Nossa Estrada De Damasco

Com um prefácio ao nosso livro de versos — O Sol da Caridade — saído à publicidade em 1937 com a apresentação valiosa de Manuel Quintão, assim sintetizamos nossa Estrada de Damasco:

28 de Dezembro de 1931.
Viéramos de Minas, de uma Fazenda em Santa Helena, convalescendo de inexplicável doença, aparecida desde quando fizéramos uma conferência no Grupo Fe e Esperança sobre o tema: História de um coração, onde mostráramos nossa simpatia pelo Espiritismo e quando sob nossa surpresa, de improviso, ressaltáramos os feitos de Manoel Pessoa de Campos, penitenciando-nos da crítica que lhe fizéramos em 1921.
De Minas, chegáramos assim com fôramos: nervosos e sentindo inexplicáveis tonteiras. 
Na noite da chegada, dormíramos pouco e mal.
No dia seguinte, estávamos logo com a intenção de voltar para o campo, para a Fazenda querida dos Guerras, de ambiente verdadeiramente cristão, em busca de remédio para o corpo quando era o espírito que se achava mais doente, acovardado, e, por servidão aos preconceitos, temeroso de se dizer espírita e conviver, às claras, com os Espíritas...
E o toque de chamada ali estava, como estivera conosco, em Minas, quando leváramos os primeiros sustos a Serviço do Senhor.
Foi quando, sozinho, em casa, lembramo-nos de orar.
E o fizéramos entre lágrimas.
Prece de coração ajoelhado como jamais fizéramos.
Sentíamo-nos em meio de Amigos invisíveis e recordamo-nos de que pedíamos a Deus: Força e Luz para bem cumprirmos a missão que lhe prometêramos e, estivesse, ela, no Espiritismo, que nos inspirasse, que nos desse ajuda, que nos curasse o corpo e, mais ainda, o espírito.
Fomos atendido, graças a Deus!
A nossa casa chegara nossa querida esposa, que fora fazer compras para o nosso embarque, no dia seguinte, para Minas.
Tomando uma resolução que a surpreendera, convidamo-la para visitarmos uma vizinha ao lado de nossa casa, que era Espírita e possuía uma filha e uma irmã médiuns. Tratava-se da abnegada Família Alcinda Jacob.
Em lá chegando, pedimos à Irmã Filizaulina que nos desse um passe. O Espírito Amigo, que nos dera o nome de Bezerra de Menezes, trouxe-nos o remédio, dizendo-nos:
— Meu irmão não pedira, em seus Versos, constantes de seu livro Estuário — com o título:Quando menino eu era, para ser o Estuário da dor alheia e fazer o bem? Releia esses versos e verá... Por que pôs os pés na Estrada redentora e os tirou, dizendo à sua companheira que Bastava Estudar em casa a Doutrina Espírita sem ser preciso conviver com os Espíritas e ser um deles? (Nossa irmã Filizaulina, filha de D. Alcinda Jacob, não conhecia nosso livro citado e muito menos a poesia Quando Menino eu era, que Hermes Fontes elogiara e nela descobrira uma profissão de nossa fé. Também não sabia a médium o diálogo que tivéramos com a cara esposa quanto ao convívio íntimo com os Espíritas, que desejávamos evitar...), E, sob nossa surpresa e emoção, o Espirito comunicante continuou:
— Agora, mister se faz que marche, ande mesmo com firmeza, destemerosamente, certo de que irá servir a uma Grande Causa, à da Verdade, pois sua Seara é vasta e precisa de trabalhadores humildes, sinceros, corajosos e arrependidos... Tome este remédio e ficará bem melhor.
Entre envergonhado e aturdido, voltamos ao lar e já sentindo-nos melhor, mais calmo e sem tonteiras. Dormimos uma noite maravilhosa, graças a Deus!
No lar, no dia seguinte, junto da prezada companheira, abrimos o nosso livro Estuário e lemos, para melhor sentirmos, a nossa Profissão de Fé:

Quando menino eu era

Quando, uma vez, menino eu era e não sofria,
Pedi, cheio de fé, ao Deus deste Universo:
Para ver a Verdade e tê-la como Guia,
E ter Inspiração para fazer meu verso.

Depois, pouco sofrendo e abraçado à Poesia,
Pedi mais para, em mar de dor profundo, imerso,
Viver cantando e ser, em mística ufania,
Do alheio sofrimento o refletor mais terso…

E Deus, que tudo sabe e que é Bom, deu-me o pranto,
E deu-me a dor e deu-me a Inspiração pedida,
E deu-me a Luz dos Bons e fez-me um miserando…

E desde então eu sofro, e desde então eu canto,
Interpretando a dor, o amor, tudo na Vida,
E desde então eu sofro e sou feliz cantando…

Depois disto, com a esposa, tornáramos espíritas e desejosos de conviver com os Espíritas, eis tudo.
Pela voz de Bezerra de Menezes, Jesus chamava-nos ao Bom Combate.
Graças a Deus!

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