Em oração à Mãe do Céu

Ano de 1890.
Vivia em Niterói, numa casinha rústica, uma pobre mulher, viúva e mãe de cinco filhos.
Era vítima de tenaz obsessão.
O obsessor era o espírito de sua própria filha mais velha, desencarnada numa casa vizinha, cujos moradores a acolheram apiedados de sua situação pré-agônica e de miserabilidade moral.
Mesmo na hora da morte, não quisera ver sua progenitora e nem seus pequeninos irmãos. Sentia-se vítima da incúria materna. E seu decesso deu-se, portanto, sem que seus familiares lhe dessem o último adeus de despedida...
E, agora, lá do Alto, obsidiava sua própria mãe, a quem culpava pela prostituição de seu corpo e a derrota de seu Espírito.
Várias confrades tinham ido à casa da pobre irmã assediada.
Nada conseguiram. Ali estava um caso em que a medicina terrestre não conseguia interferência.
O verdugo vampirizava o corpo da vítima, jugulando-lhe o espírito, vingando-se à vontade...
Um caso doloroso, que somente poderia ser solucionado, mercê de Deus, por quem vivesse num clima de Jejum e Oração. Sim, por quem possuísse Amor, Força Moral capaz de distribuí-los ao Espírito adverso, ensejando-lhe o perdão salvador.
E foram procurar Bezerra de Menezes, que, inteirado do caso doloroso, considerou:
— Se vocês nada conseguiram, que poderei fazer?...
Mas tanto insistiram, que Bezerra cedeu, atendendo-lhes o chamado cristão.
Foi a Niterói. E, ao ver o quadro pungente, comoveu-se, dizendo, com humildade e amor. ao Espírito obsessor:
— Então, minha cara irmã, que coragem, que impiedade obsidiando sua própria progenitora!...
— Foi ela quem me jogou na estrada do vício e me fez falir e desencarnar derrotada, respondeu-lhe o obsessor...
— Mas, retrucou-lhe Bezerra, com seu livre arbítrio e os conselhos de seu Guia, poderia ter evitado sua queda. Sua progenitora não é totalmente culpada.
Você também o é, visto que não soube vencer a tentação do luxo, do dinheiro fácil, a vaidade, das ilusões da carne...
— Não lhe perdoo... Ela é a mais culpada...
— Orou alguma vez, pediu perdão de suas faltas a Maria Santíssima, a Mãe das Mães?!
— Não. Nunca orei, jamais cogitei disto...
— Permita, então, que ore por você à Mãe do Céu?
— Se quiser, pode fazer...
E Bezerra pôs-se de pé e começou a orar, como somente ele sabia e sabe, na voz do sentimento, na fala do coração e sob a exaltação da poesia das lágrimas.
Em dado momento, o Espírito da filha obsidiante, olha-o admirada. Sente-lhe as palavras sinceras penetrando-lhe o íntimo. Comove-se, e, quando ele termina a Prece, não se contém, levanta-se incorporada à vítima, sua própria mãe, segura, com as mãos trêmulas, a cabeça grisalha do bondoso Apóstolo, e beija-lhe a fronte, exclamando em soluços:
— Quem ora assim tem Deus dentro da alma, algo que não tenho. Está com a Verdade!
E parte, deixando sua progenitora livre, alterando-lhe a paisagem orgânica.
Mais tarde, no Grupo Ismael, da Federação Espírita Brasileira, presidido por Bezerra, incorpora-se num médium e lhe diz:
— Obrigada. O Sr. tem piedade e ensina sem ferir. Obrigada pelo bem que me fez. A Mãe do Céu atendeu sua súplica e me salvou, possibilitando-me entender meu dever, o mal que fazia a mim mesmo. E, agora, com Sua ajuda, estou sendo medicada, aprendendo a ser melhor e a apagar de meu pretérito as sombras dos meus vícios e dos males que fiz...
Desincorporou-se do médium, soluçando, e alçou-se à Espiritualidade deixando entre os presentes um suave bem-estar, a carícia da sua gratidão, uma como lembrança de seu Espírito feliz em caminho da sua redenção e sob o amparo bendito do Coração amoroso da Rainha do Céu.

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