, na Terra
A própria renovação.

Curiosidade é caminho,
Mas a fé que permanece
É construção luminosa
Que só o trabalho oferece.

A dúvida honesta e nobre
Tem a sua recompensa,
Mas, sem auxílio a ti mesmo,
Não terás a luz da crença.

Conheço-te as aflições,
As ansiedades, as dores…
E reconheço-te a fuga
Nos planos exteriores.

Inventas preocupações,
Carregas fardos mentais,
Multiplicas fantasias
Dos sentidos corporais.

Complicando os teus deveres,
Tentando domínio inglório,
Padeces atormentado,
Na sede do transitório.

E vens pedir, pressuroso,
Soluções claras e extremas,
Contudo, os desencarnados
Não resolvem teus problemas.

Fenômeno para os olhos
Tomados à luta alheia,
Na maioria, não passam
De castelos sobre a areia.

Antes de tudo, é preciso
Que ilumines a razão,
Buscando purificar
O cérebro e o coração.

Volta, pois ao teu caminho,
Faze o bem. Evita o mal.
Encontrarás em ti mesmo
A vida espiritual.

Nada vale observar
Nas estradas da existência
Sem valor positivo
Da luta e da experiência.

Espiritismo é uma escola
De vida, Verdade e Luz,
Que reclama do aprendiz
A aplicação com Jesus.

Espírito Casimiro Cunha, do livro Através do Tempo, página recebida por Chico Xavier, em 25.8.1945.

Necessidade de ação


Os casos particulares não me permitem ser demasiado extenso, mas não me furto ao desejo de vos dizer duas palavras, corroborando a explanação elucidativa junto das preces da noite.

Espiritismo, filhos, é luz, e é necessário que cada um daqueles que o abraçam procure brilhar, testemunhando a sua claridade.
As nossas mensagens, a possibilidade de comunicação entre os dois mundos, são permitidas por Deus, a fim de que o homem vislumbre as realidades espirituais, aplicando-as à sua passageira vida na Terra.
É necessário cessar a época do verbalismo vazio.
Há muitos séculos a humanidade tem vivido uma época de pura predicação sem exemplos.
O que temos visto em todos os tempos?
Tribunas, púlpitos, livros, prolixidade de pedagogia gratuita, dentro de uma multiplicidade assombrosa de demagogos e de arautos.
Chegaram os tempos da iniciativa própria, do esforço pessoal em favor da iluminação consciencial do indivíduo, perdido no oceano da coletividade.
Cada homem deve e pode possuir qualidade autodidata.
Os espíritas necessitam compreender essa necessidade de ação no campo individual.
Ação essa que se irradiará naturalmente para o mundo largo das sociedades.
Sem o esforço nada se terá feito.
As obras de caridade material têm sido edificadas pela Igreja Católica.
Seus hospitais, seus orfanatos, suas freiras, seus conventos, onde se efetuam sopas a pobres e recolhimento dos desvalidos, estão por toda parte.
O que os espíritas não estão percebendo é que a eles compete organizar sua consciência verdadeiramente cristã nessa civilização da fome e da febre do ouro.
É preciso que se arregimentem os exemplos de predicações pelos atos, trabalhando e enfrentando corajosamente as penúrias da vida, sem estagnação, sem fanatismo, sem recuos para épocas primitivas do pensamento.
É doloroso que sejamos mentalidades que deveriam estar afinadas em obras evangélicas, perdidas no lábaro ingrato de doutrinações inoportunas e desnecessárias.
Os espíritas precisam saber que obras materiais não faltam no mundo, os grandes colossos de pedra assombram as iniciativas dos mais ousados.
Eles ficaram, de fato, com o apostolado da pobreza do Humilde de Assis na restauração do cristianismo, mas compete-lhes fornecer com os seus exemplos na ação, na tolerância, no trabalho, no esforço, na piedade e na resignação, uma alma a esses gigantes de alvenaria.
Faz-se necessário dar calor às cátedras imensas e frias. E esse calor só poderá nascer da fé realizadora e ativa, que trabalha e opera, longe de qualquer cristalização teórica.
O tempo da palavra vazia passou.
O tempo atual é dos atos.
Aliemos os nossos esforços e trabalhemos.
Precedamos qualquer ensinamento com um exemplo de ordem pessoal.
O mundo está intoxicado pela generalização da cultura sem base, sem bússola, sem norte espiritual.
Aprendamos e pratiquemos, trabalhando, laborando com o nosso desprendimento, sem nos fanatizarmos, dentro das atividades que nos cabe desenvolver e dentro da tarefa que nos cabe desempenhar.

Se emprego o "nós", nestes meus apelos é que também aqui não descansamos.
Não estamos inativos.
A luta é condição primordial de qualquer conquista.
Aprendamos com Jesus e coloquemos ao seu serviço toda a nossa boa vontade.

Espírito Emmanuel, do livro Ação, Vida e Luz, psicografado por Chico Xavier.

16 junho 2023

Alegria e Esperança


Beneficência é também viver corajosamente com esperança e alegria.
Pensa nos acidentados da alma.
Os que foram atropelados pelas grandes provações nem sempre se reconhecem tão fortes, a ponto de te dispensarem o socorro espiritual.
Caminha reerguendo os corações caídos em tristeza e desânimo.
Rearticula a fé nos companheiros que se perderam do rumo. Se algum deles se marginaliza, auxilia-o a reajustar-se na trilha certa.
Estende as mãos aos que se imobilizaram no sofrimento para que retomem o trânsito natural de quantos se dirigem para a frente.
Para isso, lembra-te de esquecer os argumentos amargos e as reminiscências infelizes.
Fala no bem, encaminha-te para o futuro, interpreta com a luz do amor os acontecimentos da vida e eleva os assuntos para os cimos da compreensão.
Dispões do olhar de simpatia, do entendimento fraterno, do sorriso amistoso, da palavra benevolente; reaquece a confiança nos irmãos que esmorecem ao contato dos problemas do mundo e ajuda-os a refletir na Bondade Divina que nos acolhe a todos.
Não te detenhas.
Caminha avivando a chama da alegria por onde passes.
Se não trazes contigo fontes de consulta capazes de renovar-te os conhecimentos nem podes ouvir, de imediato, os Mentores da Sabedoria que te reformulem o verbo para a exaltação do bem, medita contigo mesmo e perceberás que da erva esquecida no campo aos sóis que resplendem no Espaço Cósmico, tudo te falará de alegria e de esperança na Criação de Deus.

Espírito Emmanuel, do livro Algo Mais, psicografado por Chico Xavier.

Ao companheiro da redenção


Peregrino da dor que regenera,
Humilhado nas pedras do caminho,
Ergue teus olhos ao celeste ninho
E arrimado no amor confia e espera…

Além da poda que é flagelo à vida,
Fulgem messes divinas de fartura.
E além das aflições da noite escura
Surge a aurora de paz indefinida.

Toda vitória sobre a natureza
Reclama sacrifício, mágoa e luta…
Aos golpes do buril, a pedra bruta
Conquista a glória e o brilho da beleza.

Assim, pois, o obstáculo e o problema,
O infortúnio, a miséria, a angustia e a prova
São recursos de acesso à vida nova,
Portas abertas para a luz suprema.

Segue, assim, tua senda áspera e fria,
Louvando a cruz que te lacera os ombros,
Depois do fel de todos os escombros,
Penetrarás o templo da alegria.

Espírito Carmem Cinira, do livro Através do Tempo. Psicografia de Chico Xavier.

15 junho 2023

Aos divorciados


Decisão assumida é caminhar para a frente, realizando o melhor ao nosso alcance para a felicidade e a paz do grupo familiar que o Senhor nos confia. Oremos, identificando-nos com os protetores da Vida Maior que nos renovarão as energias para o caminho a percorrer.
 
Espírito Bezerra de Menezes, do livro Apelos Cristãos, psicografado por Chico Xavier.

Ao irmão afastado


Dizes-te, por vezes, sob desalento e cansaço e que já não consegues abraçar qualquer tarefa na seara do bem.
Entretanto, no íntimo, a voz da consciência te convida a olvidar desenganos, apagar ressentimentos, varrer amarguras e renovar a própria existência.
O estranho diálogo de ti para contigo prossegue, adentro de ti mesmo e respondes que sofrestes decepções, que não encontraste clima adequado à execução das tuas aspirações de ordem superior, que te desencantastes com amigos desorientados em matéria de espiritualidade, e, de outras vezes te acusas por erros e quedas, dos quais não te sentes com a precisa coragem de levantar.
Ainda assim, deixa que a consciência te fale ao coração e reergue-te para as atividades do bem.

Qualquer desilusão é apelo à realidade e toda vez em que nos reconhecemos em desacerto, isso é sinal de que estamos progredindo em discernimento.

Não permitas que a ideia de fracasso anule os créditos de tempo, em tuas mãos. Não abandones a certeza de que podes trabalhar e servir, auxiliar e melhorar, renovar e reconstruir.

Se o desânimo te congelou os ideais, acende a chama da esperança, no próprio coração e reinicia a cooperação, nas obras construtivas, das quais te afastaste, impensadamente. Se paraste na trilha do progresso, retoma a própria marcha, em demanda ao alvo por atingir.

Não acredites em derrota e nem te admitas incapaz de ser útil.
Esquece agravos, preterições, ressentimentos e tristezas inúteis, buscando caminho à frente.

Se a Divina Providência não acreditasse em tua capacidade de elevação e refazimento, já teria cassado as tuas possibilidades de serviço na Terra.

Pensa na vida imperecível e oferece uma nova oportunidade a ti mesmo, procurando reaprender e recomeçar.

Espírito Emmanuel, do livro Amigo, psicografado por Chico Xavier.

14 junho 2023

Obter


Muitos rogam chorando.
E muitos recebem sorrindo as concessões que solicitam do Celeste Poder.
Entretanto, é preciso não olvidar os compromissos que a dádiva envolve em si mesma.

Na vida comum disputamos determinada posição de serviço, não somente para amealhar os vencimentos que lhe digam respeito, mas, também, para trabalhar, fazendo jus ao salário ganho.

Uma planta simples recebe, do horticultor, cuidados especiais não apenas para adornar a paisagem, mas, igualmente, para produzir, valorizando-lhe o suor e o celeiro.
É imprescindível, assim, meditar nas responsabilidades das bênçãos que entesouramos.

Rogamos ao Céu a prerrogativa da saúde e o equilíbrio físico nos enriquece a existência, entretanto, chegará o dia em que a Divina Contabilidade nos examinará as experiências.

Pretendemos dignificar a personalidade com títulos que nos aformoseiem a condição social e as forças intangíveis das Esferas Superiores nos auxiliam, através de mil modos, na aquisição deles.
No entanto, surgirá o momento em que seremos convocados à prestação de informes sobre o aproveitamento edificante da oportunidade que nos foi concedida.

É justo pedir sempre.
E é natural receber sempre mais.
Todavia, a Lei Sábia e Justa nos espreita os passos e os movimentos, de vez que se há tempo de emprestar, há também tempo de ressarcir.

Vejamos, pois, que fazemos da riqueza de luz, a expressar-se na fé renovadora e reconfortante que nos ampara atualmente os destinos.

Ontem, antes da presente romagem evolutiva, éramos órfãos de paz e segurança, vagueando no turbilhão das sombras a que relegamos o próprio espírito pela delinquência multissecular, mas, o Senhor assinalando-nos as súplicas, reformou-nos os títulos de trabalho, em favor de nosso próprio aperfeiçoamento.

Somos servos privilegiados com valioso empréstimo de dons sublimes.
Abstenhamo-nos, desse modo, da perda de tempo e ataquemos a tarefa que nos compete atender.

Hoje, brilha conosco o ensejo de auxiliar, aprender, amar, perdoar, sublimar e redimir…
Não nos esqueçamos, porém, de que as horas voam apressadas e de que Amanhã, a Lei nos tomará contas do serviço realizado, porque obter, na Terra ou no Céu, exige fazer e resgatar.

Espírito Emmanuel, do livro Alvorada do Reino, psicografado por Chico Xavier.

Renovação


Suspirava pela nomeação para o cargo público que lhe daria quarenta mil cruzeiros por mês. Conquistara o diploma de bacharel. Numa noite, acalentando o desejo de instituir várias obras de beneficência em favor da Humanidade sofredora, Raimundo Perez orava, extático.
Queria subir. Desvencilhar-se do corpo físico.
Entraria em contacto com a Esfera Superior e formularia a súplica que acalentava no íntimo.
Aspirava ao título de benemérito no campo da doutrina que professava.
Mas precisava de dinheiro. Muito dinheiro.
Quem sabe? Somente os Espíritos superiores poderiam dissolver as dificuldades que se lhe antepunham ao grande intento, e pensava:
— “Nomeado com os vencimentos de quarenta mil cruzeiros mensais, poderia encontrar o necessário começo… Em seguida, ganharia influência, atrairia poderosos, escalaria a montanha do ouro e granjearia importância política para cumprir a missão…”
Embalado em deliciosas miragens, Perez dormiu e viu-se efetivamente desligado da máquina corpórea.
Reconheceu-se subindo, subindo… até que se viu em amplo salão, à frente de nobre instrutor que o recebeu entre bondoso e severo.
A breves momentos inteirou-se de toda a situação.
Alcançara grande instituto do Plano Superior, que supervisionava várias tarefas espíritas na esfera dos homens.
Contudo, não era ali o único visitante.
Em torno, enorme multidão. Muitas vozes, muita gente.
Alguém, mais categorizado que ele mesmo para pedir, ergueu-se diante do benfeitor e, com sublime sinceridade, rogou informes sobre a razão de tantos fracassos entre os companheiros do Espiritismo, na Terra.
Era um missionário da verdadeira fraternidade, buscando piedosamente recursos de amparo moral para os próprios irmãos na fé.
Ninguém ousou adiantar-se-lhe aos rogos.
A petição era comovente demais para que outros requerimentos lhe tomassem a dianteira.
Foi então que o generoso mentor tomou a palavra e falou com franqueza:
— “Com base em inúmeros dados estatísticos colhidos junto aos nossos companheiros na Terra, podemos esclarecer que grande número dos profitentes do Espiritismo, na carne, tem fracassado devido às seguintes atitudes:
— Querem dinheiro e dominação…
— Querem autoridade e influência…
— Querem saúde física perfeita…
— Querem a compreensão alheia integral…
— Querem as mais altas concessões da mediunidade, sem esforço para obtê-las…
Tudo isto porque se esquecem de que, na Terra, devemos estar cientes do ensino de Jesus, que afirmou categórico, quando esteve na carne: — “Meu reino não é deste mundo.”
O benfeitor teceu ainda algumas considerações sobre o tema e, ao acabar de falar, Raimundo sentiu-se desamparado em si mesmo.
Guardava a sensação de quem via o solo a fugir-lhe dos próprios pés.
E sentindo-se cair… do alto, de muito alto… E acordou.
Identificara-se, mas visceralmente transformado.
Conservava a impressão de prosseguir envergonhado de si mesmo.
Acompanhou a mãezinha ao mercado, ajudando-a, prestativo. Não mais falava na sua nomeação com o entusiasmo anterior, e a palavra dinheiro passou a ter, para ele, importância bem secundária.
À vista de tudo isto, Dona Conceição, a genitora, chamou os dois filhos mais velhos a longa conversação e assentaram juntos que um psiquiatra devia ser consultado.
Anotando a súbita renovação de Raimundo, todos os familiares julgaram que o pobre rapaz ficara perturbado da razão…

Espírito Hilário Silva, do livro Almas em Desfile, psicografado por Chico Xavier.

13 junho 2023

Consulte o Bem


O maledicente desejará que você observe, tanto quanto ele, o lado desagradável da vida alheia.
A criatura vacilante e frágil esperará que suas forças sejam quebradiças.
O discutidor aguardará seu comparecimento às disputas, a propósito de tudo e de todos.
O ingrato não se alegrará em vê-lo reconhecido aos outros.
O personalista não se regozijará, identificando-lhe o respeito aos adversários.
O revoltado tentará afivelar a máscara da rebeldia ao seu rosto.
O incompreensível procurará mergulhar sua mente no fundo das perturbações.
O neurastênico pedir-lhe-á não sorrir.
O insensato reclamará sua adesão à loucura.

O homem imperfeitamente espiritualizado sempre busca igualar os semelhantes a si mesmo. Lembre-se, contudo, de que você é você, com tarefa original e responsabilidades diferentes e, se pretende a felicidade real, não deve esquecer a consulta aos padrões do bem, com o Cristo, em todas as horas de sua vida.
 
Espírito André Luiz, do livro Agenda Cristã, psicografado por Chico Xavier.

Realeza


A realeza como dignidade na Terra não é privilégio dos reis ou dos condutores de nações.
Em toda parte, há uma realeza no trabalho que nos exorna o caráter, quando nos afeiçoamos às obrigações que o Céu nos confia.
Decerto, semelhante nobilitação não atinge os brutos que ainda se movimentam na animalidade primitivista.
Entretanto, à medida que se destaca o espírito na esfera da inteligência bem conduzida, vê-lo-emos receber do Alto o cetro da respeitabilidade no setor de serviço em que atua ou na profissão que domina.
O chefe de família aguarda a realeza da governança doméstica, tanto quanto o coração maternal se coroa com a realeza do amor na criação dos filhinhos.
O sacerdote de qualquer confissão religiosa edificante ostenta nas mãos o símbolo da fé viva e da autoridade espiritual, tanto quanto o soldado enobrecido detém o bastão da ordem.
O magistrado é portador da realeza da justiça, tanto quanto o médico conserva a soberania da arte de curar.
Há realeza de todas as procedências…  
Realeza da mulher que se faz mãe de filhos alheios e realeza do homem que se transforma em irmão do próximo na plantação da fraternidade pura.
A pena do escritor é sinal de grandeza no mundo das ideias para o homem que se consagra à extensão do bem, como a vassoura é característica de nobreza, no asseio público, para o companheiro que se devota à higiene, em benefício geral.
Não nos esqueçamos, porém, de que a realeza não nasce do título que exibimos nas afirmativas convencionais, mas sim da maneira pela qual nos utilizamos das possibilidades de servir que repousam em nossa mente, em nosso coração, em nossas palavras e em nossos braços.
Onde estiveres, honra a confiança do Altíssimo que te confiou o refúgio do lar, a beleza da escola, o calor da oficina ou o talento da profissão a que te dedicas.
Angariar a gratidão dos que te cercam, pelo dever irrepreensivelmente cumprido, é guardar na existência terrestre a Magnitude Celestial.
Engrandece-te, assim, onde te encontras…  
E, ainda mesmo que não sejas compreendido, de imediato, por todos aqueles a cuja felicidade te devotas, retém sobre a fronte a auréola da paz, no aconchego da consciência tranquila, porque a justiça vigilante te acompanha do Alto, verificando-te o esforço e premiando-te o mérito, qual aconteceu, um dia, ao Rei da Luz e do Amor em Seu Trono de sangue e lágrimas, coroado de espinhos.

Espírito Emmanuel, do livro A Verdade Responde, psicografado por Chico Xavier.

12 junho 2023

Abençoa sempre


Seja onde for, abençoa para que a benção dos outros te acompanhe.
Todas as criaturas e todas as cousas te respondem, segundo o toque de tuas palavras ou de tuas mãos.
Abençoa teu lar com a luz do amor, em forma de abnegação e trabalho, e o lar abençoar-te-á com gratidão e alegria.
Abençoa a árvore de tua casa com a dádiva e teu carinho e a árvore de tua casa abençoar-te-á com o perfume da flor e com a riqueza do fruto.
Se amaldiçoas, porém, o companheiro de cada dia com o azorrague da censura, dele receberás a mágoa e a desconfiança.
Se condenas o animal que te partilha o clima doméstico à fome e à flagelação, dele obterá rebeldia e aspereza.
Em verdade, não podes abençoar o mal, a exprimir-se na crueldade, mas deves abençoar-lhe as vítimas para que se refaçam, de modo a extingui-lo.
Não será justo abençoes a enfermidade que te aflige, mas é indispensável abençoes o teu órgão doente, para que com mais segurança se reajuste, expulsando a moléstia que, às vezes, te impõe amargura e desequilíbrio.
Não amaldiçoes nem mesmo por pensamento.
A ideia agressiva ou destruidora é corrosivo em nossa boca, sombra em nossos olhos, alucinação em nossos braços e infortúnio em nossa vida.
Abençoa a mão que te fere e a mão que te fere aprenderá como se eximir da delinquência.
Abençoa o verbo que te insulta e evitarás a extensão do revide.
Abençoa a dificuldade e a dificuldade revelar-te-á preciosas lições.
Abençoa o sofrimento e o sofrimento regenerar-te-á.
Abençoa a pedra e a pedra servirá na construção.
Não olvides o Divino Mestre da Bênção.
Jesus abençoou a Manjedoura e dela fez o berço luminoso do Evangelho nascente; abençoou a Pedro, enfraquecido e vacilante, transformando-o em vigoroso pescador de almas; abençoou a Madalena obsidiada e nela plasmou o sinal da sublimação humana; abençoou Lázaro, cadaverizado, e devolveu-lhe a vida; e, por fim, abençoou a própria cruz, nela esculpindo a vitória da ressurreição imperecível.
Abençoa a Terra, por onde passes, e a Terra abençoara a tua passagem para sempre.

Espírito Scheilla, do livro Visão Nova, psicografado por Chico Xavier.

De ânimo forte


“Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, amor e moderação.” - Paulo. (II Timóteo, 1:7.)

Não faltam recursos de trabalho espiritual a todo irmão que deseje se reerguer, aprimorar-se, elevar-se.
Lacunas e necessidades, problemas e obstáculos desafiam o espírito de serviço dos companheiros de fé, em toda parte.
A ignorância pede instrutores, a dor reclama enfermeiros, o desespero suplica orientadores.
Onde, porém, os que procuram abraçar o trabalho por amor de servir?
Com exceções, observamos, na maioria das vezes, a fuga, o pretexto, o retraimento.
Aqui, há temor de responsabilidade; ali, receios da crítica; acolá, pavor de iniciativa a benefício de todos.
Como poderá o artista fazer ouvir a beleza da melodia se lhe foge o instrumento?
Nesse caso, temos em Jesus o artista divino e em nós outros, encarnados e desencarnados, os instrumentos dEle para a eterna melodia do bem no mundo.
Se algemamos o coração ao medo de trabalhar em benefício coletivo, como encontrar serviço feito que tranquilize e ajude a nós mesmos? Como recolher felicidade que não semeamos ou amealhar dons de que nos afastamos suspeitosos?
Onde esteja a possibilidade de sermos úteis, avancemos, de ânimo forte, para a frente, construindo o bem, ainda que defrontados pela ironia, pela frieza ou pela ingratidão, porque, conforme a palavra iluminada do apóstolo aos gentios, “Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, amor e moderação”.

Espírito Emmanuel, do livro Vinha de Luz, psicografado por Chico Xavier.

11 junho 2023

Deus sabe


Deus conhece, em verdade,
Todos os sofrimentos.

Não acuses ninguém
Pela dor que há nas ruas.

Não agraves a luta
Das crianças sem lar.

Não faças julgamento
De supostos culpados.

O que o Céu quer saber
É o que fazes no bem.

Não condenes, ampara.
Deus acredita em ti.

Espírito Emmanuel, do Livro Tocando o Barco, psicografado por Chico Xavier.

Reuniões Sociais


A reunião social numa instituição ou no lar, deve sempre se revestir do espírito de comunhão fraterna.
Sempre que o espinho da maledicência repontar nas flores do entendimento amigo, procure isolá-lo em algodão de bondade, sem desrespeitar os ausentes e sem ferir aos que falam.
As referências nobres sobre pessoas, acontecimentos, circunstâncias e cousas são sempre indícios de lealdade e elegância moral.
Ignore, em qualquer agrupamento, quaisquer frases depreciativas que sejam dirigidas a você, direta ou indiretamente.
Evite chistes e anedotas que ultrapassem as fronteiras da respeitabilidade.
Ante uma pessoa que nos esteja fazendo o favor de discorrer sobre assuntos edificantes, não cochiche nem boceje, que semelhantes atitudes expressam ausência de gabarito para os temas em foco.
Nunca desaponte os demais, retirando-se do recinto em que determinados companheiros estão com a responsabilidade da palavra ou com o encargo de executar esse ou aquele número artístico.
As manifestações de oratória, ensinamento, edificação ou arte exigem acatamento e silêncio.
Jamais rir ou fazer rir, fora de propósito, nas reuniões de caráter sério.
Aproveitar-se, cada um de nós, dos entendimentos sociais para construir e auxiliar, doando aos outros o melhor de nós para que o melhor dos outros venha ao nosso encontro.

Espírito André Luiz, do livro Sinal Verde psicografado por Chico Xavier.

10 junho 2023

Formação mediúnica


Anotando a formação mediúnica, comparemo-la aos serviços do solo.
A terra desdobra recursos para sustentação do corpo.
A mediunidade cria valores para alimento do espírito.

A terra, mesmo quando possuída pela floresta brava, produz, de maneira mecânica, se lhe atiramos algumas sementes; contudo, a lavoura, nesse regime, surgirá em condições anômalas.
A mata dominante abafará, decerto, as plantas nascituras.
Animais comparecem na posição de primitivos donos da gleba, injuriando-lhes as folhas.
Vermes destruidores ameaçam-nas, a cada instante. Enxurrada e sombra constantes constituem-lhes empeço à vida.
Mas se o trato da selva for cultivado contra a invasão de todo elemento estranho e mantido em trabalho, conseguiremos, em breve, o celeiro de pão, seguro e rico.
Também a mediunidade, mesmo quando encravada no psiquismo de alguém que paixões subalternas dominam, produz, de maneira mecânica, quando se lhe entrega determinado gênero de ação; contudo, a tarefa, nesse regime, surgirá em condições anômalas.
Tendências infelizes abafarão decerto a obra recém-nata.
Sentimentos inferiores comparecem, na posição de primitivos senhores da alma, inutilizando-lhe as promessas.
Agentes da discórdia ameaçam-na, a cada instante.
Lodo moral e perseguição gratuita constituem-lhe empeço à vida.
Mas se a personalidade mediúnica for educada contra a invasão de toda sombra de ignorância e mantida em serviço, conseguiremos, em breve, o celeiro de luz, seguro e rico.

Não há desenvolvimento mediúnico, para realizações sólidas, sem o aprimoramento da individualidade mediúnica.
No caso da terra, o lavrador será mordomo vigilante. No caso da mediunidade, o médium será o zelador incansável de si mesmo.
E médium algum se esqueça de que é na terra boa abandonada que a praga e a serpente, o espinheiro e a tiririca proliferam mais e melhor.

Espírito Emmanuel, do livro Seara dos Médiuns, psicografado por Chico Xavier.

Na senda diária


Pensa, pelo menos de quando em quando, nos irmãos que se congelaram em pessimismo e nas grandes tarefas interrompidas, à míngua de amparo, lembrando terras fecundas largadas à esterilidade e ao abandono, por falta de amor.
Ao redor de ti, enxameiam corações sequiosos de entendimento e colaboração, a esperarem quase que unicamente pelo toque mágico de uma palavra boa, a fim de se inflamarem nos dons do serviço.
Não admitas a presença do desânimo à tua mesa de fraternidade e harmonia.
Oferece a quantos te busquem alento e convívio o pão substancioso do entusiasmo que te alimenta as realizações.
Semeia esperança e coragem no solo do espírito.
Recorda a chuva criadora e o orvalho nutriente com que a natureza levanta as energias da Terra e oferece aos outros o melhor de ti mesmo.
O próximo é a nossa ponte para o mundo.
Mostra-te agindo e servindo para a vitória do bem e a tua mensagem será irradiada por todos aqueles que te assinalem o trabalho ou te escutam a voz.
Em toda parte, sentimo-nos à frente da comunidade, à maneira de quem se vê defrontado pela própria família expectante.
Fornece simpatia e admiração, bondade e otimismo.
Beneficência não é tão-só o dispensário de solução aos problemas de ordem material; é também e muito mais, o pronto-socorro à penúria de espírito.
Detém-te a refletir nos companheiros cansados, tristes, desiludidos, desencorajados, abatidos ou exaustos que te cruzam a estrada e distribui com eles a paz e a renovação.
Qual acontece com os outros, tens igualmente a tua obra a realizar e a porta do auxílio abre-se de dentro para fora.
Se alguém precisa de ti, também precisas de alguém.
Dar será sempre o melhor processo de receber.

Espírito Emmanuel, do livro Rumo Certo, psicografado por Chico Xavier.

09 junho 2023

O outro


Se já recolheste migalha de luz, diminui a sombra no outro.
Vê-lo-ás, em toda parte, esperando-te auxílio.
Esse apela para teu pão.
Aquele aguarda a sombra de tua veste.
Esse esmola bagatela de tua bolsa.
Aquele roga um minuto de gentileza.
Entretanto, mais que isso, o outro pede compreensão.
Estava pressionado e feriu-te.
Falava sem pensar e disse a palavra que te magoou.
Superestimou a si mesmo e rolou no charco.
Enlouqueceu e tenta arrastar-te ao desequilíbrio.
Ainda quando te faça perder as últimas forças nas últimas lágrimas, compadece-te dele e ampara sempre.
Se soubesse o que sabes, não seria problema.
Se pudesse sustentar-se, não cairia.
Muitas vezes terá tido o propósito de acertar, mas, perdido no nevoeiro da ignorância, tomou o erro pela verdade.
Estimaria, decerto, sentir como sentes; contudo, ainda não recebeu no caminho as oportunidades que recebeste.
Se te ironiza, oferece-lhe paciência.
Se te ofende, consagra-lhe paciência maior. Ainda mesmo em se mostrando embaraçado no crime, não lhe roubes o testemunho de amizade e esperança, porque amanhã, colhido no esfogueante tribunal do remorso, lembrará teu consolo como gota de bênção.
Se és a vítima, compadece-te ainda mais, porque não desconheces quanta dor há na conta da vida para o verbo que amaldiçoa e para a mão que apedreja.
O outro é pedaço de nossa história, retratista de nossos atos, espelho de nossas aquisições, reflexo de nós mesmos.
Em casa, é quem te comunga a faixa doméstica.
No mundo, é o companheiro de experiência, seja na taça da simpatia ou no gral da aversão.
Desse modo, sempre que impelido ao discernimento do bem, pensa no outro…
Seja quem seja, será sempre a notícia do bem que vibre em tua alma, porque o bem que lhe ofertes é o bem verdadeiro que a Lei te credita no livro da consciência.
A árvore é julgada pelos frutos.
A criatura é vista pelas próprias obras.
Em todos os sucessos que partilhemos, alguém nos carrega a imagem.
Aquilo, pois, que fizeste ao outro, a ti mesmo fizeste.

Espírito Emmanuel, do livro Religião dos Espíritos, psicografado por Chico Xavier.

Ângulos da fé em Deus


Na justiça — misericórdia.
No progresso — proveito.
Na chefia — equidade.
No trabalho — alegria.
Na subalternidade — dever cumprido.
No sofrimento — aceitação.
Nas dificuldades — paciência.
Nas crises — coragem.
Na profissão — honestidade.
Nas tribulações — esperança.
No relacionamento — respeito.
Na tristeza — bom ânimo.
Na enfermidade — calma.
No poder — moderação.
Nas incompreensões — servir mais.
No afeto — equilíbrio.
Na caridade — silêncio.
No lar — sempre amor.
É preciso aprender a suportar os revezes do mundo, sem perder a própria segurança.

Espírito Emmanuel, do livro Paz, psicografado por Chico Xavier.

08 junho 2023

Quando …


Quando compreendermos que vingança, ódio, desespero, inveja ou ciúme são doenças claramente ajustáveis à patologia da mente, requisitando amor e não o revide…  
Quando interpretarmos nossos irmãos delinquentes por enfermos da alma, solicitando segregação para tratamento e reeducação e não censura ou castigo…  
Quando observarmos na caridade simples dever…  
Quando nos aceitarmos na condição de espíritos em evolução, ainda portadores de múltiplas deficiências e que, por isso mesmo, o erro do próximo poderia ser debitado à conta de nossas próprias fraquezas…  
Quando percebermos que os nossos problemas e as nossas dores não são maiores que os de nossos vizinhos…  
Quando nos certificarmos de que a fogueira do mal deve ser extinta na fonte permanente do bem…  
Quando nos capacitarmos de que a prática incessante do serviço aos outros é o dissolvente infalível de todas as nossas mágoas…  
Quando nos submetermos à lei do trabalho, dando de nós sem pensar em nós, quanto a facilidades imediatas…  
Quando abraçarmos a tarefa da paz, buscando apagar o incêndio da irritação ou da cólera com a bênção do socorro fraternal e abstendo-nos de usar o querosene da discórdia…  
Quando, enfim, nos enlaçarmos, na experiência comum, na posição de filhos de Deus e irmãos autênticos uns dos outros, esquecendo as nossas faltas recíprocas e cooperando na oficina do auxílio mútuo, sem reclamações e sem queixas, a reconhecer que o mais forte é o apoio do mais fraco e que o mais culto é o amparo do companheiro menos culto, então, o egoísmo terá desaparecido da Terra, para que o Reino do Amor se estabeleça, definitivo, em nossos corações.

Espírito André Luiz, do livro Paz e Renovação, psicografado por Chico Xavier.

07 junho 2023

Resignação e indiferença


Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. (Mateus, V, 6).

Bem-aventurados os que se revoltam contra a injustiça, mas são resignados e calmos.
Ai dos indiferentes, dos acomodatícios, dos covardes, dos servis, que em proveito próprio aplaudem a injustiça!
Há muita diferença entre a resignação e a indiferença.
A resignação é a conformidade ativa nos inevitáveis acontecimentos da vida.
A indiferença é a submissão passiva às injustiças deprimentes.
A resignação é cheia de amor, de sentimentos nobres, de elevadas paixões.
A indiferença nulifica o amor, aniquila a nobreza d’alma, destrói as virtudes e deprime a moral.
A resignação nas provas é obediência aos decretos de Deus.
A indiferença nos sofrimentos é dureza de coração e ausência de submissão à vontade divina.
O resignado é santo, porque a resignação nasce da paciência, e a paciência é filha dileta da Caridade. O indiferente é um anormal: tem cérebro e não pensa; tem coração e não sente; tem alma e não ama.
O resignado não aparenta sofrimento, porque conhece a Lei de Deus e a ela se submete com humildade.
O indiferente também não mostra sentir a dor, mas, orgulhoso e alheio aos ditames celestes, repele de si a ideia do sofrimento.
A resignação é excelente virtude, que precisamos cultivar; a indiferença é manifestação do egoísmo, que precisamos extirpar.
A resignação é a coragem da virtude.
A indiferença é a covardia da paixão vil.
Aquela eleva, dignifica, enaltece, santifica.
Esta deprime, desmoraliza, deprava e mata.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
Bem-aventurados os que não se submetem às injustiças da Terra, nem pactuam com os opressores, os vis turibulários das altas posições!

Cairbar Schutel, do livro Parábolas e Ensinos de Jesus, 1ª edição de 1928

06 junho 2023

Lógica da Providência


“Depois que fostes iluminados, suportastes grande combate de aflições.” – Paulo. (Hebreus, 10:32.)

Os cultivadores da fé sincera costumam ser indicados, no mundo, à conta de grandes sofredores.
Há mesmo quem afirme afastar-se deliberadamente dos círculos religiosos, temendo o contágio de padecimentos espirituais.
Os ímpios, os ignorantes e os fúteis exibem-se, espetacularmente, na vida comum, através de traços bizarros da fantasia exterior; todavia, quando se abeiram das verdades celestes, antes de adquirirem acesso às alegrias permanentes da espiritualidade superior, atravessam grandes túneis de tristeza, abatimento e taciturnidade. O fenômeno, entretanto, é natural, porquanto haverá sempre ponderação após a loucura e remorso depois do desregramento.
O problema, contudo, abrange mais vasto círculo de esclarecimentos.
A misericórdia que se manifesta na Justiça de Deus transcende à compreensão humana.
O Pai confere aos filhos ignorantes e transviados o direito às experiências mais fortes somente depois de serem iluminados. Só após aprenderem a ver com o espírito eterno é que a vida lhes oferece valores diferentes. Nascer-lhes-á nos corações, daí em diante, a força indispensável ao triunfo no grande combate das aflições.
Os frívolos e oportunistas, não obstante as aparências, são habitualmente almas frágeis, quais galhos secos que se quebram ao primeiro golpe da ventania. Os espíritos nobres, que suportam as tormentas do caminho terrestre, sabem disto.
Só a luz espiritual garante o êxito nas provações.
Ninguém concede a responsabilidade de um barco, cheio de preocupações e perigos, a simples crianças.

Espírito Emmanuel, do livro Pão Nosso, psicografado por Chico Xavier.

O Monstro


Vi um monstro pairando sobre a Terra,
Como um corvo de garras infinitas,
Cobrindo multidões tristes e aflitas:
Visão de luto e lágrimas que aterra!

Vi-o de vale em vale, serra em serra,
E disse: —“Quem és tu que abre e excitas
Os pavores e as cóleras malditas?”
E o monstro respondeu: — Eu sou a guerra!

Não há forças no mundo que me domem,
Sou o retrato fiel do próprio homem,
Que destrói, luta e mata e vocifera!

Venho das trevas densas da voragem,
Dos abismos de dor e de carnagem
Para mostrar ao homem que ele é fera!

Espírito Antero de Quental, do livro Palavras do Infinito. Soneto recebido por Chico Xavier, em 1935.

05 junho 2023

Adoração e fraternidade


“Ora, temos da parte dele este mandamento, que aquele que ama a Deus, ame também a seu irmão.” – I João 4:21.

Construirás santuários primorosos no culto ao Senhor da Vida…  
Pronunciarás orações sublimes, exaltando-Lhe a glória excelsa…  
Tecerás com cintilações divinas a palavra comovente e bela com que Lhe definirás a grandeza…  
Combinarás com mestria os textos da Escritura Divina para provar-Lhe a existência…  
Exibirás dons mediúnicos dos mais excelentes de modo a falares dEle, com eficiência e segurança, às criaturas irmãs…  
Escreverás livros admiráveis, comentando-Lhe a sabedoria…  
Comporás poemas preciosos, tentando ornamentar-Lhe a magnificência…  
Clamarás por Ele, em súplicas ardentes, revelando confiança e fidelidade…  
Adora-Lo-ás com a tua prece, com a tua arte, com o teu carinho e com a tua inteligência…  
Contudo, se não amas a teu irmão, por amor a Ele, Pai Amoroso e Justo, de que te vale o culto filial, estéril e egoísta?
Um simples pai de família, no campo da Humanidade imperfeita, alegra-se e dilata-se nos filhos que, em lhe compreendendo a dedicação, se empenham no engrandecimento da própria casa, através do amparo constante aos irmãos menos felizes.
Incontestavelmente, a lealdade de tua fé representa o perfume de alegria nas tuas relações com o Eterno Senhor, mas não olvides que o teu incessante serviço, na plantação e extensão do bem, é a única maneira pela qual podes realmente servi-Lo.
Seja qual for a igreja em que externas a tua reverência à Majestade Divina, guarda, pois, a oração por lâmpada acesa em tua luta de cada dia, mas não te esqueças de que somente amparando os nossos irmãos inexperientes e frágeis, caídos e desditosos, é que, de fato, honraremos a Bênção de Nosso Pai.

Espírito Emmanuel, do livro Palavras de Vida Eterna, psicografado por Chico Xavier.

Não reclame


Não reclame de ninguém.
Cada pessoa é o que é, e não será acusando que você conseguirá auxiliar.

Não reclame da vida.
Cada um colhe exatamente o que planta.

Não reclame do clima.
A Natureza é sábia e age buscando o equilíbrio das próprias forças.

Não reclame da falta de tempo.
Se não desperdiçar os minutos, você terá sempre as horas de que necessita para desempenhar todos os seus deveres.

Não reclame do que você faz.
Amor e alegria são ingredientes indispensáveis ao êxito de qualquer atividade no bem.

Não reclame excessivamente de você mesmo.
Autocondenar-se pode ser tão pernicioso quanto se autoelogiar.

Sempre que observarmos em nós qualquer tendência à reclamação que ultrapasse os limites do bom senso e da caridade cristã, oremos suplicando a Deus nos esclareça quanto às próprias deficiências e para que nos ajude a reconhecer na humildade o nosso próprio lugar.

Espírito André Luiz, do livro Palavras de Coragem, psicografado por Chico Xavier.

04 junho 2023

E livra-nos do mal, porque teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Assim seja


O Senhor livrar-nos-á do mal; entretanto, é preciso que desejemos não errar.
Que dizer de um homem que pedisse socorro contra o incêndio, lançando gasolina à fogueira?
O reino da vida, com todas as suas notas de grandeza, pertence a Deus.
Todo o poder e toda a glória do Universo, todos os recursos e todas as possibilidades da existência são da Providência Divina, mas, em nosso círculo de ação, a vontade é nossa.
Se não ligamos nossos desejos à Lei do Bem, que procede do Céu, representando para nós a Vontade Paterna de Nosso Pai Celeste, não podemos aguardar harmonia e contentamento para o nosso coração.
Nas sombras do egoísmo, estaremos sozinhos, aflitos, perturbados e desalentados, porque egoísmo quer dizer felicidade somente para nós, contra a felicidade dos outros.
Deus permitiu que a vontade seja um patrimônio propriamente nosso, a fim de que possamos adquirir a liberdade e a grandeza, o amor e a sabedoria, por nós mesmos, como filhos de sua infinita bondade.
Por isso, se somos escravos das nossas criações que, por vezes, gastamos muito tempo a retificar, continuamos sempre livres para desejar e imaginar.
E sabemos que qualquer serviço ou realização começa em nossos sentimentos e pensamentos.
Saibamos, desse modo, conservar a nossa vontade à luz da consciência reta, porque, rogando a Deus nos liberte do mal, é preciso, por nossa vez, procurar o caminho do bem.

Espírito Meimei, do livro Pai Nosso, psicografado por Chico Xavier.

Espíritas no evangelho


O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. I – Item 5

Comenta o Evangelho, nas tarefas doutrinárias do Espiritismo, entretanto, diligencia exumar as sementes divinas da verdade, encerradas no cárcere das teologias humanas, para que produzam os frutos da vida eterna no solo da alma.
 
Exalta a glória de Cristo, mas elucida que ele não transitou, nos caminhos humanos, usufruindo facilidades e sim atendendo aos desígnios de Deus, nas disciplinas de humilde servidor.
 
Refere-te ao céu, mas explica que o céu é o espaço infinito, em suja vastidão milhões de mudos obedecem às leis que lhes foram traçadas, a fim de que se erijam em lares e escolas das criaturas mergulhadas na evolução.
 
Menciona os anjos, mas esclarece que eles não são inteligências privilegiadas no
Universo e sem espíritos que adquiriram a sabedoria e a sublimação, à custa de suor e preço de lágrimas.
 
Reporta-te à redenção, mas observa que a bondade não exclui a justiça e que o espírito culpado é constrangido ao resgate de si próprio, através da reencarnação, tantas vezes quantas sejam necessárias, porquanto, à frente da Lei, cada consciência deve a si mesma a sombra da derrota ou o clarão do triunfo.
 
Cita profetas e profecias, fenômenos e influências, mas analisa os temas da mediunidade, auxiliando o entendimento comum, no intercâmbio entre encarnados e desencarnados, e ofertando adequados remédios aos problemas da obsessão.
 
Salienta os benefícios da fé, mas demonstra que a oração sem as boas obras assemelha-se à dolosa atitude nos negócios da alma, de vez que se a prece nos clareia o lugar de trabalho, é preciso apagar o mal para que o mal nos esqueça e fazer o bem para que o bem nos procure.
 
Define a excelência da virtude, mas informa que o crédito moral não é obtido em deserção da luta que nos cabe travar com as tentações acalentadas por nós mesmos, a fim de que a nossa confiança nas Esferas Superiores não seja pura ingenuidade, à distância da experiência.

Expõe o Evangelho, mas não faças dele instrumento de hipnose destrutiva das energias espirituais daqueles que te escutem.

Mostra que Jesus não lhe plasmou a grandeza operando sem amor e sem dor, e nem distraias a atenção dos semelhantes, encobrindo-lhes a responsabilidade de pensar e servir, que a Boa Nova nos traça a todos, de maneira indistinta. O Espiritismo te apoia o raciocínio para que lhe reveles a luz criadora e a alegria contagiante, auxiliando-te a despertar os ouvintes da verdade na compreensão do sofrimento e na felicidade do dever, nos tesouros do bem e nas vitórias da educação.

Espírito Emmanuel, do livro Opinião Espírita, psicografado por Chico Xavier.

03 junho 2023

A luz da razão e o poder da fé


O conceito religioso da Fé como graça especial, concedida por Deus aos crentes de uma determinada religião, pertence ao passado. Esse conceito equivale a uma interpretação profundamente injusta da Justiça Divina. A Fé é um dom, sem dúvida, mas a doação de Deus é sempre universal, nunca se processa na medida estreita dos homens. Deus é o Criador e nós somos as suas criaturas. Isso quer dizer que Deus é Pai e nós somos os Seus filhos. Como poderia o Pai Supremo, que é fonte de todo o amor, de toda a misericórdia, conceder apenas a alguns dos Seus filhos o dom fundamental da Fé, sem o qual o homem não poderia se elevar a Ele?
O novo conceito da Fé, estabelecido pelo Espiritismo, coloca o problema em termos claros e precisos. A Fé, como dom natural, está presente no coração de todas as criaturas humanas. A semelhança do amor, que todos trazemos em gérmen dentro de nós, a Fé precisa germinar em nosso coração e ser cultivada por nós à luz da Razão. Assim, a Fé nos é dada como semente, mas temos de cultivá-la e
desenvolvê-la. Nesse sentido, a Fé se torna uma conquista que temos de fazer na vida. Todas as nossas faculdades não devem também ser cultivadas? A Fé é uma faculdade da alma, do espírito, e cabe-nos desenvolvê-la em nós mesmos.

Fé e Razão se ligam como o Sol e a Terra. A Razão é o sol espiritual que alumia o nosso entendimento, afugentando as trevas e o frio da ignorância e da superstição, para nos dar a luz da compreensão e o calor da vida. Um homem sem fé está morto em si mesmo, é o seu próprio sepulcro.
Mas basta-lhe acender a luz da razão para libertar-se da morte e do túmulo, para ressuscitar como Lázaro ante a voz do Messias.

O materialista, o ateu, o homem sem fé, na verdade confia em si mesmo, tem fé nas suas próprias forças. É como o peixe das profundezas, que sabe dominar a água mas ainda não conhece a luz do sol. A fé humana que o sustenta nas lutas diárias da vida vai se abrir na fé divina que lhe mostrará o esplendor das estrelas. A luz da Razão, à semelhança da luz solar, fará germinar e crescer o poder da fé em seu coração. Ninguém se perde, ninguém está condenado para sempre. A Justiça de Deus se cumpre no íntimo de nós mesmos, porque Deus está em nós, presente em nós na misericórdia da suas leis.

J. Herculano Pires, do seu livro O Homem Novo.

Buscando a paz


Aquele que te agride,
Pode ser um doente.
 
Não te queixes. Espera,
Não dramatizes. Ora.

O troco do silêncio
É uma bênção de paz.
 
Recorda quantas vezes
Ferimos sem querer.

Se o golpe é dos mais graves,
Entrega o assunto a Deus.
 
Para sanar o mal,
Bastar-se-á viver.
 
Espírito Emmanuel, do livro O Essencial, psicografado por Chico Xavier.

02 junho 2023

Deus em nós


O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXV – Item 1

“E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. (Atos, 19: 11) 

Quem pode delimitar a extensão das bênçãos que dimanam da Altura?
Por ser sempre de origem inferior, o mal é limitado como todas as manifestações devidas exclusivamente às criaturas; o bem, no entanto, possui caráter divino e, semelhante aos atributos do Pai Excelso, traz em si a qualidade de ser infinito em qualquer direção.
Antes de tudo, vigora a intenção sincera do espírito no ato que procura executar.
Assim, utiliza as próprias possibilidades a serviço da Vontade Divina, oferecendo o coração às realizações com Jesus, e o ilimitado surgir-te-á gradativamente nas faixas da experiência, sob a forma de esperança e consolação, júbilo e paz.
Por mais sombrios te pareçam aos ideais de hoje os dias do passado, não te entregues ao desânimo.
Ergue os sentimentos e conjuga as próprias ações ao novo roteiro entrevisto.
Após a purificação necessária, a água mais poluída da sarjeta se torna límpida e cristalina, como se jamais houvesse experimentado o convívio da impureza.
O presente é perene traço de união entre os resquícios do pretérito e uma vida futura melhor.
Plasma em ti mesmo as forças reconstrutivas de tuas novas resoluções, para que se exprimam em obras de aprimoramento e de amor.
Reconhecendo a nossa origem na Fonte de todas as perfeições, é natural que podemos e precisamos realizar em torno de nós as obras perfeitas a que estamos destinados por nossa própria natureza.
Eis o valor do registro dos Atos dos Apóstolos ao recordar-nos a magnitude das tarefas de Paulo, quando o iniciado de Damasco se dispôs a caminhar, auxiliando e aprendendo, no holocausto das próprias energias à exaltação do bem.
As mãos, tanto quanto o conjunto de instrumentos e possibilidades de que nos servimos na vida comum, esperam passivamente o ensejo de se aplicarem aos desígnios superiores, segundo as nossas deliberações pessoais.
Quando agimos no bem, sentimos a presença de Deus em nós.
Medita no emprego dos teus recursos no campo da fraternidade.
Desterra de teu caminho a barreira do desalento e prossegue confiante, vanguarda afora.
O solo frutifica sempre quando ajudado pelo cultivador.
Usa, pois, o arado com que o Senhor te enriquece as mãos, trabalhando a leira que te cabe, com firmeza e esperança, na certeza de que a colheita farta coroar-te-á os esforços, cada vez mais, desde que permaneças apoiado no propósito seguro de corresponder ao programa de trabalho que o Pai te reserva, na oficina da luz, em busca da Alegria Inalterável.

Espírito Emmanuel, do livro O Espírito da Verdade, psicografado por Chico Xavier.

Repara onde moras


A Terra é precioso domicílio da Lei do Senhor onde cada criatura edifica o plano em que passa a viver.
O usurário sofre na furna da miséria.
O delinquente suporta o desvão do remorso.
O insensato grita no inferno da loucura.
O preguiçoso chora no sótão da necessidade.
O intolerante reside no serpentário da aversão.
O egoísta detém-se no cárcere das trevas.
O rico displicente carrega a cruz da responsabilidade.
O pobre inconformado respira no purgatório da angústia.
O simples de coração cresce no templo da paz.
O semeador do progresso vive ao sol da prosperidade.
O servidor fiel repousa na consciência tranquila.
O amigo do estudo mora no lar do conhecimento.

Repara onde resides.
Cada espírito respira na faixa de claridade ou sombra, de dor ou alegria a que se acolhe através da atitude que assume perante a vida.

Não te percas na contemplação prematura das paisagens Celestiais, sem haver pago à Terra o tributo de serviço que lhe devemos.

Faze de tua experiência um campo educado no bem para a colheita do amor e a própria casa terrestre em que estagias se transformará para os teus pés em sublime degrau de acesso às moradas abençoadas da Luz.

Espírito Emmanuel, do livro Moradias de Luz, psicografado por Chico Xavier.

01 junho 2023

Companheiros, avante


Aos irmãos da Causa Espírita no Brasil

Servidores leais da Nova Era,
Segui, de arado às mãos, na seara imensa,
Colhendo o trigo lúcido da crença
Que conforta, restaura e regenera.

Em torno é o mundo que se desespera,
Entre as sombras da noite que se adensa;
Vós sois, porém, a doce recompensa
Do ideal torturado em longa espera.

Mensageiros da luz Imorredoura,
Sois a bênção da vida porvindoura
Na construção do templo da verdade!…

Combatei a maldade, o ódio, a guerra,
Sois com Jesus, o sal da Nova Terra,
Vanguardeiros da Nova Humanidade.

Espírito Abel Gomes, do livro Moradias de Luz, psicografado por Chico Xavier.

Lição em viagem


Um amigo sempre interessado de que maneira adquiriria humildade, guiava um automóvel em longa viagem à noite.
De certo modo, sentia-se cansado ao notar que os motoristas, em sentido contrário, não baixavam os faróis, dificultando-lhe a marcha.
De súbito, adotou uma atitude que ainda não lhe ocorrera.
Observando a aproximação de algum carro, de imediato, baixava o farol do auto, sob a sua direção.
Desde esse instante, viu que todos os motoristas igualmente lhe respondiam com atenção diminuindo a luz que comandavam.
Ele compreendeu, enfim, que o mesmo se verificava nos caminhos da vida.
Quem atenua a luz que lhe é própria, encontra sempre a luz de companheiros atentos que lhe facilitam a jornada no cotidiano.

Espírito Emmanuel, do livro Momentos de Paz, psicografado por Chico Xavier.