02 julho 2025

Benevolência em ação


Usa a benevolência tanto quanto puderes, recordando que todos somos necessitados de tolerância
Ainda mesmo em se tratando de nós outros, os companheiros desencarnados, estamos ainda em áspera luta, por dentro de nós mesmos, buscando a luz do autoaperfeiçoamento. 

Muito longe da condição angélica, todos nos amontoamos no pátio das necessidades espirituais, contando com o amparo e a compreensão uns dos outros, a fim de conseguirmos atingir a solução de nossos problemas. 
Por isto mesmo, conscientes de nossas próprias realidades, quando estivermos com a palavra em casa, na rua, nos diálogos de serviço ou nos cenáculos da fé, aprendamos a esquecer o mal semeando o bem, para que o bem se fixe em nós. 

Não te reportes a conflitos, a fim de que a paz se estabeleça. 
Não condenes os irmãos que suponhas caídos na estrada, porque não sabes se amanhã estarás nas dificuldades em que se encontram. 
Desfaze-te de qualquer ideia de racismo e separação, para que a fraternidade te ilumine os pensamentos. 
Abstém-te de cultivar ressentimentos e ódios, para que o amor não se te mantenha distante do próprio ambiente. 
Evita salientar a delinquência e a crueldade, de modo a que não se te transforme o verbo nessa ou naquela indução infeliz, em algum dos cérebros que te escutam. 

Sejamos irmãos uns dos outros, respeitando os opositores que, porventura, não nos compreendam. 
E se observarmos irmãos positivamente errados, anotemos as qualidades nobres que já possuem e procuremos vê-los ou interpretá-los através do melhor que nos apresentem, lembrando-nos de que o amor infinito de Deus nos tolera a todos, doando-nos, a cada um, a bênção do tempo, dentro da qual, seguindo de prova em prova e de experiência em experiência, ser-nos-á possível adquirir o passo firme e certo na conquista da perfeição. 

Espírito Emmanuel, do livro Paz, psicografado por Chico Xavier. 

01 julho 2025

Ainda hoje


Irritavas-te, ainda hoje, no justo momento da caridade
E pensavas contigo mesmo: “valerá suportar a bílis do companheiro encolerizado, desculpar o insulto da ignorância, sofrer sem revolta aos golpes da violência e ajudar aos que me incomodam na via pública?”
Refletias a extensão do mal e confiavas-te ao desespero.
Entretanto, não se pode julgar o campo pelo talo de erva, nem avaliar espiritualmente a multidão pelo movimento da praça.
O amigo que te oferece o semblante áspero guarda provavelmente um espinho de aflição a espicaçar-lhe o peito, a pessoa que te injuria talvez padeça lastimável cegueira, a mão que te fere expõe o próprio desequilíbrio e esses rostos ulcerados que te pedem consolo trazem também consigo um coração suspirando por Deus.
Deixa que a bondade se externe por ti, estendendo a fonte da esperança e a melodia da bênção.
Silencia a palavra candente e apaga todo impulso de crueldade.
Ergue ainda hoje os que caíram.
Amanhã, é provável necessites escudar-te naqueles que levantas.
Reflitamos no Eterno Amigo que passou na Terra, compreendendo e servindo, sem descrer do amor, embora sozinho nos supremos testemunhos da própria fé.
Ampara, alivia, ilumina e socorre sempre.
Todo auxílio na obra do bem é uma prece silenciosa. E, toda vez que auxilias, o anjo da caridade está perto, orando também por ti.

Espírito Meimei, do livro Passos da Vida, psicografado por Chico Xavier.

30 junho 2025

Do meu porto


                    Ao caro amigo M. Quintão

Viajor vacilante e extenuado,
Depois de atravessar a sombra imensa,
Encontrei o país abençoado
Onde vive a celeste recompensa.

Adeus mágoas da noite estranha e densa,
Das angústias e sonhos do passado,
Não conservo senão o Amor e a Crença,
Ante o novo caminho ilimitado.

É doce descansar após a lida,
Banhar o coração na luz da vida,
Rememorando as dores que passaram… 

E dos quadros risonhos do meu porto,
Rogo a Jesus conceda reconforto
Aos corações amados que ficaram!

Espírito Albérico Lobo, do livro Parnaso de Além-túmulo, psicografado por Chico Xavier.

NASCIDO na cidade do Rio de Janeiro em 1865 e desencarnado em fevereiro de 1942. Funcionário público, colaborou ativamente na imprensa e deixou opulenta obra esparsa, em prosa e em verso.



26 junho 2025

Valei-vos da luz


“Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem.” – Jesus. (João, 12:35.)
 

O homem de meditação encontrará pensamentos divinos, analisando o passado e o futuro.
Ver-se-á colocado entre duas eternidades – a dos dias que se foram e a que lhe acena do porvir.
Examinando os tesouros do presente, descobrirá suas oportunidades preciosas.
No futuro, antevê a bendita luz da imortalidade, enquanto que no pretérito se localizam as trevas da ignorância, dos erros praticados, das experiências mal vividas. Esmagadora maioria de personalidades humanas não possui outra paisagem, com respeito ao passado próximo ou remoto, senão essa constituída de ruína e desencanto, compelindo-as a revalorizar os recursos em mão.
A vida humana, pois, apesar de transitória, é a chama que vos coloca em contacto com o serviço de que necessitais para a ascensão justa. Nesse abençoado ensejo, é possível resgatar, corrigir, aprender, ganhar, conquistar, reunir, reconciliar e enriquecer-se no Senhor.
Refleti na observação do Mestre e apreender-lhe-eis o luminoso sentido. Andai enquanto tendes a luz, disse Ele.
Aproveitai a dádiva de tempo recebida, no trabalho edificante.
Afastai-vos da condição inferior, adquirindo mais alto entendimento.
Sem os característicos de melhoria e aprimoramento no ato de marcha, sereis dominados pelas trevas, isto é, anulareis vossa oportunidade santa, tornando aos impulsos menos dignos e regressando, em seguida à morte do corpo, ao mesmo sítio de sombras, de onde emergistes para vencer novos degraus na sublime montanha da vida.

Espírito Emmanuel, do livro Pão Nosso, psicografado por Chico Xavier.

25 junho 2025

Carta a minha mãe


Hoje, mamãe, eu não te escrevo daquele gabinete cheio de livros sábios, onde o teu filho, pobre e enfermo, via passar os espectros dos enigmas humanos junto da lâmpada que, aos poucos, lhe devorava os olhos, no silêncio da noite.
A mão que me serve de porta-caneta é a mão cansada de um homem paupérrimo que trabalhou o dia inteiro, buscando o pão amargo e quotidiano dos que lutam e sofrem. A minha secretária é uma tripeça tosca à guisa de mesa e as paredes que se rodeiam são nuas e tristes como aquelas de nossa casa desconfortável em Pedra do Sal. O telhado sem forro deixa passar a ventania lamentosa da noite e deste remanso humilde onde a pobreza se esconde, exausta e desalentada, eu te escrevo sem insônias e sem fadigas para contar-te que ainda estou vivendo para amar e querer a mais nobre das mães.
Queria voltar ao mundo que eu deixei para ser novamente teu filho, desejando fazer-me um menino, aprendendo a rezar com o teu espírito santificado nos sofrimentos.
A saudade do teu afeto leva-me constantemente a essa Parnaíba das nossas recordações, cujas ruas arenosas, saturadas do vento salitroso do mar, sensibilizam a minha personalidade e dentro do crepúsculo estrelado de tua velhice, cheia de crença e de esperança, vou contigo, em espírito, nos retrospectos prodigiosos da imaginação, aos nossos tempos distantes. Vejo-te com os teus vestidos modestos em nossa casa da Miritiba, suportando com serenidade e devotamento os caprichos alegres de meu pai. Depois, faço a recapitulação dos teus dias de viuvez dolorosa junto da máquina de costura e do teu "terço" de orações, sacrificando a mocidade e a saúde pelos filhos, chorando com eles a orfandade que o destino lhe reservara e junto da figura gorda e risonha da Midoca ajoelho-me aos teus pés e repito:
Meu Senhor Jesus Cristo, se eu não tiver de ter uma boa sorte, levai-me deste mundo, dando-me uma boa morte.
Muitas vezes, o destino te fez crer que partirias antes daqueles que havias nutrido com o beijo das tuas carícias, demandando os mundos ermos e frios da Morte. Mas partimos e tu ficaste. Ficaste no cadinho doloroso da Saudade, prolongando a esperança numa vida melhor no seio imenso da eternidade. E o culto dos filhos é o consolo suave do teu coração. Acariciando os teus netos, guardas com desvelo o meu cajueiro que aí ficou como um símbolo, plantado no coração da terra parnaibana e, carinhosamente, colhes das suas castanhas e das suas folhas fartas e verdes, para que as almas boas conservem uma lembrança do teu filho, arrebatado no turbilhão da dor e da morte.
Ao Mirocles, mamãe, que providenciou quanto ao destino desse irmão que aí deixei, enfeitado de flores e passarinhos, estuante de selva na carne moça da terra, pedi velasse pelos teus dias de isolamento e velhice, substituindo-me junto do teu coração. Todos os nossos te estendem as suas mãos bondosas e amigas e é assombrada que, hoje, ouves a minha voz, através das mensagens que tenho escrito para quantos me possam compreender. Sensibilizam-se as tuas lágrimas, quando passas os olhos cansados sobre as minhas páginas póstumas e procuro dissipar as dúvidas que torturam o teu coração, combalido nas lutas. Assalta-me o desejo de me encontrares, tocando-me com a generosa ternura de tuas mãos, lamentando as tuas vacilações e os teus escrúpulos, temendo aceitar as verdades espíritas em detrimento da fé católica que te vem sustentando nas provações. Mas não é preciso, mamãe, que me procures nas organizações espiritistas e para creres na sobrevivência do teu filho não é necessário que abandones os princípios da tua fé. Já não há mais tempo para que o teu espírito excursione em experiências no caminho vasto das filosofias religiosas.
Numa de suas páginas, dizia Coelho Neto que as religiões são como as linguagens. Cada doutrina envia a Deus, a seu modo, o voto de sua súplica ou de sua adoração. Muitas mentalidades entregam-se aí no mundo aos trabalhos da discussão. Chega porém um dia em que o homem acha melhor repousar na fé a que se habituou, nas suas meditações e nas suas lutas. Esse dia, mamãe, é o que estás vivendo, refugiada no conforto triste das lágrimas e das recordações. Ascendendo às culminâncias do teu Calvário de saudade e de angústia, fixas os teus olhos na celeste expressão do Crucificado, e Jesus que é a providência misericordiosa de todos os desamparados e de todos os tristes, te fala ao coração dos vinhos suaves e doces de Caná que se metamorfosearam no vinagre amargoso dos martírios e das palmas verdes de Jerusalém que se transformaram na pesada coroa de espinhos. A cruz então se te afigura mais leve e caminhas. Amigos devotados e carinhosos te enviam de longe o terno consolo dos seus afetos e prosseguindo no teu culto de amor aos filhos distantes, esperas que o Senhor com as suas mãos prestigiosas, venha decifrar para os teus olhos os grandes mistérios da Vida.
Esperar e sofrer têm sido os dois grandes motivos em torno dos quais rodopiaram os teus quase setenta e cinco anos de provações, de viuvez e de orfandade.
E eu, minha mãe, não estou mais aí para afagar-te as mãos trêmulas e os teus cabelos brancos que as dores santificaram. Não posso prover-te de pão e nem guardar-te da fúria da tempestade, mas abraçando o teu espírito, sou a força que adquires na oração como se absorvesses um vinho misterioso e divino.
Inquirido certa vez pelo grande Luís Gama sobre as necessidades de sua alforria, um jovem escravo lhe observou:
"Não, meu senhor! A liberdade que me oferece me doeria mais que o ferrete da escravidão, porque minha mãe, cansada e decrépita, ficaria sozinha nos martírios do cativeiro."
Se Deus me perguntasse, mamãe, sobre os imperativos da minha emancipação espiritual, eu teria preferido ficar aí, não obstante a claridade apagada e triste dos meus olhos e hipertrofia que me transformava num monstro para levar-te o meu carinho e a minha afeição, até que pudéssemos partir juntos, desse mundo onde sonhamos tudo para nada alcançar.
Mas se a morte parte os grilhões frágeis do corpo, é impotente para dissolver as algemas inquebrantáveis do espírito.
Deixa que o teu coração prossiga, oficiando no altar da saudade e da oração; cântaro divino e santificado, Deus colocará dentro dele o mel abençoado da esperança e da crença, e, um dia, no portal ignorado do mundo das sombras, eu virei, de mãos entrelaçadas com a Midoca, retrocedendo no tempo para nos transformarmos em tuas crianças bem-amadas. Seremos agasalhados então nos teus braços cariciosos como dois passarinhos minúsculos, ansiosos da doçura quente e doce das asas de sua mãe e guardaremos as nossas lágrimas nos cofres de Deus onde elas se cristalizam como as moedas fulgurantes e eternas do erário de todos os infelizes e desafortunados do mundo.
—Tuas mãos segurarão ainda o "terço" das preces inesquecíveis e nos ensinarás, de joelhos, a implorar de mãos postas as bênçãos prestigiosas do Céu. E enquanto os teus lábios sussurrarem de mansinho –"Salve, Rainha… mãe de misericórdia… ", começaremos juntos a viagem ditosa do Infinito sobre o dossel luminoso das nuvens claras, tênues e alegres do Amor.

Espírito Humberto de Campos (Irmão X), do livro Palavras do Infinito, psicografado por Chico Xavier, em 1936.