Uma melindrosa operação evitada pelo espírito de Bezerra
Lembrando a lenda do coelho que voltou à toca:
Não há ninguém que não tenha, em sua vida, um Caso Espírita, revelando um ato de misericórdia de Deus.
Poucos, todavia, são aqueles que têm o desassombro de os revelar ou permitir que corram mundo nas asas da publicidade...
De muitos conhecidos nossos, que se dizem crentes e obsequiados pelo Espiritismo, ouvimos:
— Contamos-lhe isto, aqui, entre nós, em segredo... Mas não vá publicá-lo...
Temem, ainda, perder amigos, afrontar os preconceitos, contrariar os parentes...
Querem ser servidos mas não querem servir, testemunhar a Verdade e dar de si um exemplo de gratidão e humildade...
Também, agraciados, melhorados no físico, não se dão pressa de lutar pela sua melhoria espiritual...
E quando menos esperam, visto que não entenderam a advertência amorosa do Aguilhão Bendito, no dizer de Humberto de Campos, a enfermidade volta maior e mais grave para que traduzam a palavra de Vida do Divino Mestre, quando recomendava ao beneficiado pela sua Bondade:
— Vai e não peques mais...
É por isto que sem o aguilhão bendito seria impossível, ainda no dizer do inspirado e querido Irmão X., tanger o rebanho humano das lamas da Terra para as culminâncias do Céu.
O nosso Irmão M., residente no Rio, há tempos vinha recebendo graças preciosas através do Espiritismo.
Fazia-se mau entendedor para não extremar nas dádivas recebidas o chamado ao Bom Combate, ao caminho estreito e íngreme, à necessidade de sua reforma moral...
E isto era dificílimo...
Em 1943, num domingo de maio, sua esposa adoece gravemente. Tratava-se de uma inflamação nos ovários, que se agravara e se complicara com outras enfermidades antigas e que, no dizer dos Médicos, pedia intervenção cirúrgica, urgentíssima, se bem que considerada muito melindrosa e com poucas esperanças de êxito...
Dois dias correram.
E na terça-feira, à tarde, depois de tudo preparado para a operação inevitável no dia seguinte e visto que a doente piorava, sofrendo dores alucinantes, o nosso Irmão M., em estado de desespero, saiu de casa, deixando todos os familiares inquietos. E bate às portas da Casa de Ismael.
Eram 20 horas. A Sessão doutrinária e pública havia começado. M. Quintão prelecionava sobre o tema da noite: Doentes e Doenças à luz do Espiritismo, mostrando, com clareza e erudição e a uma assistência numerosa e homogênea, a Causa e os efeitos de nossas mazelas físicas e Espirituais. Nosso Irmão M. é tocado no imo da alma.
Ajoelha, ali mesmo, o Espírito enfermo, aflito, desgovernado. E pede com fé, entre o pranto sincero, que o caroável Bezerra, o Médico dos pobres, o Amigo dos desesperados condenados pela Medicina da Terra, por misericórdia de Jesus e por intercessão da Virgem, fosse ao seu lar e medicasse sua mulher e, se possível, que lhe evitasse a operação premeditada para a madrugada seguinte!!!
E assim fica, em Prece, até o fim da Sessão.
Somente sai de seu estado de profunda concentração e súplica, quando alguém lhe toca no ombro.
Era M. Quintão, médium sensível, que lhe captou o pedido, que lhe sente o caso doloroso e lhe diz:
— Vá, meu Irmão, em Paz e agradeça a Jesus que, pelo Espírito de Bezerra de Menezes, como pediu, acaba de medicar sua esposa e evitar-lhe a operação melindrosa... Procure ser digno da Graça recebida...
Nosso Irmão M., coração aos pulos, com o rosto banhado de lágrimas, agradece a M. Quintão e desce a escadaria da Federação e, daí a uma hora, chega ao lar. Encontra-o em silêncio profundo. Surpreende-se, amedronta-se.
Pensa no desencarne da companheira. E entra, pé ante pé, suando, assustado. E, uma de suas cunhadas, vem-lhe ao encontro e sussurra-lhe:
— Silêncio, está dormindo desde às 20 horas, depois que você saiu. Parece que houve algum milagre porque deixou de gemer...
Horas depois a enferma acorda, já melhorada, e diz:
— Depois que meu marido saiu, momentos após, vi chegar à minha frente um velhinho simpático, vestido de branco com barbas grisalhas. Colocou as mãos à minha testa e disse: Minha filha, tenha fé em Jesus. Em seu nome e por intercessão da Virgem, vamos medicá-la. Fui como que anestesiada e não vi mais nada. E a verdade é que dormi e agora não sinto mais dores. Acho-me melhor. Graças a Deus!
No dia seguinte, bem cedo, a ambulância e os Médicos do Gafree chegam à casa do Irmão M. Os facultativos examinam a doente e surpreendem-se, entreolham-se, admirados, constatando sua melhora e a desnecessidade da operação.
E um, dentre eles, indaga ao Chefe da casa:
— Que houve em nossa ausência, de ontem para cá?
Nosso Irmão sorri e silencia-se...
Teme afrontar preconceitos, contar a graça recebida...
Como o coelho da lenda contada por Viriato Correia, depois do benefício recebido e chamado a um testemunho, entrou, de novo, na toca..., no clima das sombras, na vida sem Roteiro salvacionista, sem deveres libertadores e com a mente obnubilada pelas trevas do orgulho, à espera de outro toque, de uma outra chamada, de um outro empurrão maior, na pessoa do Aguilhão Bendito...
E quantos por esse Mundo de Deus assim ainda procedem! …