Passes em cerca de duzentas pessoas

Em dezembro de 1933 fomos passar férias em Minas.
De novo, com o físico melhorado, voltamos ao convívio cristão da abnegada Família dos Guerras.
Num domingo, pela manhã, um trabalhador humilde, montado num cavalo e trazendo outro puxado, procurou-nos.
Vinha, em nome dos moradores da Fazenda dos Cariocas, convidar-nos para uma palestra. Sentiam-se todos, pobres de espírito, limpos de coração, desejosos de esclarecimentos evangélicos.
Falava de forma tão humilde, demonstrando tanta sinceridade em nos acolher, que o atendemos.
O tempo estava ameaçador, anunciando aguaceiro pesado para mais tarde.
Os familiares avisavam-nos, sentindo a distância da viagem e a delicadeza de nossa missão.
Após o almoço, partimos guiado pelo irmão visitante.
Depois de 2 horas de caminhada, a cavalo, chegamos.
No pátio da Fazenda aguardava-nos uma assembleia de cerca de duzentos trabalhadores do campo, irmãos humildes e sinceros, todos descalços, homens e mulheres, com os filhos ao colo, trazendo-nos as fisionomias apreensivas de sofredores e incompreendidos...
Comovemo-nos, sobremodo. Sentimo-nos pequenino diante daquela assembleia de irmãos necessitados, ansiosos por nos ouvirem, com a certeza de que lhes traríamos o de que necessitavam ...
Convidamos todos à oração. Íamos pedir à Virgem, à Mãe do Céu para sermos o instrumental humilde de sua Graça, pois de nós nada possuímos e a graça veio, por misericórdia e acréscimo. Falamos cerca de uma hora e meia.
Bezerra nos assistia. E — o que falamos não era nosso, era dele. E nos beneficiava, e beneficiava aquele ajuntamento de criaturas simples e boas, crentes e humildes.
Choramos de emoção, sentindo as vibrações superiores e evangelizadoras do Médico dos Pobres. Quando acabamos, agradecendo com a Prece a Graça recebida, notávamos que as fisionomias estavam serenas, jubilosas, consoladas, esclarecidas, visitadas por algo de mais Alto, do Coração luminoso da Rainha do Céu!
Depois, já preparado para a volta, alguém veio ao nosso encontro e diz-nos que toda a assistência desejava que déssemos, por caridade, um passe em cada um...
Assustamo-nos. Ficamos perplexo! Seria possível realizar tal coisa?
Fomos para um canto e oramos. Pedimos à Virgem que nos ajudasse a finalizar, com amor e fé, aquele Banquete espiritual, visto que o pedido vinha de almas humildes, que tinham tomado um passe coletivo mas que apenas acreditavam naquele que nos pediam...
Fomos atendido, porque sentimos que o velhinho abnegado, Bezerra de Menezes, falava-nos aos ouvidos, amoroso e bom:
— Dê-lhes o passe. Tudo há de correr bem...
E um a um veio à nossa frente e, sob a imposição de nossas mãos ajudadas, tomou o passe...
Cerca de duzentos irmãos foram atendidos.
Quando acabamos, sentimos uma fraqueza enorme...
Montamos a cavalo e partimos, deixando para trás corações suspensos e agradecidos, dizendo-nos com amor e sinceridade:
— Vá com Deus, moço!
E viemos mesmo com Deus! Mais fortalecidos!
Jamais vivemos um dia tão lindo, tão cheio das Graças Divinas!

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