22 junho 2024

A Criação Divina


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E disse Deus no Infinito:
– “Que se faça o firmamento!".
E o Pai condensou aos poucos
O Seu próprio pensamento.
E a Santa Sabedoria
Deu início a sinfonia!
Fez o Espaço e a Energia,
A Matéria e o Movimento!

E disse Deus, satisfeito:
– “Que nos espaços profundos
Surjam infinitos mundos!”.
E os contínuos turbilhões,
A explodir no Espaço infindo,
Geraram astros fulgentes
De cores surpreendentes,
Galáxias! Constelações!

Estava feito o Universo
– Condensação da Vontade!
Infinito, eterno e puro,
Como o é a Divindade!
E nele estava presente
O Princípio Inteligente,
– E a Vida, em fase latente,
Esperava atividade!

E esse Princípio ativo,
Com o fluido universal,
Gera o simples vegetal!
– E a Vida acorda nos mundos!
E diz Deus onipresente
Ao Princípio na matéria:
– "Evoluir! És bactéria
No charco e mares profundos!".

E o ser unicelular
Desenvolve seu psiquismo;
Multiplica suas células,
Fragmenta-se – transformismo!
E nos ambientes vários,
Já não são protozoários,
São ativos operários
Com diferente organismo!

E o Princípio Inteligente
Com a Lei da Reencarnação,
Vai sofrendo mutação
Nos vários corpos que agita!
Cresce nas águas, no solo,
Evolui nos campos, erra,
É animal feroz na guerra,
Sofre, geme, chora e grita!

E chega o grande momento...
Vai espantar-se a Criação!
Deus proclama em muitos mundos:
– "Agora a humanização!”.
E a Santa Lei Paterna,
Que ao Universo governa,
Gera o Homem da Caverna,
– Ilumina-se a Razão!

Humanidades se espalham
Nos mundos já de granito,
Marcha o Homem pro Infinito,
Como quer o Criador!
Desenvolve o raciocínio,
Adquire conhecimento,
Vence a treva, o raio, a vento,
A neve, o mar, o calor!

Mas, a criação não para...
Vão nascer os novos mundos!
Rubros sóis geram planetas,
Pequenos, grandes, rotundos!
E a Terra – que é um estilhaço!
Surge e dança pelo Espaço,
Já trazendo no regaço,
Da Vida os germes fecundos!

E com a Lei da Evolução
Ganha o Globo o Ser Humano!
Desde logo é soberano
Na planície, rios, serra...
Vai passando o fio do Tempo...
E o Homem, já milenar,
Inda é bruto – e a guerrear,
Lava em sangue toda a Terra!

Povo escravo não tem pausa
No trabalho à luz do archote;
E monumentos, impérios,
São erguidos com o chicote!
Cresce a Cultura imortal,
Mas pouco avança a Moral,
– E da Lei o pedestal
É a forca, a cruz, o garrote!

Mas diz Deus Onisciente
A um dos seus Assessores:
– "Ouço da Terra os clamores!
Geme meu povo na cruz!
Desce, Cristo, ao escuro mundo,
E prega a Fraternidade!
A Verdade e a Caridade!
E inunda a Terra de luz!".

E a Luz espancou as trevas
Para que o Homem não peque;
Depois, reencarna Kardec!
– E o Globo vê nova luz!
E o gigante com a Ciência
Descobre e analisa o Espírito,
Interpreta o perispírito,
– E complementa Jesus!

Todas Leis então ocultas
São dadas à Humanidade!
Dissolvem-se antigos dogmas
À luz da Mediunidade!
E o Homem, que vivia aflito,
Na matéria circunscrito,
Hoje fala com o Infinito,
Tem na mão toda a Verdade!

O Universo é pensamento
Condensado – é vibração!
Mas o Espírito já puro
Foge à humana concepção!
Vê o átomo e a energia!
De Deus a Sabedoria!
O Amor que Ele irradia!
– E tem do Pai a visão!

Por isso, ó Homens da Terra,
Piedade com os ateus!
Como teve Jesus Cristo
Com os antigos fariseus!
Sede bons, tende Humildade!
Praticai a Caridade!
E aqui, na Imortalidade,
Vereis a face de Deus!

Castro Alves, do livro Como eu entendo. Psicografia de Jorge Rizzini.

(Anotações: Não necessitamos entender as nuances das escolas poéticas para sentir a beleza, a clareza e a exatidão com que o irmão Castro Alves descreve, em breves estrofes, a sequência da criação divina, desde a gênese até esta etapa... Inicia com o ‘pensamento divino’ plasmando os mundos espiritual e material, acompanhando o princípio inteligente – Espíritos – e o princípio vital – vida material. Culmina na exortação cristã da necessidade da humildade e da caridade para o correto evolutivo espiritual)
 

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