16 dezembro 2023

Mensagem de Nilo Peçanha


Democracia – Fascismo – Comunismo

Se difícil e inoportuna se torna aos espíritos a ação de se imiscuir nos problemas atinentes à iniciativa necessária dos homens, nada os impede de oferecer aos que ficaram na liça, despendendo energias na mesma atividade que constituiu o característico de suas existências sobre a face da Terra, auxiliando assim aos que avançam pela estrada evolutiva, os cabedais de suas experiências, única riqueza que lhes ficou das temporalidades desse mundo.
Todos quantos amaram o Brasil, ofertando-lhe a vida, no que ela possuía de melhor, é claro que não poderiam permanecer indiferentes aos problemas da coletividade nacional. Uma questão grandiosa demais pela sua complexidade e importância deve preocupar a quantos se encarregaram do governo do povo para o povo; a política nacional infelizmente não vem encarando as suas obrigações austeras como se faz mister. No letargo que os poderes da força propiciam, ouvindo empolgada os cantos de sereia do partidarismo e do individualismo perniciosos, vem olvidando os seus máximos deveres, as suas obrigações mais sagradas.
É óbvio que no Brasil da atualidade (1935) a única fórmula governamental adaptável às conveniências do país, para que as massas permaneçam isentas dos sacrifícios de toda a natureza, tem de ser baseada nas linhas democráticas, preparando-se a nacionalidade pela educação dentro da ordem para a evolução do futuro. Entretanto, o extremismo vem solapando o edifício das nossas instituições, espalhando doutrinas anarquizadoras, copiando os programas dos outros, esquecendo-se de que ainda não nos dignamos examinar, em mais de cem anos de nossa independência jurídica, as realidades nossas, as questões visceralmente brasileiras, alheios ao ambiente que reflete as feições idiossincráticas do nosso povo.
Não temos realizado mais que aquelas “travessuras do símio” de que nos falava Rui Barbosa nas suas célebres afirmações. O nosso país já atravessou o período em que se tornava mister a tradução e a adaptação dos costumes e leis alheias. Faz-se preciso encarar as nossas necessidades de perto, sem as imitações burlescas dos países que instauraram o governo forte pós-guerra e do comunismo que a Rússia se habituou a fabricar apenas para a exportação.
A situação do Brasil atual é de angústia, tanto no terreno econômico-financeiro como nos bastidores da administração que se vem conduzindo com a mais lastimável ausência de tirocínio nos problemas referentes às classes produtoras e trabalhistas.
Urge abandonar os velhos sistemas de facciosismo eleitoral, encarando as questões nacionais nas suas mínimas facetas.
País essencialmente agrícola, o Brasil tem de voltar as suas vistas para a sua imensa extensão territorial, multiplicando os conselhos técnicos da agricultura, velando carinhosamente pelos seus problemas. Ninguém pode contestar que os ministérios se tenham desviado das suas elevadas finalidades e que se venham dissociando na desorganização. Todos os seus serviços são perfeitos, todos os seus aparelhos são utilíssimos. Contudo sobre eles está a suposta onisciência governamental. Não bastam conciliábulos da política administrativa para a criação de leis exequíveis e benfeitoras da coletividade. Acima de tudo é necessário estudar-se uma das mais importantes questões de psicologia política. Faz-se preciso interessar as classes, captar a adesão do povo a essas leis, seduzir as massas com a exposição dos seus altos benefícios. Todos os regulamentos e leis criados para o povo tornam-se desnecessários desde que se não saiba interessá-lo, desprezando desse modo o largo potencial de suas energias para a sua perfeita execução. As leis estiolam-se e desaparecem quando não são bafejadas pela homologação popular.
Nos dias que passam, é urgente a renovação das leis agrárias, intensificando-se a reprodução, fomentando-se a indústria, regulando eficazmente a balança comercial na nacionalidade, quer seja solucionando o enigma do transporte e das questões tarifárias dentro do país, ou fundando no estrangeiro os mercados dos nossos produtos.
Esses problemas grandiosos têm sido relegados a um plano inferior pelos nossos administradores, os quais infelizmente arraigados aos sentimentos de personalismo vivem apenas para as grandes oportunidades.
Faz-se necessário melhorar as condições das classes operárias antes que elas se recordem de o fazer, segundo as suas próprias deliberações, entregando-se à sanha de malfeitores que sob as máscaras da demagogia e a pretexto de reivindicações, vivem no seu seio para explorar-lhes os entusiasmos vibrantes que se exteriorizam sem objeto definido. A maioria das nossas realidades por enquanto estão dentro dos problemas da assistência social, descurada por grande parte dos governantes. Os que vivem preconizando os partidos novos, apregoando o mesmo facciosismo (cegueira, fanatismo, partidarismo, proselitismo, sectarismo) de sempre, se esquecem de que a nação precisa antes de tudo do livro e da higiene, das obras de assistência sob todos os seus aspectos.
Todavia, o que poderemos esperar? Mais vale uma experiência que cem conselhos – diz o brocardo popular.
Quando aí andávamos a mesma venda nos obscurecia os olhos.
Procuremos contudo apresentar o fruto dos nossos trabalhos passados que equivale a um patrimônio sagrado de experiências.
Deus ilumine o Brasil, permitindo que ele cumpra a sua missão sublime, como pátria do Evangelho, no concerto das nacionalidades.

Espírito Nilo Peçanha, do livro Palavras do Infinito. Página recebida por Chico Xavier, em  31 de julho de 1935.

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