Um de seus filhos é tomado de alienação mental

“Um de nossos filhos, moço de grande inteligência e de coração bem formado, foi subitamente tomado de alienação mental".
Os primeiros médicos do Rio de Janeiro fizeram o diagnóstico de loucura e como loucura trataram, sem que obtivessem o mínimo resultado.
Notávamos nós um fenômeno singular: quando o doente, passando o acesso e entrando no período lúcido, ficava calmo, manifestava perfeita consciência, memória completa e razão clara, de conversar criteriosamente sobre qualquer assunto, mesmo literário ou científico, pois estudava medicina, quando foi assaltado. Mais de uma vez, afirmou-nos que bem conhecia estar praticando mal, durante os acessos, mas que era arrastado por uma força superior à sua vontade, e que em vão tentava resistir.
Apesar de não podermos explicar como, continuando o cérebro lesado, dava-se aquele fenômeno de perfeita clarividência ou de nítida transmissão dos pensamentos, acompanhamos o juízo dos médicos, nossos colegas, de ser o caso verdadeira loucura.
Desanimados, por falharem todos os meios empregados, disseram-nos aqueles colegas que era inconveniente e perigoso conservar o doente em casa, e que urgia mandá-lo para o hospício.
Foi ante esta dolorosa contingência de uma separação mais dolorosa que a da morte, que resolvemos atender a um amigo que havia muito nos instava para que recorrêssemos ao Espiritismo.
Obsessão, respondeu-nos o Espírito que veio à nossa evocação, acrescentando que além do tratamento terapêutico, que deve ser dirigido sobre o baço, que no homem, como o útero da mulher, é a porta às obsessões, sempre ligadas a uma lesão orgânica, é indispensável evocar o obsessor, e alcançar dele que desista da perseguição.
Foi marcado o dia para a aconselhada evocação, a primeira a que assistimos.
Veio o Espírito inimigo, que se dirigiu exclusivamente à nossa pessoa, de quem, primeiramente, queria tirar vingança, por mal que lhe havíamos feito em passada existência.
— Não posso fazer-te o que a ele faço, disse bramindo, por que és mais adiantado; mas castigo-te indiretamente na pessoa de teu filho amado, que também concorreu para meu mal.
Não foi possível acalmar-lhe a sanha, que se acentuava à medida que se lhe falava em paz, amor e perdão.
Saímos abatidos e confusos por tudo o que vimos e ouvimos principalmente porque o Espírito se referiu a um pensamento nosso, a ninguém revelado.
A este trabalho, sem nenhum resultado, seguiram-se outros fatos, parecendo, às vezes, que o inimigo se abrandava, esperança que em breve se dissipava, vindo ele, outro dia, mais cheio de ódio e sedento de vingança.
Neste ínterim, um amigo nosso, tão distinto por sua ilustração como pelo seu caráter, nos comunicou o seguinte, que nos esclareceu sobre aquele ódio intransigente.
Orava ele, à hora de deitar-se, e à sua prece de costume, ajuntou uma especial em favor do Espírito do nosso perseguidor, para que tivesse a luz e reconhecesse o mal que a si próprio estava fazendo.
Ouviu então uma voz que lhe disse: Vê; e olhando na direção da voz, viu aquele amigo uma masmorra imunda e tenebrosa, onde um homem, acorrentado e agrilhoado, gemia suas misérias e as de sua mulher e filhinhos, privados de todo o apoio.
— Queres que eu perdoe a quem me reduziu a este estado  e, o pior, reduziu os entes que mais amei na vida? perguntou a voz que vinha do prisioneiro.
Travou-se entre os dois uma discussão que não vem a propósito transcrever aqui. O que é essencial saber é que a justiça de Deus se cumpria no fato que tão dolorosamente nos fazia sangrar o coração. Devemos acrescentar aos que acabamos de referir, que o cavalheiro com quem se deu este fato, era médium inconsciente, e hoje se acha na plenitude das mediunidades auditiva, vidência, psicográfica e sonambúlica.
O moço era vítima de seus abusos noutra existência, continuou a sofrer a perseguição, e por tanto tempo a sofreu, que seu cérebro se ressentiu, de forma que, quando o obsessor, afinal arrependido, deixou-o, ele ficou calmo, sem mais ter acessos, porém não recuperou a vivacidade de sua inteligência. O instrumento ainda não se restabeleceu.”

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