30 março 2023

O Anjo consertador


Quando o crente enfermo conseguiu encontrar, após longas súplicas, o Anjo Consertador, prosternou-se, reverente, e falou, banhado em lágrimas:
—Benfeitor Celeste, socorre-me, por piedade! Trago o estigma do fracasso. Sou profundamente infeliz!… Contra mim permanecem associadas todas as forças do mal.
Nas menores particularidades do caminho sou perseguido sem remissão… Meus negócios falham, meus interesses sofrem prejuízos infindáveis, minha saúde perece…
Vivo coberto de preocupações e sofrimentos. Embalde, busco o auxílio da prece, porque, depois de frequentar templos diversos e tentar devoções diferentes, me vejo tão aflito quanto antes. Restaura-me o destino! És o benemérito consertador das vidas frustradas.
Atende-me! sinto-me desfalecer…
Deteve-se o emissário angélico e auscultou delicadamente o desventurado. Mirou-o, compadecido, e considerou:
—Realmente, o seu desequilíbrio comove.
Fixou nele o olhar muito límpido e iniciou carinhoso interrogatório:
—Meu amigo, você tem fé?
—Sim —respondeu o sofredor –, minha confiança em Jesus é ilimitada.
—E deseja, restabelecer sua paz, aplainar seu caminho?
—Suspiro por semelhantes realizações.
O instrutor fez pequena pausa e acrescentou:
—Você sabe que o homem é uma peça viva, dono de uma consciência própria, senhor de uma razão pessoal e herdeiro de Deus…
—Sim, reconheço.
—Pois bem — ajuntou o ministro da espiritualidade —, o serviço restaurador que me compete há que se basear na aceitação do homem. Não podemos assaltar o coração, quando a criatura se refugia na cidadela da vaidade e do orgulho. Assim, se você nos aguarda a intercessão, responde lealmente às minhas perguntas.
O enfermo, envolvido na luz irradiante do embaixador celestial, reconheceu que seria inútil mentir.
—Você vive em família e exerce uma profissão regular?
—Sim…
—Compreende seus deveres de amor, gentileza e assistência, para com os domésticos e suas obrigações de respeito, solicitude e atenção para com os superiores e subalternos?
Vivendo em comunidade, na luta diária, sabe livrar seu fígado e seu coração das nefastas projeções vibratórias do ódio e da revolta? Exercita, regularmente, suas noções de fraternidade? Combate a intemperança mental pela contenção dos impulsos inferiores?
Procura dar a cada pessoa que o cerca o que lhe pertence? Serve sem reclamações e evita o clima escuro da maledicência? Põe o espírito de serviço acima de suas preocupações individuais? Preserva, em suma, a própria paz?
—Oh! Tudo isto é demasiadamente difícil…
—Concordo — observou o anjo —, a elevação demanda esforço, mas o meu irmão não aspira à claridade do alto?
—Ora — aventou o doente, um tanto desencantado –, como agir, dentro de tais normas, em ambiente refratário aos nossos ideais? Não tolero exigências, nem aceito cooperação incompleta. E se me vejo rodeado de pessoas sem mérito, segundo meu modo de ver, como tributar-lhes consideração respeitosa? Não compreendo a justiça inoperante.
Além disto, no círculo doméstico, sou infenso aos desaforos de quantos me acompanham na vida.
Dou-me, com muito mais harmonia, com estranhos. Meus parentes fazem questão de hostilidade permanente e não cedo um centímetro em meus pontos de vista. Se preferem a guerra aberta, que fazer senão aceitá-la?
O mensageiro esboçou um sorriso discreto e continuou:
—Se sua posição no lar e no trabalho é tão perigosa, vejamos seu campo social. Busca entrosar-se com os seus semelhantes? dedica-se a algum serviço de benemerência?
Recebe os sofredores com bondade e esquece facilmente o ataque dos maus? Consegue imunizar seu cérebro e seus nervos contra a influência das forças tenebrosas? Vive com moderação para afastar a indesejável vinheta da inveja, exemplificando a correção para que os tentáculos da calúnia não lhe atinjam a mente? Age, em tudo, com prudência, justiça e solidariedade fraternal, a fim de que o despeito e a inconformação não lhe ameacem a sementeira do bem? Consagra simpatia aos infortunados, ajuda os que erram e procura descobrir o verdadeiro necessitado, contrariando, por vezes, suas próprias inclinações? Sabe ser o médico de si mesmo, auxiliando os aflitos do caminho, para que as emissões benéficas do agradecimento o amparem e curem? Respeita os outros, de modo a ser respeitado pelo maior número de pessoas?
O implorante passou do desapontamento à revolta e objetou:
—Afinal, estou muito distante de tal perfeição. Impossível ser anjo, entre espíritos satânicos.
Se eu me mostrar simpático com os infortunados, talvez me devorem… Em geral, os sofredores são mais preguiçosos que propriamente infelizes. Não sei aturar gente má e acredito que a justiça não existe senão para essa espécie de criaturas. Se me não defender contra os vizinhos, acabarão por esmagar-me.
Fitou no interlocutor divino os olhos enfadados e rematou:
—Justamente por viver enfermo e desalentado é que venho lhe rogar auxílio…
—Mas, explique-se. Que pretende, então?
—Não és, anjo sublime, o administrador da restauração? Quero o reajustamento da vida, um milagre do socorro celestial.
—Oh! Sim — suspirou o emissário —, você também está esperando uma violência de
Deus…
E, desvencilhando-se do sofredor, despediu-se, calmo. Devia atender a outros setores de assistência. Massas angustiadas aguardavam-no mais além…
—Oh! abandonas-me, desamparas-me? — gritou o pedinte singular, sob forte irritação — o próprio Céu me detestará?
O mensageiro angélico, entretanto, esclareceu, sereno:
—Você ainda não foi desconsertado a ponto de merecer conserto. Antes de nossa intervenção em sua estrada, o sofrimento terá grandes quefazeres ao pé de seu roteiro…
E, acenando para ele com a destra fraterna, concluiu:
—Noutro século, encontrar-nos-emos outra vez…

Espírito Irmão X (Humberto de Campos), do livro Luz Acima, psicografado por Chico Xavier.

29 março 2023

Na hora da tristeza


“Vós sois a luz do mundo” JESUS Mateus, 5: 14.

Não digais, pois, quando virdes atingido um de vossos irmãos: “É a justiça de Deus, importa que siga o seu curso”. Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar a sofrimento do meu irmão”. Cap. V: 27.

Entraste na hora do desalento, como se te avizinhasses de um pesadelo.
Indefinível suplício moral te impele ao abatimento, magoas antigas surgem à tona.
Sentes-te à feição do viajor, para cuja sede se esgotaram as derradeiras fontes do caminho.
Experimentas o coração no peito, qual pássaro fatigado, ao sacudir, em vão, as grades do cárcere.
Ainda assim, não permitas que a ansiedade te lance à tristeza inútil.

Se a incompreensão alheia te azedou o pensamento, recorda os companheiros enfermos ou mutilados, quando não conhecem a própria situação, qual seria de desejar e prossegue servindo, a esperar pelo tempo que lhes dará reajuste.
Se amigos te abandonaram em árduas tarefas, à caça de considerações que lhes incensem a personalidade, medita nas crianças afoitas, empenhadas a jogos e distrações, nos momentos do estudo, e prossegue servindo, a esperar pelo tempo, que a todos renovará na escola da experiência.
Se deixaste entes queridos ante a cinza do túmulo, convence-te de que todos eles continuam redivivos, no plano espiritual, dependendo, quase sempre, de tua conformação para que se refaçam, e prossegue servindo, a esperar pelo tempo, que te propiciará, mais além, o intraduzível consolo do reencontro.
Se o fardo das próprias aflições te parece excessivamente pesado, reflete nos irmãos desfalecentes da retaguarda, para quem uma simples frase reconfortante de tua boca é comparável a facho estelar, nas trevas em que jornadeiam, e prossegue servindo, a esperar pelo tempo, que, no instante oportuno, a cada problema descortinará solução.

Lembra-te de que podes ser, ainda hoje, o raciocínio para os que se dementaram na invigilância, o apoio dos que tropeçam na sombra, o socorro aos peregrinos da estrada que a penúria recolhe nas pedreiras do sofrimento, o amparo dos que choram em desespero e a voz que se levante para a defesa de injustiçados e desvalidos.
Não te detenhas para relacionar dissabores.
Segue adiante, e se lágrimas te encharcam a ponto de sentires a noite dentro dos olhos, entrega as próprias mãos nas mãos de Jesus e prossegue servindo, na certeza de que a vida faz ressurgir o pão da terra lavrada e de que o sol de Deus, amanhã, nos trará novo dia.
 
Espírito Emmanuel, do Livro da Esperança, psicografado por Chico Xavier.

28 março 2023

O Anjo da saúde


Angustiado, o Homem enfermo invocou a Proteção do Cristo e clamou em lágrimas copiosas:
—Senhor, ampara-me o coração desalentado no círculo das provas! Esgotaram-se-me os recursos para a resistência…  Não posso mais! Minhas noites são prolongadas vigílias, repletas de dor, e meus dias constituem longas horas de aflição permanente! A dor lacera-me as carnes e desarticula-me os ossos…  Compadece-te, Senhor meu! Desce um raio de tua divina luz que me restaure a força física, e me reerga o coração humilhado! Desiludido de todos os processos de cura, mobilizados na Terra, volto-me para o Céu, esperando-te a inesgotável misericórdia! ajuda-me, Pastor do Bem! Vê os meus sofrimentos e auxilia-me!…  
De joelhos e braços abertos, o peregrino soluçava, contemplando o firmamento.
Ouviu Jesus a oração e enviou-lhe o Anjo da Saúde, que desceu, bondoso e prestativo, surgindo aos olhos deslumbrados do infeliz enfermo.
Em êxtase, o doente fitou o mensageiro e suplicou:
—Emissário do Médico Divino, lava-me as feridas dolorosas, levanta-me o espírito abatido!
Há muitos anos sou um miserável sofredor, embora a minha confiança no Pai de Infinita Bondade! De corpo chagado e apodrecido, sinto que a esperança e a crença desertaram de minh’alma! socorre-me, por piedade, caridoso emissário do Céu!
O gênio tutelar afagou-lhe a fronte, compassivo, e exclamou:
—Meu amigo, põe a consciência nos lábios em oração e responde-me! Tens vivido de acordo com a Vontade de Deus, fugindo aos caprichos do coração? Viveste, até agora, amando o Senhor Supremo, acima de todas as coisas, e querendo ao próximo como a ti mesmo?
Dedicaste teu corpo e tuas faculdades à execução das divinas leis?
Presa do antigo hábito de fugir à verdade, o Homem quis proferir qualquer frase tendente a desculpar-se; entretanto, a presença do emissário sublime empolgava-lhe o ser e não conseguia se furtar ao império absoluto da consciência. Dominado pela realidade, respondeu em soluços:
—Não!…  ainda não servi às leis do Senhor como deveria…  Contudo, Anjo Bom, compadece-te de mim, a enfermidade consome os meus dias, o sofrimento devora-me!
O enviado pousou a destra na fronte do mísero, como se intentasse lhe arrancar a verdade do fundo do coração, e interrogou:
—Estarás, porém, disposto a esquecer, de imediato, o pretérito criminoso? Desculparás, fraternalmente, sem qualquer sombra de hesitação, a todos aqueles que te desejam o mal? Auxiliarás o inimigo?
O enfermo dirigiu ao preposto celeste um olhar de terrível angústia, e porque nada respondesse, o mensageiro continuou interrogando:
—Perdoarás sempre, esquecendo ingratidões, injúrias e pedradas? Recomendarás os teus adversários à bênção do Todo Poderoso, reconhecendo que eles são mais infelizes que tu mesmo, pela ignorância que testemunham?
Exercerás a piedade, beneficiando as mãos que te ferem e olvidarás, sem esforço, a boca que calunia?
Compelido pelas forças insofreáveis da consciência, o enfermo respondeu, sem trair a verdade:
—Infelizmente, ainda não posso…  
—Não emitirás Pensamentos desarmônicos, ante a felicidade do próximo? – indagou o emissário, afável e benevolente – partilharás a alegria do vizinho e a prosperidade do amigo, como se te pertencessem também? Ajudarás ao irmão mais feliz, na consolidação da ventura que lhe coroa a existência?
O mendigo da saúde recordou suas lutas interiores, junto daqueles que lhe pareciam mais venturosos, e respondeu, sincero:
—Não posso ainda…  
—Terás bastante disposição – prosseguiu afetuosamente o interlocutor – para manter viva a própria esperança? compreendendo a paciência de Deus, que nos aguarda a iluminação, há milênios incontáveis, decidir-te-ás a esperar, sem revolta, o entendimento dos teus irmãos de luta, por alguns anos? Saberás calar a desesperação, a fim de auxiliar em nome do Pai Altíssimo, mobilizando as forcas que te foram confiadas?
O desventurado suspirou e disse com tristeza:
—Ainda não me é possível proceder assim…  
Após intervalo mais longo, o Anjo voltou a interrogar:
—Cultivaras o silêncio, quando a leviandade e a calúnia espalharem palavras loucas em torno de teu corarão? Defenderás a saúde, evitando as reações invisíveis de pessoas que poderias ofender com as falsas e delituosas apreciações verbais?
—Ainda não sigo semelhante caminho! – exclamou o infortunado.
—Poderás viver – continuava o mensageiro – no legítimo respeito à Natureza, conservando o teu vaso carnal de manifestações na sublime posição de equilíbrio, através da temperança, e cumprindo com fidelidade o programa de serviço, em beneficio de ti mesmo e dos semelhantes? Experimentas o prazer de ser útil, sinceramente despreocupado das atitudes alheias de gratidão ou recompensa?
—Ainda não! – murmurou o interpelado em tom angustioso.
O emissário envolveu o infeliz num olhar de compaixão infinita e acrescentou:
—Oh! Meu amigo, ainda é cedo para deprecares o socorro dos mensageiros da saúde! Se ainda não sabes viver, perdoar, esperar, compreender, ajudar e servir, de acordo com a Vontade do Altíssimo, ainda lutarás com a enfermidade, por muito tempo. Por enquanto, não peças vantagens que não saberias receber!
Roga ao Senhor te conceda a energia necessária para que te afeiçoes à lei do equilíbrio e às exigências da reflexão!
Em seguida, o emissário endereçou-lhe carinhoso gesto de adeus. O infeliz, entretanto, buscando retê-la, exclamou em soluços:
—Oh! enviado do Céu, confiarei em Jesus!
O Anjo contemplou-o, bondoso, e respondeu ternamente:
—Sim, eu sei. Isto, porém, não basta.
É necessário que Jesus também possa confiar em ti…  
E afastou-se, para dar conta de sua missão, nas esferas mais altas. 

Espírito Irmão X (Humberto de Campos), do livro Lázaro Redivivo, psicografado por Chico Xavier.

27 março 2023

Desapego


A cobrança é um problema realmente aflitivo, à maneira de nuvem, eclipsando a beleza e o brilho do serviço cristão.
É imperioso anotar, porém, que não somente o dinheiro vem a ser o objeto disputado nos processos de retribuição na lavoura do espírito.
Há quem exija dos outros variadas formas de pagamento, reclamando pesados impostos de reconhecimento, de apreço afetivo, de considerações sociais…
Apregoa-se, então, a caridade, como quem abraça um negócio qualquer, em que a velha filosofia do “dou para que me dês” constitui a mola viva de toda e qualquer manifestação.
Contudo, ao sol do Evangelho, se efetivamente nos propomos alcançar a comunhão com Jesus, o desinteresse pessoal deve representar o selo de nossa boa vontade e a garantia de nossa fé.
Não importa que os outros te menoscabem as ações, com evidente desrespeito ao teu modo de atuar ou de ser.
Vale o amor com que te empenhas ao dever retamente cumprido, de vez que todas as possibilidades da vida pertencem originariamente a Deus.
A criatura que ao bem se consagra, sem a preocupação de avocar para si a autoria dos pensamentos enobrecidos e das obras edificantes, recebe do Alto infinita capacidade de estender esse mesmo bem.
Recorda que o charco de hoje, se ajudado, pode ser amanhã o campo bendito para a colheita farta e não te esqueças de que o fruto, agora verde, se respeitado, pode ser depois, o reconforto de tua mesa.
Jesus não estabeleceu qualquer mercado para a distribuição dos dons divinos.
Afeiçoemo-nos, pois, a Ele que tudo deu de si sem pensar em si, confiando-se à suprema renúncia, a benefício de todos, e, longe das prisões forjadas pelos tributos terrestres, nossas almas ascenderão, em voos sempre mais altos e sempre mais livres, no rumo certo da gloriosa imortalidade.

Espírito Emmanuel, do livro Intervalos, psicografado por Chico Xavier.

26 março 2023

Das maiores


Guarda a confidência amarga que alguém te confie.
Faze silêncio sobre os atritos entre os companheiros.
Não fales daquilo que possa melindrar os outros.
Não contradigas a pessoa que detém a palavra.
Afasta, quanto possível, os obstáculos do caminho.
Não procures superioridade em discussões.
Não experimentes a resistência afetiva de criaturas amigas e conhecidas, criando-lhes situações equívocas, com o intuito evidente de vê-las descendo a quedas do sentimento.
Não queiras avaliar o grau de honestidade daqueles que te rodeiam, oferecendo-lhes aos olhos e às mãos valores excessivos, que lhes suscitem o desejo de se apropriarem de recursos que lhes não pertencem.
Não exponhas determinado companheiro a situações em que se lhes registre a ingenuidade a incompetência.

Todas as tarefas da caridade são grandes e belas, entretanto, aquela beneficência do respeito ao próximo, evitando problemas e complicações para que as complicações e os problemas se extingam no nascedouro, é realmente caridade das maiores.

Espírito Emmanuel, do livro Joia, psicografado por Chico Xavier.