Os artigos de Max

Max (Dr. Bezerra de Menezes)

Bezerra de Menezes era um religioso no mais alto sentido. Sua religião era  propriamente a espírita, era o Cristianismo esclarecido pelo Espiritismo. Sua pena foi, por isso, desde o primeiro artigo assinado, em janeiro de 1887, posta ao serviço da religião cristã espírita ou kardecismo.
Para ele esse ponto de vista sectário era o Espiritismo: "O maior inimigo do Espiritismo, doutrina moral que desenvolve e esclarece os pontos obscuros da que foi pregada por Jesus Cristo, é o catolicismo".
Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filosófico e religioso quer pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários a Comissão de Propaganda da União Espírita do Brasil (Carlos Cirne e F. Pacheco) incumbiu Bezerra de Menezes de escrever aos domingos, no Jornal O Paiz, a série de "Estudos Filosóficos" sob o título "O Espiritismo". Quintino Bocaiúva, diretor daquele jornal de grande circulação, "o mais lido do Brasil", era simpatizante (e foi depois sincero espírita, que vimos uma vez subir as escadas da Federação para em simplicidade, como outros, que ali estavam, pedir uma receita mediúnica).
Os artigos de Max, pseudônimo de Bezerra de Menezes, marcaram a época de ouro da propaganda no Brasil. De novembro de 1886 a dezembro de 1893, fim do quarto período, escreve ininterruptamente, ardentemente. A nosso ver, e desafiamos contestação, nunca esses artigos foram superados por outros, antes ou depois. Chamamos para eles a atenção não só dos velhos, como principalmente dos novos, que usam da palavra e da pena em prol do Espiritismo. Não possuímos em língua brasileira maior repertório doutrinário do kardecismo. Ninguém falou com maior eloquência, maior sinceridade, maior lógica. Seus formosos pensamentos deviam ser repetidos e propalados amiúde, pois somente relendo e divulgando Max poderão os seus discípulos compreender quanto de errado, quanto de confuso e quanto de ignorância se tem propalado depois dele em nome da mesma doutrina que ele elevou às culminâncias. A leitura de Max devia ser obrigatória, como a leitura de Kardec, para todos que entram.
A par desses artigos, escreveu em 1888 o romance A Casa Mal Assombrada, que honra qualquer estante e prende qualquer atenção. Nesse mesmo ano sofreu a perda de dois filhos.

Em meio a tanto trabalho de valor, Bezerra de Menezes deixava de vez em quando transpirar a sua mágoa pela desunião dos espíritas, e concitava camarariamente os confrades à harmonia, à fraternidade. Não era possível admitir que gente bem intencionada, desejosa de reformar os maus costumes, de dominar as paixões de homem velho, de mudar a face das coisas, de espiritualizar e cristianizar o meio brasileiro, não fosse a primeira a dar o exemplo de tolerância, unindo-se entre si. A divergência era por questiúnculas de interpretação. Com seu elevado tino político, possuindo um caráter do tipo "eleitoral", sabia que os homens constituiriam células em torno do que tivesse mais prestígio. Urgia que aparecesse alguém com prestígio maior do que o de todos, capaz de fazer em volta de si um partido dominante. Urgia, sobretudo, tirar de certos indivíduos mal intencionados, por delicadeza chamados "obsediados", a liberdade de doutrinar em nome do Espiritismo, que adulteravam consciente ou inconscientemente. Não havia maior inimigo do que o ignorante pretensioso arvorado em chefe de grupo. A continuar pelo caminho de ampla liberdade, em que o primeiro energúmeno podia considerar-se capitão de capa e espada, o Espiritismo teria de sucumbir pelo ridículo. Para dirigir a propaganda impunha-se uma aristocracia no bom sentido. Uma aristocracia de verdadeiros conhecedores, uma nobreza de verdadeiros sentimentos. Duas entidades jurídicas disputavam, intramuros, a hegemonia, que a Academia, por seu feitio cabotino, e a Fraternidade, por sua intransigência sectária, haviam perdido inteiramente: a União Espírita do Brasil, que contava elementos de valor, e a Federação Espírita Brasileira, onde estavam reservas inestimáveis.
Ambas, porém, em crise financeira, viviam de coletas para pagar o aluguel, e a pretensão de unir os grupos poderia parecer interesseira.
Talvez fosse melhor pôr de lado as duas e formar uma terceira sociedade com os elementos de todos os grupos. A ideia era velha, mas parecia boa. Estava-se nesta hesitação, quando baixaram, na Fraternidade, as célebres "Instruções de Allan Kardec aos Espíritas do Brasil" (vide final desta obra).

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