Bezerra de Menezes - Deputado Geral

Em 1867, foi eleito deputado geral. Zacarias teve nele um adversário temível, que era preciso eliminar. Com a vitória do partido conservador, Bezerra caiu. Dez anos ficou na oposição. Dez anos combateu diariamente o Governo pela imprensa (A Reforma, órgão do partido liberal) e pela tribuna popular, em conferências.
Casara-se em segundas núpcias, ainda por amor, com aquela que estava destinada a ser o anjo do lar nas horas mais tristes, nas horas mais alegres, nas horas de descidas, nas horas de subidas, até lhe fechar os olhos. 
A par da medicina e da política ocupava-se também de algumas empresas. Era presidente da Companhia Carris Urbanos e foi o fundador da Estrada de Ferro Macaé a Campos.
Em 1878, voltou deputado e, no ano de 1880, foi também presidente da Câmara Municipal e líder do seu partido. Havia atingido um ponto elevado da sua carreira política. Podia ser chamado de um instante a outro a organizar gabinete. Mas seus ardores de reformar tudo e suas ideias adiantadas sobre município impediram sua ascensão. Para subir mais, seria preciso dobrar a espinha, conformar-se com a situação. Durante sua atividade política nenhuma questão social deixou de ter nele um pioneiro: o capital, o trabalho, a escravidão, a saúde pública, a universidade.
Combateu os desmandos, as roubalheiras, os escândalos. Por isso, foi combatido a rigor. A "imprensa, já e declínio para o vergonhoso estado de hoje — vasa imunda onde se deposita o lixo de todas as paixões ignóbeis; sentina onde a ralé tem certeza de encontrar os mercenários instrumentos para satisfazer os seus mais depravados instintos; mas também o sexto sentido dos povos, como disse Sycies; o fio dourado da transmissão do pensamento, que já foi uma luz em nossa terra, quando dirigida pelos homens mais respeitáveis da sociedade — era dirigida agora pela vasa social e acolhia e fazia sua a causa torpe dos especuladores, que o presidente da câmara tinha por dever enxotar do templo". (Casamento e Mortalha)
São dignas de apreço, ainda hoje, suas meditações sobre política municipal. "Árvore podre com folhagem verde... Não ressuscitará ao terceiro dia, nem ao terceiro mês, nem ao terceiro ano. O veneno que a consome está na atmosfera que a envolve. Só a podem respirar as almas pequeninas, eivadas da consumpção moral... Levado pelo princípio de que o elemento municipal é a célula geradora da verdadeira liberdade e da sábia direção dos povos, alimentei a ilusão de erguer o templo abatido. Em vão lutei. A onda, levantada pelo sopro furioso do Euro de todas as corrupções, envolveu o baixel em que me arrisquei."
E mais longe: "Tu, meu querido Brasil, tens andado sem leme e sem bússola precisamente porque nunca tiveste, e tão cedo não terás, em sua verdadeira base, a municipalidade. Cumpri meu dever, mas era cedo ainda."
A sua missão política tinha chegado ao ápice, como dissemos. Outra mais alta, para a qual já se vinha inconscientemente preparando, o aguardava, não para o coroar de louros, que perecem, mas para trazer à sua memória a imortalidade, em que vive, conservando-o como médico das almas ao serviço duma clientela que cresce todos os dias.

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