Ela
Onde ela passa qual estrela,
Célere e luminosa,
Varrendo a escuridão da vida humana,
O carvão da miséria
Faz-se bendito lume,
Atraindo as mãos frias
De velhos e crianças
Que soluçam na sombra.
Onde ela passa docemente,
Por divina visão
Entre os campos do mundo,
Toda planta esmagada
Reverdece de novo
Ao brilho da esperança.
Onde ela passa generosa,
Sobre a lama da Terra,
Lírios brotam do charco,
Perfumados e puros,
Como bênçãos do Céu
Projetadas no lodo.
Ninguém lhe ouviu jamais qualquer palavra
De azedia ou censura.
Apenas a vaidade muitas vezes
Lhe toma a retaguarda
E espalha o pessimismo
Nos corações, em torno,
Comentando, agressiva,
A torva indiferença
Dos que bebem a sós
O vinho da ilusão
E devoram, cruéis,
O pão da mesa farta,
Dando sobras ao mofo,
Atolados na usura
Que o ouro anestesia.
Ela passa, entretanto,
Nobre, serena e bela,
Em profundo silêncio,
Educando e servindo
Sem que ninguém lhe escute
Sequer o próprio hálito…
Porquanto, em tudo e em todos,
É sempre a Caridade — a Luz que vem de Deus.
Espírito RODRIGUES DE ABREU (Benedito Luís de Abreu)*, do livro Antologia dos imortais, psicografado por Chico Xavier.
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(*) Poeta, teatrólogo, educador. Escreveu nos principais jornais e revistas dos Pais. Tendo sido a infância de Rodrigues de Abreu uma das mais afanosas, iniciou ele o curso primário em Piracicaba, completando-o em São Paulo. Depois de muitas reviravoltas por diversos colégios, de outras cidades, regressa o poeta à Capital paulista, onde passa a lecionar. Posteriormente, transfere-se para sua terra natal, desencarnando, mais tarde, em Bauru. Péricles Eugênio da Silva Ramos (in Lit, no Brasil, III, t. 1, página 538) classifica Rodrigues de Abreu como poeta modernista não «histórico» e acrescenta, adiante, que ele “cultivou uma poesia simples, sentimental e dolorida”. Embora Afonso Schmidt (in Dic. Aut. Paulistas, pág. 16) o considere «um dos maiores poetas de São Paulo», Domingos Carvalho da Silva, "0 seu melhor crítico", diz que R.A., como poeta, foi "alto valor que não chegou a realizar-se, mas que manteve sempre a sua individualidade" (apud Pan. VI, pág. 80). (Municipal de Capivari, Estado de São Paulo, 27 de Setembro de 1897 — Bauru, Estado de São Paulo, 24 de Novembro de 1927.)
BIBLIOGRAFIA: Noturnos; A Sala dos Passes Perdidos; Casa Destelhada; etc.
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