Augusto Elias da Silva
Augusto Elias da Silva, ao lançar em 21 de janeiro de 1883 o Reformador, que havia de marcar o início do quarto período (1883-1893), era ainda neófito e quase desconhecido. Datava de fins de 1881 o começo de seus estudos, numa sessão da Academia, diante de uns cinquenta "científicos". "Deus me perdoe os falsos juízos que então formei da ilustre diretoria. Saí mais incrédulo do que entrei e com o desejo de desmascarar os membros da "Academia", se os reconhecesse especuladores ou, então, se fossem apenas visionários, convencê-los do seu erro". (Reformador, 1891) Para isso continuou a frequentar sessões e a ler O Livro dos Espíritos". Pelo raciocínio, antes que pela observação, a bastilha de prevenções foi sendo abalada e certo dia caiu. Rendeu-se nobremente de corpo e alma e com tamanho ardor que, entre tantos veteranos, foi quem primeiro escreveu, em junho de 1882, uma réplica à Pastoral do mesmo mês e ano em que o Chefe da Igreja, no Rio de Janeiro, declarava: "Devemos odiar pelo dever de consciência".
Não conseguindo inserir o artigo em nenhuma folha, entrou a alimentar o desejo de possuir um jornal próprio ao serviço das ideias liberais. E quase sozinho, fazendo sacrifício acima das possibilidades, pois era apenas dono de um atelier fotográfico, concretizou a ideia seis meses depois. "Órgão evolucionista", o Reformador propunha-se a renovar os costumes. Tinha uma secção "consagrada a todas as corporações científicas, filosóficas e literárias", e outra para o Espiritismo. Editado o primeiro número, saiu a procurar colaboradores.
Naquela hora as forças católicas estavam em marcha. Dos púlpitos fluminenses despejavam-se insultos e insinuações. Sendo impossível ao católico, como disse Carlos de Laet, distinguir o Demônio invisível do seu evocador visível, o "ódio por dever de consciência" era contra o espírita. Não se pensava em salvar o "endemoninhado". Segundo a lei de Moisés, citada na Pastoral, cumpria exterminá-lo.
Elias foi bater à porta liberal de Bezerra de Menezes. Este o aconselhou a seguir naquele momento uma política discreta, não revidar com as mesmas armas, opor contra o ódio o amor, esperar que os vagalhões da maior força religiosa do país se acalmassem. Afrontar o temporal seria uma imprudência. Era conveniente conquistar, e não combater o católico.
E, enquanto o Dr. Antônio Pinheiro Guedes, médico homeopatia, com o pseudônimo de Guepian, o Marechal Francisco Raimundo Ewerton Quadros, com o pseudônimo de Freq, procediam à análise serena da Pastoral e dos ataques católicos, Bezerra de Menezes, com as iniciais A. M., comentava o catolicismo do ponto de vista geral, revelando grande cabedal teológico e de história.
Desta forma coube ao Reformador a glória de publicar as primícias daquele que seria depois, a partir de 16 de agosto de 1896, o maior escritor, o maior orador, a maior opinião do kardecismo brasileiro.
Para travar com maior probabilidade de vitória a luta contra "os quatro inimigos do Espiritismo: o materialismo, o positivismo, o racionalismo e o catolicismo", era imprescindível a união dos espíritas. O Reformador defendeu, por isso, o ponto de vista da União Espírita do Brasil, que era criar "um centro, no Rio, formado por delegados de todos os grupos". Não se tardou, porém, a perceber a dificuldade do plano. Não querendo ligar o Reformador a "nenhuma sociedade ou grupo espírita já organizado", (Reformador, 1893.) Elias e seus amigos Quadros, Xavier Pinheiro, Fernandes Figueira, Silveira Pinto, Romualdo Nunes e Pedro da Nóbrega, deliberaram, no Natal de 1883, fundar uma sociedade nova destinada a federar todos os grupos por um programa equilibrado ou misto. Esses amigos costumavam reunir-se em casa de Elias, à rua da Carioca n° 120, as terças, para confraternização espiritual e resolveram transformar esse grupo íntimo numa entidade jurídica de vastos horizontes. Na reunião seguinte, 1° de janeiro de 1884, aprovaram o plano duma Federação Espírita Brasileira. O médium Manoel Fernandes Figueira leu um interessante acróstico de "federação espírita brasileira", escrito na véspera, 31 de dezembro de 1883, em cujos dois últimos versos se pôde ver a verdadeira finalidade da agremiação:
Reunindo em um forte, indissolúvel laço
A crente comunhão espírita brasileira!