Reunidos os discípulos em companhia de Jesus, no primeiro dia das festas da Páscoa, como de outras vezes, o mestre partiu o pão com a costumeira ternura. Seu olhar, contudo, embora sem trair a serenidade de todos os momentos apresentava misterioso fulgor, como se sua alma, naquele instante, vibrasse ainda mais com os altos planos do invisível. Os companheiros comentavam com simplicidade e alegria os sentimentos do povo, enquanto o Mestre meditava, silencioso. Em dado instante, tendo-se feito longa pausa entre os amigos palradores, o Messias acentuou com firmeza impressionante: amados, é chegada a hora em que se cumprirá a profecia da Escritura. Humilhado e ferido, terei de ensinar em Jerusalém a necessidade do sacrifício próprio, para que não triunfe apenas uma espécie de vitória, tão passageira quanto as edificações do egoísmo ou do orgulho humanos. Os homens têm aplaudido, em todos os tempos, as tribunas douradas, as marchas retumbantes dos exércitos que se glorificaram com des...
Se eu pudesse, Jesus, Queria estar contigo Para ser a esperança realizada De quem vai pelo mundo, estrada a estrada, Entre a necessidade e o desabrigo… Desejava seguir-te, humildemente, Sem méritos embora, Para erguer-me em consolo de quem chora Mostrando o coração enfermo e descontente. Queria acompanhar-te nos recintos, Onde a dor leciona e aperfeiçoa A fim de ser conforto junto dela E, manejando a frase terna e boa Afirmar como a vida é grande e bela!… Se pudesse, Senhor, conversaria Com todas as crianças Para dizer que não te cansas De criar alegria… E seria feliz ao converter-me Em modesto recado, Informando, Jesus, a todos os velhinhos Que nunca estão sozinhos, Porque segues conosco, lado a lado… Se dispusesse de recursos, Queria ser a vela pequenina, Acesa no clarão do sol que levas, De modo a socorrer aos que jazem nas trevas, Fugindo, sem razão, da Bondade Divina… Entretanto, Senhor, Sei das deficiências que carrego… Venho a ti como estou, Por isto mesmo rogo: Não me deixes a ...
Na antecâmara do Céu, três almas se reuniam, à espera do anjo da Passagem, que, por fim, veio atendê-las no etéreo limiar. Uma em veste branca, outra em traje dourado e a última em roupagem escura. A primeira, ostentando nívea túnica, ataviada de linfas guirlandas, erguia a desassombrada cabeça e dizia sem palavras: – “quem mostrará maior pureza que a minha”? O mensageiro acolheu-a com bondade e abriu-lhe a porta de acesso; contudo, ao transpô-la, como que aturdida por invisíveis raios, a entidade recuou, exclamando: – Não posso! Não posso!… Disparando interrogações ao vigilante fiscal, explicou-se este, afetuoso: – Realmente, envergas o manto lirial, mas o teu coração permanece pesado e escuro. A beleza de tua veste não representa virtude, porque te acovardaste ante a luta. Salvaste as aparências, à custa do suor alheio. Outros choraram e sofreram, para que te mantivesses na pureza externa. Volta ao mundo e santifica o vaso do sentimento. Adiantou-se a segunda...