Tornou-se espírita
O Dr. "X" era um amigo sincero do Dr. Bezerra de Menezes.
Penalizava-se, dizia, por ver seu nobre colega metido com o Espiritismo e com seus adeptos ignorantes...
Não descobria uma justificativa para o apego do seu amigo a uma Doutrina tão esquisita, tão sem razão de ser...
O comércio com os Mortos, seria lá possível tamanho disparate?!
Ainda não tivera uma prova... E sotaqueava (zombava) da convicção radicante, inabalável, do Médico dos Pobres...
Convidado para assistir a uma Sessão Espírita, desculpava-se, alegando sempre falta de tempo para não dizer aversão ao contacto com os Fantasmas...
Morre-lhe, intempestivamente, o pai, malgrado haver recebido toda a assistência médica, inclusive as visitas e os passes do Apóstolo brasileiro.
Com este empurrão providencial, foi assistir a uma Sessão Espírita, presidida por Bezerra.
Um dos médiuns presentes, justamente um homem inculto, recebe o Espirito de um Médico e dialoga com o Dr. X... Dá-lhe notícias do seu progenitor. Entra a conceituar sobre o Espiritismo e sua influência consoladora na Medicina, revelando-lhe infinidades de doenças originadas do Espírito, principalmente quando esse, não seguindo o Evangelho de Jesus, não se imunizou contra os venenos da cólera, dos ódios, das ambições, do egoísmo, do orgulho e das vinganças.
— O Dr. X via em tudo isto uma coisa preparada, um sermão encomendado... E, crendo-se vítima de uma mistificação, explorado, zombado, saiu, deixando a Sessão em meio e seu colega apiedado e surpreso com seu gesto...
Chegou em casa e desabafou-se com a esposa e a filha única, de seus 28 anos, noiva, professora recém-formada. Na hora do jantar, foi para a mesa ainda pensando no que lhe acontecera e profligando (combatendo) o Espiritismo e seus tolos e ignorantes adeptos...
De repente, sua filha, que jamais frequentara Sessões Espíritas, que nunca houvera lido livros Espíritas e nem ouvido falar em assuntos desta natureza, cai em transe e, pelo seu aparelho mediúnico, a seu contragosto, incorpora-se o mesmo Médico que, na Sessão presidida por Bezerra, lhe dera preciosas lições sobre a medicina espiritual...
Era demais, então aquilo era mesmo uma verdade. O colega da Espiritualidade, repetindo os conceitos antes emitidos, continuava predicando-lhe os ensinamentos novos acerca das enfermidades, uma das quais lhe vitimara o progenitor. Concluía, entrando em considerações expressivas quanto aos métodos indicados pela novíssima terapêutica dos Espíritos, à Luz da Terceira Revelação.
E isto numa linguagem elevada, dentro de um vocabulário técnico da Medicina, com conhecimentos além, muito além do cabedal cultural da sua filha. Ouviu, emocionadíssimo, toda a digressão elucidante do Espírito comunicante, sem revidar-lhe, sem apartear-lhe, até que este, sentindo cumprida sua Missão, qual fora a de acordá-lo para as realidades vivas do Espiritismo, de que zombara, deixou a médium e partiu...
O ambiente era de perplexidade, de emoção, de receios, de deslumbramentos. A Família toda acordara para uma Verdade incontestável. No dia seguinte, o Dr. X procurou o Dr. Bezerra de Menezes e, beijando-lhe as mãos, pediu-lhe perdão pelo seu gesto brusco, impensado, de ignorante das Coisas Santas de Deus...
E tornou-se, daí em diante, um Espírita estudioso e convicto, um abnegado colaborador do Médico dos pobres, um servidor leal da Bondade Divina.