10 maio 2022

A caridade desconhecida / The unknown charity


A conversação em casa de Pedro versava, nessa noite, sobre a prática do bem, com a viva colaboração verbal de todos.
Como expressar a compaixão, sem dinheiro? Por que meios incentivar a beneficência, sem recursos monetários?
Com essas interrogativas, grandes nomes da fortuna material eram invocados e a maioria inclinava-se a admitir que somente os poderosos da Terra se encontravam à altura de estimular a piedade ativa, quando o Mestre interferiu, opinando, bondoso:
—Um sincero devoto da Lei foi exortado por determinações do Céu ao exercício da beneficência; entretanto, vivia em pobreza extrema e não podia, de modo algum, retirar a mínima parcela de seu salário para o socorro aos semelhantes. Em verdade, dava de si mesmo, quanto possível, em boas palavras e gestos pessoais de conforto e estímulo a quantos se achavam em sofrimento e dificuldade; porém, magoava-lhe o coração a impossibilidade de distribuir agasalho e pão com os andrajosos e famintos à margem de sua estrada.
Rodeado de filhinhos pequeninos, era escravo do lar que lhe absorvia o suor.
Reconheceu, todavia, que, se lhe era vedado o esforço na caridade pública, podia perfeitamente guerrear o mal, em todas as circunstâncias de sua marcha pela Terra.
Assim é que passou a extinguir, com incessante atenção, todos os pensamentos inferiores que lhe eram sugeridos; quando em contacto com pessoas interessadas na maledicência, retraía-se, cortês, e, em respondendo a alguma interpelação direta, recordava essa ou aquela pequena virtude da vítima ausente; se alguém, diante dele, dava pasto à cólera fácil, considerava a ira como enfermidade digna de tratamento e recolhia-se à quietude; insultos alheios batiam-lhe no espírito à maneira de calhaus em barril de mel, porquanto, além de não reagir, prosseguia tratando o ofensor com a fraternidade habitual; a calúnia não encontrava acesso em sua alma, de vez que toda denúncia torpe se perdia, inútil, em seu grande silêncio; reparando ameaças sobre a tranquilidade de alguém, tentava desfazer as nuvens da incompreensão, sem alarde, antes que assumissem feição tempestuosa; se alguma sentença condenatória bailava em torno do próximo, mobilizava, espontâneo, todas as possibilidades ao seu alcance na defesa delicada e imperceptível; seu zelo contra a incursão e a extensão do mal era tão fortemente minucioso que chegava a retirar detritos e pedras da via pública, para que não oferecessem perigo aos transeuntes.
Adotando essas diretrizes, chegou ao termo da jornada humana, incapaz de atender às sugestões da beneficência que o mundo conhece. Jamais pudera estender uma tigela de sopa ou ofertar uma pele de carneiro aos irmãos necessitados.
Nessa posição, a morte buscou-o ao tribunal divino, onde o servidor humilde compareceu receoso e desalentado. Temia o julgamento das autoridades celestes, quando, de improviso, foi aureolado por brilhante diadema, e, porque indagasse, em lágrimas, a razão do inesperado prêmio, foi informado de que a sublime recompensa se referia à sua triunfante posição na guerra contra o mal, em que se fizera valoroso empreiteiro.
Fixou o Mestre nos aprendizes o olhar percuciente e calmo e concluiu, em tom amigo:
—Distribuamos o pão e a cobertura, acendamos luz para a ignorância e intensifiquemos a fraternidade aniquilando a discórdia, mas não nos esqueçamos do combate metódico e sereno contra o mal, em esforço diário, convictos de que, nessa batalha santificante, conquistaremos a divina coroa da caridade desconhecida.

Espírito Neio Lúcio, do livro Jesus no Lar, psicografado por Chico Xavier.


The unknown charity

The conversation at Pedro's house that night was about doing good, with the lively verbal collaboration of everyone.
How to express compassion without money? By what means to encourage beneficence, without monetary resources?
With these questions, great names of material fortune were invoked and most were inclined to admit that only the mighty ones on Earth were able to stimulate active piety, when the Master intervened, opining, kindly:
—A sincere devotee of the Law was exhorted by Heaven's ordinances to the exercise of beneficence; however, he lived in extreme poverty and could not, in any way, withdraw the smallest part of his salary to help his fellow men. Truly, he gave of himself, as much as possible, in good words and personal gestures of comfort and encouragement to all who were in suffering and difficulty; however, he was heartbroken at the impossibility of distributing clothing and bread to the ragged and hungry on the side of his road.
Surrounded by tiny children, he was a slave to the home that soaked up his sweat.
He recognised, however, that, if he was forbidden to exert himself in public charity, he could perfectly well fight evil, in all the circumstances of his march on Earth.
Thus he proceeded to extinguish, with unceasing attention, all the inferior thoughts that were suggested to him; when in contact with persons interested in backbiting, he would withdraw, courteously, and, in answer to some direct interpellation, recall this or that little virtue of the absent victim; if anyone, before him, gave fodder to easy anger, he considered anger as a disease worthy of treatment and retired to stillness; insults from others hit him in the spirit like pebbles in a barrel of honey, because, in addition to not reacting, he continued to treat the offender with the usual fraternity; slander did not find access to his soul, since every vile denunciation was lost, useless, in his great silence; noticing threats over someone's tranquility, he tried to undo the clouds of incomprehension, without fanfare, before they assumed a stormy face; if some condemnatory sentence danced around the next, he spontaneously mobilized all the possibilities at his disposal in the delicate and imperceptible defense; his zeal against the incursion and the spread of the evil was so intensely detailed that he went so far as to remove rubble and stones from the public road, so that they would not pose danger to passers-by.
Adopting these guidelines, he reached the end of the human journey, unable to heed the suggestions of beneficence known to the world. He had never been able to hand out a bowl of soup or offer a sheepskin to brothers in need.
In this position, death took him to the divine court, where the humble servant appeared fearful and disheartened. He feared the judgment of the heavenly authorities, when, suddenly, he was haloed by a brilliant diadem, and, because he asked, in tears, the reason for the unexpected prize, he was informed that the sublime reward referred to his triumphant position in the war against evil. , in which he had become a worthy contractor.
He fixed the Master on the apprentices with a perceptive and calm gaze and concluded, in a friendly tone:
—Let us distribute the bread and the covering, let us light the light for ignorance and intensify fraternity by annihilating discord, but let us not forget the methodical and serene combat against evil, in a daily effort, convinced that, in this sanctifying battle, we will conquer the divine crown of unknown charity.

Spirit Neio Lúcio, from the book Jesus no Lar, psychographed by Chico Xavier.

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