É meu filho que me vem dar sinal de ter morrido
D. Cândida de Lacerda Machado, senhora tão distinta pela inteligência como por virtudes, que viveu na boa sociedade do Rio de Janeiro, tinha em São Paulo, estudando na Faculdade de Direito, o filho de seu primeiro matrimônio.
Um dia, recebeu carta do moço, que se achava de perfeita saúde, e na noite desse mesmo dia, ao apagar a vela para dormir, ouviu distintamente o som da queda de um pesado castiçal de prata, pousado sobre uma mesa, a alguma distância da casa.
Acreditando que gato ou rato lançara abaixo o estimado objeto, acordou o marido, que, acendendo a vela, viu, com ele, o castiçal em seu lugar.
— Foi sonho, disse ele. — Não, eu estava acordada, respondeu a senhora.
E, depois de longa discussão, apagaram de novo a vela, para dormirem.
Imediatamente, fere-lhes os ouvidos o som da queda do castiçal; ao que acudiu o homem dizendo: — Agora, sim: garanto que caiu.
Acesa a vela, foram surpreendidos com a presença do castiçal no seu lugar!
Muito tempo levaram em conjeturar, até que resolveram repousar.
Deu-se, então, um fato singular para a senhora, ainda acordada, enquanto o marido já dormia.
Uma mão deslizou doce e amavelmente pela testa de D. Maria e tomando-lhe os bastos e longos cabelos, soltos, correu por eles até às pontas.
—É meu filho, que me vem dar sinal de ter morrido! exclamou a angustiada senhora. Reconheci-lhe a mão, fazendo, com meus cabelos, o que sempre foi de seu gosto. É ele!
E não houve como dissuadi-la daquela ideia, nem durante o resto da noite, que levou a prantear o filho, nem do dia seguinte, quando famílias amigas acudiam a convencê-la de que era infundado seu juízo, à vista da carta que dava o moço de perfeita saúde.
Dois dias depois, chegou o vapor de Santos, única via célere, de então, entre a Corte e a província de São Paulo, e, por ele, veio a notícia da morte do jovem, colhido por uma enfermidade, exatamente no dia em que foi aqui recebida sua carta.