Wanda

Um bilhete do Dr. Bezerra de Menezes, recebido há tantos anos e somente, agora, compreendido...
Nossa queridíssima irmãzinha Wanda, nossa espiritualizada cunhada, que foi chamada ao Seio do Senhor no dia 21 de abril de 1941, teve, em seus anos de obsessão começada em 1935, um pouco desprezada, uma lesão orgânica do cérebro, motivo por que, mesmo verificando-se, por arrependimento, o afastamento ao seu obsessor, segundo nossas observações, jamais recuperou, salvo nos últimos momentos de vida, a vivacidade da sua inteligência.
E, através das endoenças e aleluias do seu Caso Doloroso, observamos mais, em seu começo, este singular fenômeno que o Dr. Bezerra de Menezes também observara num filho seu, estudante de Medicina, atacado de alienação mental, — que, passados os acessos e entrando em período de lucidez, ficava ela calma, manifestando perfeita consciência, memória normal.
E, conversando conosco, manifestava seu pensamento, dizendo sentir-se forçada a fazer coisas que não queria, e que em tudo aquilo havia uma causa que só Deus sabia, mas que, às vezes, lembrava-se de haver pedido aquela provação, mediante a qual haveria de polir seu Espírito, resgatar faltas passadas e ajudar outros irmãos a fazerem o mesmo...
E o Tempo, “patrimônio sublime do homem”, no dizer do querido Padre Germano, passava rápido.
E nós sempre e sempre a lermos páginas e páginas daquele livro inédito, em que ganhávamos Lições preciosas da Misericórdia de Deus à Luz do Evangelho Segundo o Espiritismo.
Uma noite em que mais sofríamos, vendo-a sofrer com acessos continuados e martirizantes, procuramos, com Mãe Ritinha, a esposa e demais familiares, um remédio e um refúgio na Prece.
Oramos, em conjunto, corações ajoelhados, na fala das lágrimas.
E, de acréscimo e por misericórdia, nos veio este precioso bilhete de Bezerra de Menezes:
— Desejais a cura do corpo somente, quando o que mais nos interessa é a cura de seu Espírito e dos que a rodeiam, encarnados e desencarnados. Orai e confiai, pois.
O Tempo, o Mestre silencioso, Juiz reto e imperturbável, continuou passando e a nos dar aquelas páginas de ensino e dor. E pensávamos, às vezes, de nós para conosco:
— Por que será que esta criatura tão moça e tão bondosa, tão simples, tão meiga e tão pura, não se restabelece? Que haverá atrás de todo o véu, a razão de ser deste Caso, explodido em 1935, 15 dias depois do seu casamento, do casamento de nossa querida Wanda, que, adivinhando-lhe o desfecho, desejava sempre o celibato voluntário, uma vida verdadeiramente monástica?!...
E a resposta, a intuição, coisa alguma nos vinha à mente...
Sabíamos apenas que aquele Caso era muito de nossa história, que precisávamos dele e que, nele tínhamos uma parte a tomar, uma dor a lenir, um recado a dar, um testemunho a demonstrar, sob o olhar bendito de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dez dias depois do recebimento do expressivo bilhete do Dr. Bezerra de Menezes, nossa irmãzinha Wanda desencarnou.
Sua fisionomia mansa, cor dos lírios, era qual a dos Anjos e como que nos dizia nada levar do mundo senão a saudade, que é a flor roxa do amor que sofre e ama.
E agora, em nossa sala de estudo, pensamos nela, nos seus 22 anos vividos sem prazeres e alegrias, sem aleluias e cheios de endoenças.
E, pensando nela, pensamos no bondoso velhinho Bezerra, que tanto nos merece, e, à nossa memória cansada e vestida de crepe, vem um raio de luz trazendo-nos o teor daquele precioso bilhete, há anos recebido e pouco compreendido:
— Desejais curar o corpo somente, quando o que mais nos interessa é a cura do seu Espírito e os dos que a rodeiam, encarnados e desencarnados. Orai e confiai, pois. — Bezerra.
Compreendemos, afinal, toda a graça recebida. Traduzimos, felizmente, todo o bilhete escrito, o espírito da sua letra, por outra alma que sofria e sofre ainda com a nossa prova...
E dela, da nossa saudosa Wanda, do seu Espírito formoso, sabemos que foi curado, iluminado, sim, pela Graça de Deus!
Agora, quanto aos outros no meio dos quais estamos, sabemos que ainda não se acham curados...
Continuam doentes e esperando que, da Misericórdia Divina, do País da Verdade, venha ela fazer como desencarnada o que não pudera fazer como encarnada, ensinando-nos a viver com e por Jesus, como vivera, sofrendo bem e compreendendo bem o sofrimento como o Psíquico Tesouro, o cadinho purificador em que se forjam as asas dos Anjos e dos Santos.

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