31 maio 2024

Adversários


Quando o Mestre nos recomendou amor aos inimigos, não nos induziu à genuflexão improdutiva à frente dos nossos adversários.

Ninguém precisa oscular o lodo escuro do pântano a fim de auxiliá-lo.

Ninguém necessita introduzir um espinho no próprio coração, a pretexto de aniquilar-lhe a expressão dilacerante.

O Senhor pede entendimento.

Imaginemo-nos na posição dos nossos inimigos, gratuitos ou não, e observemos como seria a nossa conduta se estivéssemos em lugar deles.

Permanecerá o nosso adversário em nossa posição de madureza espiritual quando conseguirmos examiná-lo com segurança moral?

Terá tido as mesmas oportunidades de que já dispomos para conhecer a verdade e semear o bem?

Guardaríamos o coração sem fel se nos demorássemos na posição onde se encontram, muitas vezes, dominados pela ignorância ou pelo desespero?

Assumiríamos conduta diferente daquela que lhes assinala as atividades, se fôssemos constrangidos a atravessar a zona empedrada em que jornadeiam?

Dificilmente chegaríamos a conclusões afirmativas.

Jesus, por isso, pede, acima de tudo, esquecimento do mal e disposição sincera para o bem, com atitudes positivas de boa vontade, a fim de que os nossos adversários nos identifiquem, com mais clareza, as boas intenções.

Recebamos o inimigo como instrutor e auxiliá-lo-emos a dilatar a visão que lhe é própria.

A compreensão é a raiz da verdadeira fraternidade.

Aprendamos, assim, a perceber a luz onde a luz se encontra, a fim de que nos armemos contra o poderio das trevas em nosso coração.

A boa vontade realiza milagres em nossa vida, se estamos realmente dispostos a caminhar para os cimos da vida.

Lembremo-nos de que Jesus, até hoje, está trabalhando no auxílio aos inimigos e o único caminho por Ele escolhido para esse apostolado de amor, é o caminho do sentimento, 16 porque só aquele que sabe conquistar o coração dos adversários pela cooperação e pela boa vontade pode, efetivamente, inflamar-se ao Sol do Amor Eterno, com a vitória sobre si mesmo, na subida espinhosa e santificante para a Glória Imortal.



Espírito Emmanuel, do livro A verdade responde, psicografado por Chico Xavier.

29 maio 2024

Aprender e recomeçar


Dizes que não tens condição para as obras da fé porque erraste.
Erraste e sofreste.
Sofreste e temes a crítica.
É possível que ainda lutes contigo mesmo.
Entretanto, não recuses o convite do bem que te chama a servir.
Esquece-te e caminha.
O trabalho em auxílio aos outros te fará profunda e bela renovação.
A bênção do Senhor te sustentará.
Se não crês no Amparo do Alto, observa a lição do Sol.
O astro do dia, vestido em luz pura e imensa, está sempre reiniciando o próprio trabalho, em cada hemisfério da Terra.
Pensemos nisso aprende a recomeçar.

Espírito Emmanuel, do livro Material de Construção, psicografado por Chico Xavier.

25 maio 2024

Diante das horas


O homem pode acumular o ouro para negociá-lo quando julgue oportuno, dispõe de meios, a fim de reter as safras de cereais, na expectativa de preços que lhe satisfaçam as conveniências.
Entretanto, das riquezas que a Divina Providência lhe empresta, uma existe que ele não consegue armazenar: é o tesouro dos dias.

Toda criatura é obrigada a gastar as próprias horas, trocando-as por algo.
Há quem as troque por trabalho e cultura, serviço ao próximo e dever cumprido, ociosidade e queixume, irritação e rebeldia.
Ao termo de cada existência no Plano Físico, os Administradores das Horas te perguntarão, naturalmente:
—“Que fizeste do tempo que o Senhor te confiou?”
Então, compreenderás, por fim, que o tempo é vida.

Espírito Emmanuel, do livro Agora é o Tempo, psicografado por Chico Xavier.

24 maio 2024

A Mestra Divina


"Estai, pois, firmes… " - Paulo (Efésios, 6:14.).

Arrancando-nos ao reduto da delinquência, e arrebatando-nos ao inferno da culpa, a que descemos pelo desvario da própria vontade, concede-nos o Senhor a mestra divina, que, apoiada no tempo, se converte na enfermeira de nossos males e no anjo infatigável que nos ampara o destino.

Paciente e imperturbável, devolve-nos todos os golpes com que dilaceramos o corpo da vida, para que não persistamos na grade do erro ou nos cárceres do remorso.

Aqui, modela berços entre chagas atrozes com que nos restaura os desequilíbrios do sentimento, ali traça programas reparadoras entre os quais padecemos no próprio corpo as feridas que abrimos no peito dos semelhantes.

Agora, reúne laços do mesmo sangue ferrenhos adversários que se digladiavam no ódio para que se reconciliem por intermédio de prementes obrigações, segundo os ditames da natureza; depois constrange à carência aflitiva, no lar empobrecido e doente, quantos se desmandaram nos abusos da avareza e da ambição sem limites, a fim de que retornem ao culto da verdadeira fraternidade.

Hoje, refaz a inteligência transviada nas sombras, pelo calvário da idiotia, amanhã, recompõe com o buril de moléstias ingratas a beleza do espírito que os nossos desregramentos no corpo transformam tantas vezes em fealdade e ruína.

Aqui corrige, adiante esclarece, além reajusta, mais além aprimora.

Incansável na marcha, cria e destrói, para reconstruir ante as metas do bem eterno, usando aflição e desgosto, desencanto e amargura, para que a paz e a esperança, a alegria e a vitória nos felicitem mais tarde, no santuário da experiência.

Semelhante gênio invariável e amigo é a dor benemérita, cujo precioso poder sana todos os desequilíbrios e problemas do mal. 

Recordemos: no recinto doméstico ou na estrada maior, ante os amigos e os desafetos, na jornada de cada dia quando visitados pela provação que nos imponha suor e lágrimas, asserenemos o próprio espírito e, sorrindo para o trabalho com que a dor nos favorece, agradecemos a dificuldade, aceitando a lição.


Espírito Emmanuel, do livro Ceifa de Luz, psicografado por Chico Xavier.

23 maio 2024

José da Galileia


“E projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de David, não temas receber a Maria.” — (Mateus 1:20)

Em geral, quando nos referimos aos vultos masculinos que se movimentam na tela gloriosa da missão de Jesus, atendemos para a precariedade dos seus companheiros, fixando, quase sempre, somente os derradeiros quadros de sua passagem no mundo.

É preciso, porém, observar que, a par de beneficiários ingratos, de ouvintes indiferentes, de perseguidores cruéis e de discípulos vacilantes, houve um homem integral que atendeu a Jesus, hipotecando-lhe o coração sem mácula e a consciência pura

José da Galileia foi um homem tão profundamente espiritual que seu vulto sublime escapa às análises limitadas de quem não pode prescindir do material humano para um serviço de definições.
Já pensaste no Cristianismo sem ele?

Quando se fala excessivamente em falência das criaturas, recordemos que houve tempo em que Maria e o Cristo foram confiados pelas Forças Divinas a um homem.

Entretanto, embora honrado pela solicitação de um anjo, nunca se vangloriou de dádiva tão alta.

Não obstante contemplar a sedução que Jesus exercia sobre os doutores, nunca abandonou a sua carpintaria.

O mundo não tem outras notícias de suas atividades senão aquelas de atender às ordenações humanas, cumprindo um édito de César e as que no-lo mostram no templo e no lar, entre a adoração e o trabalho.

Sem qualquer situação de evidência, deu a Jesus tudo quanto podia dar.
A ele deve o Cristianismo a porta da primeira hora, mas José passou no mundo dentro do divino silêncio de Deus.

Espírito Emmanuel, do livro Levantar e Seguir, psicografado por Chico Xavier.

 

22 maio 2024

Entendimento com Jesus


Todos podemos realmente dialogar com Jesus, através de seus ensinamentos, a fim de que se nos descortinem os caminhos da paz e da iluminação espiritual, desde que nos adaptemos ao Senhor, sem exigir que ele se adapte a nós.
As palavras do vocabulário serão as mesmas da experiência comum, no entanto, o sentido surgirá essencialmente diverso.
 
Exaltaremos os grandes vultos da Terra, que se caracterizam pelo elevado gabarito de inteligência ou de virtude…
O Cristo acrescentará que serão eles efetivamente bem-aventurados se forem humildes de espírito.

Falaremos acerca da liberação do mal…  
Aditará o Eterno Benfeitor que alcançaremos isso desculpando e esquecendo todas as ofensas que se nos façam, perdoando-as não sete vezes mas setenta vezes sete vezes.

Reportar-nos-emos às lutas e problemas que a todos nos desafiam nas trilhas do aperfeiçoamento e da evolução…
Responderá ele que apenas no exercício constante da paciência é que conquistaremos as nossas próprias almas.

Comentaremos a necessidade do poder…
Ele nos dirá que disporemos de semelhante recurso, através da cruz, ou mais claramente pela aceitação de nossos conflitos e obstáculos, edificando com eles o melhor ao nosso alcance.

Referir-nos-emos aos que nos perseguem e injuriam…
Acentuará o Excelso Amigo que nos compete colaborar em todo reajuste da harmonia e da segurança, orando pela tranquilidade e pelo progresso de todos eles.

Solicitaremos talvez posições destacadas nesse ou naquele setor da vida…
Observar-nos-á ele que o maior no Reino de Deus será sempre aquele que se fizer o servidor de todos.
 
Não alegues desconhecer o que Jesus pretende de ti. Basta nos afinemos com os propósitos do Senhor, nas lições do Evangelho, e saberemos indubitavelmente tudo aquilo de justo e certo que nos cabe a cada um.

Espírito Emmanuel, do livro Mãos Unidas, psicografado por Chico Xavier.

21 maio 2024

Sovinice


O sovina Juquinha do Imbuzeiro
Saiu cobrando juros de avarento
A quem rogava prazo e abatimento,
Exigia dinheiro e mais dinheiro.

Pôs em leilão a casa do Loureiro,
Despojou a viúva do Sarmento,
Tomou cavalo, carro e mantimento
Dos filhos do finado Zé Monteiro.

Mas ao tomar o anel de Dona Aninha,
Uma voz disse a ele: "– vem Juquinha."
Ele caiu gritando: "–Deus me valha!"  

Era a morte a buscá-lo em tempo estreito,
E Juquinha se foi de dor no peito
Sem levar o dinheiro na mortalha.

Espírito Cornélio Pires, do livro Notícias do Além, psicografado por Chico Xavier.

20 maio 2024

Bilhete fraterno


“Qualquer que vos der a beber um copo d’água em meu nome, em verdade vos digo que não perderá o seu galardão”. JESUS, MATEUS, 9:41

Meu amigo, ninguém te pede a santidade dum dia para outro.
Ninguém reclama de tua alma espetáculos de grandeza.
Todos sabemos que a jornada humana é inçada de sombras e aflições criadas por nós mesmos.
Lembra-te, porém, de que o Céu nos pede solidariedade, compreensão, amor…
Planta uma árvore benfeitora, à beira do caminho.
Escreve algumas frases amigas que consolem o irmão infortunado.
Traça pequenina explicação para a ignorância.
Oferece a roupa que se fez inútil agora ao teu corpo ao companheiro necessitado, que segue à retaguarda.
Divide, sem alarde, as sobras de teu pão com o faminto.
Sorri para os infelizes.
Dá uma prece ao agonizante.
Acende a luz de um bom pensamento para aquele que te precedeu na longa viagem da morte.
Estende o braço à criancinha enferma.
Leva um remédio ou uma flor ao doente.
Improvisa um pouco de entusiasmo para os que trabalham contigo.
Emite uma palavra amorosa e consoladora onde a candeia do bem estiver apagada.
Conduze uma xícara de leite ao recém-nascido que o mundo acolheu sem um berço enfeitado.
Concede alguns minutos de palestra reconfortante ao colega abatido.
O rio é um conjunto de gotas preciosas.
A fraternidade é um sol composto de raios divinos, emitidos por nossa capacidade de amar e servir.
Quantos raios libertaste hoje do astro vivo que é teu próprio ser imortal?
Recorda o Divino mestre que teceu lições inesquecíveis, em torno do vintém de uma viúva pobre, de uma semente de mostarda, de uma dracma perdida…
Faze o bem que puderes.
Ninguém espera que apagues sozinho o incêndio da maldade.
Dá o teu copo de água fria.

Espírito Emmanuel, de Nosso Livro, psicografado por Chico Xavier.

19 maio 2024

Reencarnados


Ontem – corsário afamado,
Matava sedento de ouro…
Hoje – menino enjeitado
A beira do ancoradouro.

Ontem – mulher de ilusão,
Mentiras e cabriolas…
Hoje – bendita prisão
De pratos e caçarolas.

Ontem – autor insensato,
Ganhando à custa do vício…
Hoje – doente sem tato,
Vivendo com sacrifício.

Ontem – tirano na praça,
Falava insincero em tudo…
Hoje – mendigo que passa,
Gaguejando, tartamudo.

Destino, desventura?!…
Nada disso, meu irmão,
Presente mostra o passado,
Bendita a reencarnação!…

Espírito Chiquito de Morais, do livro Orvalho de Luz, psicografado por Chico Xavier.

18 maio 2024

Ao companheiro espírita


Afirma Allan Kardec “que se reconhece o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar as tendências inferiores”. 
Quem se transfigura por dentro, no entanto, pensa por si e quem raciocina por si desata as amarras dos preconceitos e escala renovações, no rumo do conhecimento superior pelas vias do espírito. 
É por isso que o raciocínio claro te arrancou ao ninho da sombra.
Não mais para nós o claustro nebuloso da fé petrificada em que se nos desenvolvia o entendimento, em multimilenária gestação. 
Cessou para nós a nutrição mental por endosmose, no bojo dos pensamentos convencionais. 
Todavia, porque te transferes incessantemente de nível, quase sempre, despertas no mais doloroso tipo de solidão – a solidão dos que trabalham no mundo, a benefício do mundo, mas desajustados no mundo, sem que o mundo os reconheça. 
Falas – e frequentemente, as tuas palavras voam sem eco. 
Ages – as tuas ações nobres sofrem, não raro, o menosprezo dos mais queridos. 
Emancipas a própria alma – escravizando-te a deveres maiores. 
Auxilias – desdenhado. 
Compreendes – confundido. 
Trabalhas – padecente. 
Edificas – por entre lágrimas. 
Consola – e vergastam-te os sentimentos. 
Cultivas o bem – e arrasam-te o campo. 
Urge perceber, porém, que quantos consomem as próprias energias, na exaltação do bem, se fazem clarão, e aos que se fazem clarão as sombras não mais oferecem lugar em meio delas. 
Segue, assim, trilha adiante, erguendo a luz para que as trevas não amortalhem, indefinidamente, os valores do espírito. 
Se temes a extensão das dificuldades, reflete na semente, a morrer em refúgio anônimo para que a vida se garanta; mas, se o exemplo de um ser pequenino te não satisfaz, medita no ensinamento do maior e mais glorioso espírito que já pisou caminhos terrestres. 
Ele também transitou, na estância dos homens, sem pouso certo. Para nascer, socorreu-se da hospitalidade dos animais; enquanto esteve diretamente no mundo, não reteve uma pedra em que resguardar a cabeça; transmitiu a sua mensagem libertadora em recintos de empréstimos e, em vista das sombras não lhe suportarem as eternas fulgurações, já que não poderiam devolvê-lo ao Céu e nem lhe desejavam a presença, junto delas, no chão, deram-se pressa em suspendê-lo na cruz, para que se extinguisse, entre um e outro. Ele, no entanto, não se agastou, de leve, e qual ocorre à semente que regressa da retorta escura a que foi relegada, convertendo abandono em pão redivivo, Jesus também, ao terceiro dia, contado sobre o desprezo extremo, voltou, em plenitude de amor, e ao transformar sacrifício em luz renascente, retomou a construção da concórdia e da fraternidade, na Terra, afirmando aos companheiros fracos e espantados: 
—“A paz seja convosco.”

Espírito Emmanuel, do livro Opinião Espírita. Página recebida por Chico Xavier. 

17 maio 2024

Praticar a caridade e cumprir o mandamento do amor ao próximo*


*Esta crônica mereceu um voto de louvor inserto em ata da Câmara dos Vereadores de Araraquara, a pedido dos então edis Célio Biller Teixeira e Flávio Thomaz de Aquino, que consideraram de “alto valor os ensinamentos na exposição do Irmão Saulo, pregando acima de tudo a liberdade de culto…”. Agradecendo aos vereadores, principalmente porque não eram eles espíritas, Herculano disse: “Essa compreensão humana, que supera os sectarismos exclusivistas do passado, é característica da civilização”. 
 
Conhece-se a árvore pelos frutos — O conceito cristão de Deus — A pele de ovelha e a pele humana. 

O conceito fundamental do Cristianismo é o da paternidade universal de Deus. Por isso é que Deus é único. Os muitos deuses da antiguidade, que dividiam ferozmente os homens, perdem o domínio do mundo, quando Jesus pronuncia a palavra Pai. Até mesmo Jeová, o deus dos exércitos, deixa o seu lugar ao Deus de Amor do Cristianismo. Os privilégios e divisionismos não têm mais razão de ser, diante da parábola do Bom Samaritano e do ensino de Jesus à mulher samaritana. 

O Espiritismo, surgindo na Terra em cumprimento à promessa do Consolador, para restabelecer a pureza do ensino de Jesus, restabelece o conceito cristão de Deus como Pai. Por isso Kardec ensinou, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, que o nosso lema deve ser: “Fora da caridade não há salvação”. A bandeira sectarista das religiões apegadas ao velho exclusivismo é substituída pela bandeira cristã do “amai-vos uns aos outros”. 

Kardec chega mesmo a esclarecer que não devemos dizer: “Fora da verdade não há salvação”, porque cada qual interpretando a verdade a seu modo, esse lema serviria para perpetuar na Terra as lutas religiosas, que são a própria negação da religião. A caridade, pelo contrário, a todos une e a ninguém condena, como ensinou o apóstolo Paulo. 

Lemos, entretanto, num pequeno e agressivo artigo contra o Espiritismo, esta curiosa afirmação: 
“A pele de ovelha do espírita é a caridade. Fazer o bem e praticar a caridade.” O articulista entende que os espíritas fazem a caridade para perder as almas. São instrumentos do demônio, mas usam as armas do amor. Se ao menos fingissem que fazem a caridade, ainda se compreenderia. Mas não. Em vez de fingir, 
praticam mesmo a caridade e fazem o bem. E nisso está o seu terrível disfarce. Tanto mais terrível, quanto Jesus ensinou que só podemos conhecer a árvore pelos frutos. 

A preocupação do articulista transparece logo mais, quando ele acrescenta que os espíritas usam nomes de santos nos Centros, expõem imagens e fazem orações, para enganar os incautos. Quer dizer que tudo isso só teria uma finalidade: afastar os filhos de Deus do verdadeiro caminho. Acontece, porém, que os espíritas, ao darem nomes de santos a alguns Centros, têm apenas o propósito de homenagear espíritos elevados, que são conhecidos como santos. 

Por exemplo: Santo Agostinho e São Luiz deram comunicações a Kardec, que figuram em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Por que usaram o título de santo? Porque assim são conhecidos e só assim podiam se identificar. E somente por isso. Não obstante, os organismos dirigentes do movimento espírita são contrários a essas denominações para Centros, justamente para evitar-se a confusão em matéria de princípios religiosos. 

Quanto ao uso de imagens, é puro engano. Espíritas não usam imagens, como os cristãos primitivos não usavam. As imagens só aparecem em agrupamentos espiritistas humildes, de gente sem instrução, apegadas à religião popular que lhe ensinaram na infância. Também no Cristianismo primitivo acontecia isso. Cristãos novos apegavam-se aos ídolos pagãos, por costume e falta de esclarecimento. Mas, na proporção em que o Espiritismo for sendo compreendido, essa gente humilde abandonará as imagens. O Espiritismo ensina que devemos adorar a Deus em espírito e verdade, segundo a lição de Jesus à mulher samaritana.

No tocante à oração, é claro que os espíritas devem fazê-las. Kardec chegou mesmo a publicar um livro de preces. Como acontecia no Cristianismo primitivo, os espíritas repetem a prece do Pai Nosso, ensinada por Jesus, e sabem que a oração é o meio de se elevarem a Deus e se comunicarem com os Bons Espíritos. 

Não se trata, pois, de pele de ovelha, mas da própria pele humana. O homem é filho de Deus e deve dirigir-se a Ele. Kardec explica o sentimento religioso como lei natural, segundo vemos no capítulo sobre a “Lei da Adoração”, em “O Livro dos Espíritos”. O que acontece é que os espíritas aprenderam, no Evangelho, que devem orar de coração puro, sem nenhuma prevenção contra os seus irmãos. Porque Deus é Pai e todos são Seus filhos, seja qual for o caminho religioso que estejam seguindo. 

J. Herculano Pires, do livro O Homem Novo.

16 maio 2024

Marcos indeléveis


“As obras que eu faço, em nome de meu pai, essas testificam em mim.” – Jesus em João, 10: 25. 
Cada trecho do solo demonstra o seu valor na riqueza ou na fertilidade que apresenta… 
Cada vegetal é tido na importância de seu cerne, de sua essência, de seus frutos… 
Cada animal é conhecido pelas peculiaridades de importância em sua existência… 
O sol constitui para todos os seres fonte inexaurível de vida, calor e luz. 
A água significa o sangue do organismo terrestre. 
O fogo, no crepitar da lareira ou na devastação do incêndio, demonstra realmente 
o seu papel inconfundível no campo imenso da criação. 
O juiz é respeitado pela integridade de seus sentimentos ou temido pelas manifestações de venalidade a que se acolhe. 
O professor é acatado, consoante o grau de competência que lhe é próprio. 
O médico adquire confiança, conforme a sua atitude ao pé dos enfermos. 
O coração materno revela a sua íntima excelsitude, no trato natural com os rebentos de seu carinho. 
O filho oferece ao mundo, na experiência diária, a extensão de seu amor para com os próprios pais. 
A criança, em suas expressões infantis, apresenta invariavelmente o esboço de caráter que plasmou em si mesma através das vidas passadas. 
O usurário cria, em torno de si, gelada atmosfera de reprovação pelos sentimentos que nutre no imo do próprio ser. 
O leviano carrega consigo constantemente os prejuízos da ociosidade ou do vício, 
complicando-se na intemperança dos próprios dias. 
O céptico representa, onde estiver, a aridez da mente hipertrofiada pelo orgulho infeliz. 
O crente, leal a si mesmo, evidencia o poder de sua fé, nas posições assumidas perante os chamamentos do mundo. 
Enfim, todas as criações do excelso Pai testemunham-lhe a glória no campo infinito da vida e cada espírito se afirma bem ou mal, aproveitando-as para subir à luz ou delas abusando para descer às trevas. 
Como aprendizes do evangelho, portanto, cumpre-nos indagar à própria consciência: 
–“Que tenho executado na vida como aplicação das bênçãos de Deus?” 
Não nos esqueçamos, segundo a lição do senhor, que somente as obras que fizermos, em nome do pai, é que serão marcos indeléveis de nosso caminho, a testificarem de nós. 

Espírito Emmanuel, do livro O Espírito da Verdade, psicografado por Chico Xavier.

15 maio 2024

Nos caminhos de sempre


Nem sempre se te fará necessário fitar a retaguarda para reconhecer as vantagens da própria situação. 

Basta recordar os obstáculos que já venceste. 

Impossível não te lembres de certas ocasiões difíceis, no grupo doméstico, nas quais, sem esperar, conseguiste manter o próprio equilíbrio, a fim de auxiliar aos que se te ligam à existência. 

Fácil rememorar os momentos de azedume, dos quais a passagem do tempo te desligou para o retorno à tranquilidade. 

Perigos que te ameaçaram, desapareceram, sem que os vissem, no instante em que se entrecruzavam na estrada. 

Ocorrências infelizes que atravessaste foram muito mais advertências da vida ao teu senso de ponderação e serenidade que calamidades irreparáveis, conquanto, em alguns casos, provações inevitáveis se te emplacassem no contexto das próprias experiências. 

Preterições sofridas geraram várias conquistas de melhoria que atualmente desfrutas. 

Mudanças desagradáveis e compulsórias transformaram-se em degraus de acesso a facilidades que desconhecias, até então. 

Pessoas queridas, cujas tribulações lamentavas com ênfase, descartaram-se das sombras em que se envolviam, usufruindo agora alegrias com que talvez não contassem. 

Desgostos que tiveste, no curso dos quais guardavas a ideia de carregar pesados fardos de infortúnio, converteram-se em oportunidades de paz e renovação que presentemente bendizes. 

Pensa nos empecilhos que já deixaste à distância e concluirás que isso aconteceu porque não desertaste das próprias obrigações. 

Reflete nisso e reconhecerás que Deus, o infinito Amor, que te sustentou o ontem, de igual modo te sustentará também nos caminhos do sempre. 

Espírito Emmanuel, do livro Paz, psicografado por Chico Xavier.

14 maio 2024

Anotação em serviço


Corrigir-nos sim e sempre. 
Condenar-nos não. 
Valorizemos a vida pelo que a vida nos apresente de útil e belo, nobre e grande. 
Mero dever melhorar-nos, melhorando o próprio caminho, em regime de urgência, todavia, abstermo-nos do hábito de remexer inutilmente as próprias feridas, alargando-lhes a extensão. 
Somos Espíritos endividados de outras eras e, evidentemente, ainda não nos empenhamos, como é preciso, ao resgate de nossos débitos, no entanto, já reconhecemos as próprias contas com a disposição de extingui-las. 
Virtudes não possuímos, contudo, já não mais descambamos, conscientemente, para criminalidade e vingança, violência e crueldade. 
Não damos aos outros toda felicidade que lhes poderíamos propiciar, entretanto, voluntariamente, não mais cultivamos o gosto de perseguir ou injuriar seja a quem seja. 
Indiscutivelmente, não nos dedicamos, de todo, por enquanto, à prática do bem, como seria de desejar, todavia, já sabemos orar, solicitando à Divina Providência nos sustente o coração contra a queda no mal. 
Não conseguimos infundir confiança nos irmãos carecentes de fé, no entanto, já aprendemos a usar algum entendimento no auxílio a eles. 
Por agora, não logramos romper integralmente com as tendências infelizes que trazemos de existências passadas, mas já nos identificamos na condição de Espíritos inferiores, aceitando a obrigação de reeducar-nos. 
Servos dos servos que se vinculam aos obreiros do Senhor, na Seara do Senhor, busquemos esquecer-nos, a fim de trabalhar e servir. Para isso, recordemos as palavras do Apóstolo Paulo, nos versículos 9 e 10, do capítulo 15, de sua Primeira Carta aos Coríntios: — “Não sou digno de ser chamado apóstolo, mas pela graça de Deus, já sou o que sou.” 

Espírito Emmanuel, do livro Paz e Renovação, psicografado por Chico Xavier.

13 maio 2024

Em cadeias


“Pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele livremente, como me convém falar.” – Paulo. (Efésios, 6:20.)
Observamos nesta passagem o apóstolo dos gentios numa afirmativa que parece contraditória, à primeira vista.
Paulo alega a condição de emissário em cadeias e, simultaneamente, declara que isto ocorre para que possa servir ao Evangelho, livremente, quanto convinha.
O grande trabalhador dirigia-se aos companheiros de Éfeso, referindo-se à sua angustiosa situação de prisioneiro das autoridades romanas; entretanto, por isto mesmo, em vista do difícil testemunho, trazia o espírito mais livre para o serviço que lhe competia realizar.
O quadro é significativo para quantos pretendem a independência econômico-financeira ou demasiada liberdade no mundo, a fim de exemplificarem os ensinamentos evangélicos.
Há muita gente que declara aguardar os dias da abundância material e as facilidades terrestres para atenderem ao idealismo cristão. Isto, contudo, é contrassenso. O serviço de Jesus se destina a todo lugar.
Paulo, entre cadeias, se sentia mais livre na pregação da verdade. Naturalmente, nem todos os discípulos estarão atravessando esses montes culminantes do testemunho. Todos, porém, sem distinção, trazem consigo as santas algemas das obrigações diárias no lar, no trabalho comum, na rotina das horas, no centro da sociedade e da família.
Ninguém, portanto, tente quebrar as cadeias em que se encontra, na mentirosa suposição de que se candidatará a melhor posto nas oficinas do Cristo.
Somente o dever bem cumprido nos confere acesso à legítima liberdade.

Espírito Emmanuel, do livro Pão Nosso, psicografado por Chico Xavier.

12 maio 2024

Coração de mãe


Resposta de Humberto de Campos a uma mãe aflita
Dolorosa e comovedora é a carta dessa mulher maranhense que te chegou às mãos, trazida nas asas de um avião trepidante e ruidoso.
Mãe desesperada, apela para os sentimentos de paternidade que não me abandonaram no túmulo, e grita aflitivamente como se as suas letras tremidas fossem vestígios arroxeados do sangue do seu coração:
“Eu peço a Humberto de Campos que, mesmo do Além, salve o meu filho”! Ele, que não se esqueceu dos que deixou na Terra, não pode negar uma esmola à minha alma de mãe extremosa!
E eu me lembro, comovido, dos apelos que me eram dirigidos pelos sofredores, nos derradeiros tempos da minha vida, enquanto eu naufragava devagarzinho no veleiro da Dor, entre as águas pesadas do oceano da Morte.
Eu daria tudo para enviar, a essa mulher sofredora da terra, que foi minha, a certeza de que o seu filho é uma criatura predileta dos deuses. Tudo faria para imitar aquelas mãos ternas e misericordiosas que descansaram sobre a fronte abatida do órfão da viúva de Naim, ressuscitando para um coração maravilhoso de Mãe as energias do filho que padece sob as provações mais penosas.
A Morte, porém, não afasta do nosso caminho a visão estranha da fatalidade e do destino. Há um determinismo no cenário das nossas existências, criado por nós mesmos. 
O mal, com o seu cortejo de horrores, não está dentro dessa corrente impetuosa e irrefreável, mas todos os seus elos são formados pelos sofrimentos.
Os homens de barro têm de batalhar a vida inteira, repelindo o Crime e o Pecado, mas inevitavelmente andarão atolados no pantanal da Dor e da Morte.
O que mais me pungia, depois de haver perquirido as lições dos sábios daí, era a inutilidade dos seus argumentos ante as determinações irrevogáveis do destino. Após haver atravessado as estradas da ignorância despretensiosa, no limiar do imenso palácio das experiências alheias, presumia encontrar a solução dos enigmas que confundem o cérebro humano. Mas, em todas achei o mesmo tormento, as mesmas ansiedades angustiosas.
Frente a frente ao pulso inflexível da Morte, toda a ciência do mundo é de uma insignificância irremediável. 
Nesse particular, todo o portentoso edifício da filosofia de Pitágoras não valia mais que as extravagantes teorias doutrinárias propaladas no mundo.
Todos quantos laboram em favor do homem da Terra esbarram nos muros indevassáveis da Sombra. O Cristo foi o único que espalhou, na masmorra da carne, uma claridade suave, porque não se dirigiu à criatura terrena, mas à criatura espiritual.
Assombrava-me o espetáculo pavoroso do mundo, onde as leis, liberalíssimas para a aristocracia do ouro e severas em face dos infortunados que palmilham o caminho espinhoso com os pés descalços e feridos, refletem o caráter humano com os seus incorrigíveis defeitos.
E, despertando de longos pesadelos na porta de claridade da sepultura, a minha primeira inquirição, com respeito aos problemas que me atormentavam, foi uma pergunta dolorosa acerca dos contrastes amargos do mundo. Ainda aqui, porém, os gênios carinhosos da Sabedoria abençoam, a sorrir, os que os interpelam, porque a decifração dos enigmas das nossas existências está em nós mesmos. Apesar do destino inflexível, há uma força em nós que dele independe, como origem de todas as nossas ações e pensamentos. Somos obreiros da trama caprichosa das nossas próprias vidas. 
As mãos, que hoje cortam as felicidades alheias, amanhã se recolherão como galhos —ressequidos nas frondes verdes da Vida. 
As iniquidades de um Herodes podem desaparecer sob o manto de renúncias de um Vicente de Paulo. O sensualismo de Madalena foi expurgado nos prantos amargosos da expiação e do arrependimento. Quando pudermos ver o passado em todo o seu desdobramento, depois de contemplarmos a Messalina em sua noite de regalados prazeres, vê-la-emos de novo, arrastando-se nas margens do Tibre, enfiada num vestido horripilante de negras monstruosidades.
Faltou-me na vida terrena semelhante compreensão, para entender a Verdade.
Que essa pobre mãe maranhense considere esses realismos que nos edificam e nos salvam.
E, como um anjo de Dor à cabeceira do seu filho, eleve o seu apelo ao coração augusto d’Aquele que remove as montanhas com o sopro suave do seu amor. Sua oração subirá ao Infinito como um cálice de perfume derramado ao clarão das estrelas que enfeitam o trono invisível do Altíssimo, e, certamente, os anjos da Piedade e da Doçura levarão a sua prece, como cândida oferta da sua alma sofredora, à magnanimidade daquela que foi a Rosa Mística de Nazaré. Então, nesse momento, talvez que o coração angustiado da mãe que chora, na Terra, se ilumine de uma claridade estranha e misericordiosa. 
Seu lar desditoso e humilde será, por instantes, um altar dessa luz invisível para os olhos mortais. Duas mãos de névoa translúcida pousarão como açucenas sobre a sua alma oprimida e uma voz carinhosa, embaladora, murmurará aos seus ouvidos:
“Sim, minha filha!…  ouvi a tua prece e vim suavizar o teu martírio, porque também tive um filho que morreu ignominiosamente na cruz.”

Espírito Humberto de Campos (Irmão X). Do “Correio Paulistano”, de 15 de julho do 1936. Recebida em Pedro Leopoldo por Francisco Cândido Xavier.

11 maio 2024

Combatendo a sombra


“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos…” – Paulo. Romanos 12:2.

O aviso evangélico é demasiado eloquente, todavia é imperioso observar-lhe a expressão profunda.
O apóstolo devidamente inspirado adverte-nos de que em verdade, não nos será possível a tácita conformação com os enganos do mundo, tanta vez abraçados espontaneamente pela maioria dos homens, no entanto, não nos induz a qualquer atitude de violência.
Não nos pede rebelião e gritaria.
Não nos aconselha azedume e discussão.
Na palavra da Boa Nova solicita-nos simplesmente a nossa transformação.
Não nos cabe, a pretexto de seguir o Mestre, sair de azorrague em punho, golpeando aqui e ali, na pretensão de estender-lhe a influência.
É imprescindível adotar a conduta dele próprio que, em nos conhecendo as viciações e fraquezas, suportou-nos a rijeza de coração, orientando-nos para o bem, cada dia, com o esforço paciente da caridade que tudo compreende para ajudar.
Não movimentes, desse modo, o impulso da força, constrangendo os semelhantes a determinadas regras de conduta, diante da ilusão em que se comprazem.
Renovemo-nos para o melhor.
Eleva o padrão vibratório das emoções e dos pensamentos.
Cresce para a Vida Superior e revela-te em silêncio, na altura de teus propósitos, convertendo-te em auxiliar precioso da divina iluminação do espírito, na convicção de que a sementeira do exemplo é a mais duradoura plantação no solo da alma.
Não te resignes aos hábitos da treva. Mas, clareia-te por dentro, purificando-te sempre mais, a fim de que a tua presença irradie, em favor do próximo, a mensagem persuasiva do amor, para que se estabeleça entre os homens o domínio da eterna luz.

Espírito Emmanuel, do livro Palavras de Vida Eterna, psicografado por Chico Xavier.

10 maio 2024

O que fazes?


Desejas a paz, no entanto o que fazes a fim de obtê-la?
Sonhas com a felicidade doméstica, todavia o que fazes para torná-la realidade?
Queres a alegria inalterável, mas o que fazes no intuito de conquistá-la?
Almejas a saúde perfeita, porém o que fazes na defesa do equilíbrio orgânico?
Anseias servir com Jesus na seara do amor ao próximo, entretanto o que fazes para vencer os obstáculos?

Entre nós e o que buscamos, está situado o que fazemos…
Deus nos concede os pés, mas o esforço de caminhar deve ser nosso.
Deus não nos substitui no trabalho que os nossos próprios braços devem realizar.
Quando te queixas da vida, em verdade estás queixando de ti mesmo.
O que fazes dos teus dias? Como vives as tuas horas?
Movimenta-te em sintonia com o bem e o mal não te alcançará.
Somos e seremos sempre, no espaço e no tempo, exatamente aquilo que fizermos de nós.

Espírito Odilon Fernandes, do livro Palavras de Coragem, psicografado por Chico Xavier.

09 maio 2024

O exemplo da árvore


Dizem que quando a primeira árvore apareceu na Terra, trazia do Pai Celestial a recomendação de alimentar o homem e auxiliá-lo, em nome do Céu, por todos os meios que lhe fosse possível. 
Resolvida a cumprir a ordenação do Senhor, certo dia foi visitada por um ladrão, perseguido pela Justiça.
Ele sentia fome e, por isso, furtou-lhe vários frutos. 
Em seguida, decepou-lhe muitos galhos, deles fazendo macia cama para descansar e refazer-se. 
A árvore não se agastou com o assalto. Parecia satisfeita em ajudá-lo e até se mostrava interessada em adormecê-lo, agitando harmoniosamente as folhas, tangidas pelo vento. 
Erguendo-se, fortalecido, o pobre homem ouviu o ruído dos acusadores que o buscavam e, angustiado, sem saber que rumo tomar na várzea deserta, notou que o nobre vegetal, em silêncio, como que o convidava a asilar-se em seus ramos.
Imediatamente, à maneira de um menino, o infeliz escalou o tronco e escondeu-se na copa farta.
Os guardas vieram e, desistindo de encontrá-lo em razão da busca infrutífera, retiraram-se para lugarejo distante.
Foi então que o desventurado desceu para o solo, impressionado e comovido, reparando que se achava à frente de humilde mensageira do Céu.
Roubara-lhe os frutos e mutilara-lhe as frondes; entretanto, oferecera-lhe, ainda, seguro abrigo. 
O homem infeliz começou a meditar no exemplo da árvore venerável, incumbida por Deus de cooperar na distribuição do alimento de cada dia na Terra, e, nela reconhecendo verdadeira emissária do Céu, que lhe saciara a fome e lhe dispensara maternal proteção, abandonou o mal em que se havia mergulhado e passou a ser outro homem. 

Espírito Meimei, do livro Pai Nosso, psicografado por Chico Xavier.

08 maio 2024

Mais com Jesus


Desarrazoado exigir de qualquer de nós transformações intempestivas.
 
Por mais formosas e edificantes as lições de aperfeiçoamento moral, é forçoso acomodar-nos com o espírito de sequência, na marcha do tempo, a fim de que nos afaçamos a elas, adaptando-nos gradativamente aos princípios que nos preceituem.
Ser-nos-á, porém, claramente possível melhorar-nos com mais urgência e segurança se adotarmos a prática de permanecer um tanto mais com Jesus, cada dia.
 
Problemas intrincados surgiram, concitando-nos a soluções inadiáveis.
Se estivermos de sentimento interligado um pouco mais com o Cristo, aprenderemos a ceder de nós, sem qualquer empeço, apagando as questões que nos induzam à perturbação e à discórdia.

Apareceram desacatos, impulsionando-nos ao revide.
Se os recebemos, um tanto mais com Jesus, em nossas atitudes e respostas, todas as expressões de desapreço serão dissolvidas nas fontes da compreensão e da tolerância.

Surpreendemos companheiros que se fazem difíceis.
Se lhes acolhemos os obstáculos, conservando as nossas diretrizes e providências, um tanto mais com Jesus, para breve se nos transfiguram em colaboradores valiosos, convertendo-se, por fim, em estandartes vivos de nossas ideias.
 
Encontramos desencantos nas trilhas da experiência.
Aceitando-os, no entanto, um tanto mais com Jesus em nosso comportamento, para logo se transformam em lições e bênçãos que passamos a agradecer à Sabedoria da Vida.
 
Em casa, no grupo de trabalho, na vida social, na profissão, no ideal ou na via pública, experimente sentir, pensar, falar e agir, um tanto mais com o Cristo, e observemos os resultados.

Pouco a pouco, percebemos que o Senhor não nos pede prodígios de transformação imediata ou espetáculos de grandeza, e sim que nos apliquemos ao bem, de modo a caminhar com Ele, passo a passo, na edificação de nossa própria paz.

Não te atemorizem programas de reajuste, corrigenda, sublimação ou burilamento.

Ante as normas que nos indiquem elevação para a Vida Superior, recebamo-las respeitosamente, afeiçoando-nos a elas, e, seguindo adiante, na base do dever retamente executado e da consciência tranquila, pratiquemos a regra da ascensão espiritual segura e verdadeira: sempre um tanto menos com os nossos pontos de vista pessoais e, a cada dia que surja, sempre um tanto mais com Jesus.

Espírito Emmanuel, do livro Rumo Certo, psicografado por Chico Xavier.

07 maio 2024

Rumo certo


Leitor amigo,
Cremos não emprestar qualquer pretensão de ordem pessoal no título deste livro.
Rumo certo, sim, não porque as ideias nele contidas sejam nossas.
Integramos também com as falhas que nos caracterizam individualmente a legião dos espíritos que evoluem nos climas culturais da Terra, tão falíveis ainda quanto quaisquer outros.
E, qual ocorre a milhões de viajores do Planeta, encarnados e desencarnados, observamos não apenas os caminhos da existência física, mas igualmente, e em muito maiores proporções, os caminhos da vida espiritual.

Estradas de todos os feitios se nos desdobram à visão.
Avenidas do ideal, flamejantes de luz.
Sendas de laboriosas realizações.
Alamedas de sonhos e alegrias.
Carreiros de serviço construtivo, talhados nas rochas do esforço máximo.
Veredas de provações edificantes.
Trilhos de socorro ou de regeneração, através de pântanos e lágrimas.
Atalhos de sofrimento.
Corredores de privações educativas.
Túneis de perigosas experiências.
E em todas essas vias reconhecemos o impositivo do conhecimento e do autoconhecimento, para que o erro ou o desequilíbrio não nos compliquem a romagem ou atrasem a marcha.
Eis por que, livremente associados à obra benemérita da Doutrina Espírita que, na atualidade, restaura para nós outros os ensinamentos do Cristo, solicitamos vênia para entregar-lhe, nestas páginas simples, a bússola das lições evangélicas que nos têm servido à própria recuperação íntima, na viagem para a Vida Superior.

São estas notas, por isso mesmo, reflexos da lâmpada acesa que o Senhor misericordiosamente nos permitiu empunhar por dever, a fim de que conhecêssemos as próprias deficiências, de maneira a tratá-las e extingui-las. Carregando semelhante luz por fora até que possamos instalá-la por dentro de nós mesmos, ofertamo-la aos companheiros encarnados no Mundo, na forma de anotações para rumo certo, a benefício de nós todos, os que já nos reconhecemos necessitados da paz interior, com a vitória sobre nós mesmos, com vistas à nossa definitiva integração em Jesus, de modo a viver e saber viver com Jesus e por Jesus.

Espírito Emmanuel, prefácio do livro Rumo Certo, psicografado por Chico Xavier, em 1971.

06 maio 2024

Definindo rumos


Em verdade, meu amigo, terás encontrado no Espiritismo a tua renovação mental.
O fenômeno terá modificado as tuas convicções.
As conclusões filosóficas alteraram, decerto, a tua visão do mundo.
Admites, agora, a imortalidade do ser.
Sentes a excelsitude do teu próprio destino.
Mas se essa transformação da inteligência não te reergue o coração com o aperfeiçoamento íntimo, se os princípios que abraças não te fazem melhor, à frente dos nossos irmãos da Humanidade, para que te serve o conhecimento? Se uma força superior te não educa as emoções, se a cultura te não dirige para a elevação do caráter e do sentimento, que fazes do tesouro intelectual que a vida te confia?
Não vale o intercâmbio, somente pelo capricho atendido.
A expressão gritante do inabitual pode estar vazia de substância.
A ventania impetuosa que varre o solo, com imenso alarido, costuma gerar o deserto, enquanto que o rio silencioso e simples garante a floresta e a cidade, os lares e os rebanhos.
Se procuras contacto com o plano espiritual, recorda que a morte do corpo não nos santifica. Além do túmulo, há também sábios e ignorantes, justos e injustos, corações no céu e consciências no inferno purgatorial…  
As excursões no desconhecido reclamam condutores.
O Cristo é o nosso Guia Divino para a conquista santificante do Mais Além…
Não te afastes d'Ele.
Registrarás sublimes narrações do Infinito na palavra dos grandes orientadores, ouvirás muitas vozes amigas que te lisonjearão a personalidade, escutarás novidades que te arrebatam ao êxtase, entretanto, somente com Jesus no Evangelho bem vivido é que reestruturaremos a nossa individualidade eterna para a sublime ascensão à Consciência do Universo.

Estas páginas despretensiosas constituem um apelo à congregação de nossas forças em torno do Cristo, nosso Mestre e Senhor.
Sem a Boa Nova, a nossa Doutrina Consoladora será provavelmente um formoso parque de estudos e indagações, discussões e experimentos, reuniões e assembleias, louvores e assombros, mas a felicidade não é produto de deduções e demonstrações.
Busquemos, pois, com o Celeste Benfeitor a lição da mente purificada, do coração aberto à verdadeira fraternidade, das mãos ativas na prática do bem e o Evangelho nos ensinará a encontrar no Espiritismo o caminho de amor e luz para a Alegria Perfeita. 

Espírito Emmanuel, prefácio do livro Roteiro, psicografado por Chico Xavier, em 1952.

05 maio 2024

Trabalha servindo


A cada momento, o Criador concede a todas as criaturas a bênção do trabalho, como serviço edificante, para que aprendam a criar o bem que lhes cria luminoso caminho para a glória na Criação.
Não permitas, portanto, que o repouso excessivo te anule a divina oportunidade.
Assim como o relaxamento é ferrugem na enxada, a benefício do joio que te prejudica a seara, o tempo vazio é flagelo na alma, em favor das energias perniciosas que devastam a vida.
Não há corrosivo da ociosidade que possa resistir aos antídotos da ação.
Não acredites, desse modo, no poder absoluto das circunstâncias adversas, a se mostrarem, constantes, nos eventos da marcha.
Se a injúria te persegue, trabalha servindo, e o sarcasmo far-se-á reconhecimento.
Se a calúnia te apedreja, trabalha servindo, e a ofensa converter-se-á em louvor.
Se a mágoa te alanceia, trabalha servindo, e a dor erguer-se-á por utilidade.
Se o obstáculo te aborrece, trabalha servindo, e o embaraço surgirá por lição.
No trabalho em que possas fazer o melhor para os outros, encontrarás a quitação do passado, as realizações do presente e os créditos do futuro. E é ainda por ele que conquistarás o respeito dos que te cercam, a riqueza da experiência, a láurea da cultura, o tesouro da simpatia, a solução para o tédio e o socorro a toda dificuldade.
Importa anotar, porém, que há trabalho nas faixas superiores e inferiores do mundo.
Movimento que aprisiona e atividade que liberta, atração para o abismo e impulso para o Céu...
O egoísmo trabalha para si mesmo.
A vaidade trabalha para a ilusão.
A usura trabalha para o azinhavre.
O vício trabalha para o lodo.
A indisciplina trabalha para a desordem.
O pessimismo trabalha para o desânimo.
A rebeldia trabalha para a violência.
A cólera trabalha para a loucura.
A crueldade trabalha para a queda.
O crime trabalha para a morte.
Todas essas monstruosidades do campo moral representam fruto amargo e venenoso de audiências da alma com a inteligência das trevas, no palácio deserto das horas perdidas.
Todavia, o trabalho dos que trabalham servindo se chama humildade e benevolência, esperança e otimismo, perdão e desinteresse, bondade e tolerância, caridade e amor, e, somente através dele, o espírito caminha, na senda de ascensão, em harmonia com as leis de Deus.

Espírito Emmanuel, do livro Religião dos Espíritos, psicografado por Chico Xavier.

04 maio 2024

Assuntos de fé


Busca Jesus no que faças,
Porque a vida é sempre assim:
A semente traz o fruto,
O começo atrai o fim.

Consultando os tempos idos,
Li na história do insucesso:
A lídima dos vencidos
É o cântico ao progresso.

Quando a maldade te agrida
Comprometendo-te a paz, 
Em qualquer parte da vida,
Humilha-te e vencerás.

Vencidos não vos vingueis
Do mal que vos acompanha;
A vida trata com leis
A teia de cada aranha.

Estranha crença em João Luz 
No Retiro de Água Rasa,
Dizia seguir Jesus
Mas nunca saiu de casa.

Aos chamados de Jesus
Para o Reino do Porvir,
Há quem atende e trabalha,
Quem responde e vai dormir.

Quando seguires à frente
Conduze o bem por escolta,
Clamarás por muita gente
Quando estiveres de volta.

Se vieste a fracassar
Tendo a vida ao lado avesso,
Não adianta chorar
O que vale é o recomeço.

Jesus convida a milhões
Para os banquetes do Pai;
Muita gente dá resposta,
Dá resposta mas não vai.

Alguém atirou à terra
Pesadas cargas idosas
Mas a terra respondeu,
Com grande chuva de rosas.

Não te lamentes em vão
De sofrimento ou pesar,
Que, às vezes, mais provação
É o jeito de melhorar.

Tal qual sucede na crença
Razão que sobe de nível 
Descobre, pesquisa e pensa
Muita cousa intraduzível.

Raça, crença, nome, idade … 
Auxilia, não hesites
Diante da caridade,
O apoio não tem limites.

Deixa a tristeza de lado
Bendizendo as próprias dores,
O Cristo crucificado
É o maior os vencedores. 

Autores espirituais diversos, do livro Recanto de Paz, psicografado por Chico Xavier.

02 maio 2024

Ocorrências


Recordemos.
Qualquer ocorrência tem muito mais importância pelo que acontece dentro de nós do que pelo que sucede fora de nós.

Espírito Emmanuel, do livro Recados ao Além, psicografado por Chico Xavier.

01 maio 2024

Nos compromissos de trabalho


Nunca se envergonhe, nem se lamente de servir. 

Enriquecer o trabalho profissional, adquirindo conhecimentos novos, é simples dever. 

Colabore com as chefias através da obrigação retamente cumprida, sem mobilizar expedientes de adulação. 

Em hipótese alguma diminuir ou desvalorizar o esforço dos colegas. 

Jamais fingir enfermidades ou acidentes, principalmente no intuito de se beneficiar das leis de proteção ou do amparo das instituições securitárias, porque a vida costuma cobrar caro semelhantes mentiras. 

Nunca atribua unicamente a você o sucesso dessa ou daquela tarefa, compreendendo que em todo trabalho há que considerar o espírito de equipe. 

Sabotar o trabalho será sempre deteriorar o nosso próprio interesse. 

Aceitar a desordem ou estimulá-la, é patrocinar o próprio desequilíbrio. 

Você possui inúmeros recursos de promover-se ou de melhorar a própria área de ação, sem recorrer a desrespeito, perturbação, azedume ou rebeldia. 

Em matéria de remuneração, recorde: quem trabalha deve receber, mas igualmente quem recebe deve trabalhar. 

Espírito André Luiz, do livro Sinal Verde psicografado por Chico Xavier.