Palavras necessárias II

Para finalizar, passamos, agora, a falar, em síntese, dos demais Poetas do livro magnífico, que se autenticam através do ritmo, do modo característico de versejar e do individualismo da forma e do fundo dos seus trabalhos psicografados.
Casimiro de Abreu, o nosso “Alfred de Musset”, menos genial, porém mais percebedor da grandeza de DEUS, com aquela maneira espontânea de produzir belezas, como uma fonte produz água; poeta que pouco se preocupou com as molduras de seus quadros, porque era um pássaro que gorjeava e sabia que o tom de sua voz lhe vinha do coração e por isso comovia e encantava, como comove e encanta; – em “Parnaso de Além-Túmulo’ é sempre o mesmo amante da natureza de sua terra, o mesmo sentimental, o Poeta ingênuo e doce, comovedor e manso, como as crianças.
Os versos: “À MINHA TERRA”, “À TERRA” e “LEMBRANÇAS”, são dele e repetições da música do estilo e da beleza de “MEUS OITO ANOS”. No todo, a sua poesia de agora é mais uma renda, uma rosa de espuma, uma sinfonia em “lá menor”, um acervo de verdades espíritas, verdadeira oração à natureza fecunda do Brasil, uma árvore verde, enfim, cheia de ninhos e de favos de mel, tal como a de “PRIMAVERAS”.

Quem se lembra de:
Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida.
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Daquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais…

Deve alegrar-se com:
Que terno sonho dourado
Das minhas horas fagueiras,
No recanto das palmeiras
Do meu querido Brasil!
A vida era um dia lindo,
Num vergel cheio de flores
Cheio de aromas e esplendores
Sob um céu primaveril.

Vemos que, quer um quer outro se parecem no ritmo e na beleza. O primeiro, escrito na terra, o segundo no espaço.
Quantos não ficarão de pálpebras umedecidas à leitura dos últimos versos de “À MINHA TERRA”, principalmente, se com sinceridade, já os souberam sentir e amar no seu ideal, na sua dor, na sua resignação, nas suas “PRIMAVERAS”:

Se a morte aniquila o corpo
Não aniquila a lembrança;
Jamais se extingue a esperança
Nunca se extingue o sonhar!
E à minha terra querida,
Recortada de palmeiras,
Espero em horas fagueiras
Um dia, poder voltar.

Que o bondoso Pai te atenda, grande “Casimiro” e possas vir, ainda, ao nosso meio, nobilitar a tua gente e engrandecer a nossa época.
Agora, Castro Alves, – a grande orquestra de seu tempo, – o nosso papai “Hugo”, de quem foi discípulo mental, nos aparece no livro de Francisco Cândido Xavier com aquele mesmo seu messianismo humanitário, sempre épico, dentro daquela escola condoreira, que “ele” e Tobias Barreto introduziram no Brasil e com a qual morreram. MARCHEMOS, por exemplo, vale por um livro, emparelha-se com “VOZES DA AFRICA”, com aquele mesmo tom oratório e profético, aquela mesma beleza fraseológica, única, castro-alvense.
Por falta de espaço, leiamos apenas alguns versos:

Tudo evolui, tudo sonha
Na imortal ânsia risonha
De mais subir, mais galgar.
A vida é luz, é esplendor,
Deus somente é seu amor,
O Universo é o seu altar.

É o sofrimento de Cristo,
Portentoso, jamais visto,
No sacrifício da cruz,
Sintetizando a Piedade,
E cujo amor à verdade
Nenhuma pena traduz.

É Sócrates e a cicuta
É César trazendo a luta
Tirânico e lutador;
É Celini com sua arte,
Ou a espada de Bonaparte…
O grande conquistador.

É Anchieta dominando,
A ensinar catequizando
O selvagem infeliz;
É a lição de humildade,
De extremosa caridade
Do pobrezinho de Assis.

Mais não é preciso, cremos, para demonstrarmos a utilidade e a beleza, como dissemos, do significativo e lindo presente que Francisco Cândido Xavier acaba de fazer ao Espiritismo.
Todos os Poetas que lhe deram poesias o fizeram de maneira limpa e única, porque são bem autênticas.
Longe iríamos se procurássemos falar de “João de Deus”, o cinzelador de velhas imagens; de “Junqueiro”, – dono de imagens bravias e chamejantes, – que, quando predica a verdade, é como o raio que amedronta e convida à concentração, ao estudo e à prática das coisas de Deus; de “Antero”, o “Santo Antero”, como lhe chamava o grande “Eça de Queiroz”, – com sua maneira simples e talentosa de ver a vida; de Cruz e Souza, introdutor no Brasil da poesia simbolista, – o negro poeta, humanista e sofredor, bom amigo e mansa criatura; de Pedro de Alcântara, o nosso Imperador teósofo, que nunca esquecia os seus pobrezinhos, que sabia, como ainda sabe, mais viver pelos outros do que por si mesmo; e de “Souza Caldas”, “Júlio Diniz”, “Casimiro Cunha”, “Auta de Souza” e “Bittencourt Sampaio”. Todos se atestam. Quem duvidar, que compare a poesia de cada qual, como encarnado e, agora, como desencarnado.
“Parnaso de Além-Túmulo” veio dar (permita-nos a imagem) uma vassourada enérgica nos cérebros endurecidos dos que, nem vendo, acreditam. Tem a propriedade de alertar os espíritos terrenos, chamando-os ao raciocínio da Verdade. Nele não encontramos versos frouxos, nem rimas com assonâncias, impropriedades de linguagem, insignificância vocabular, ou deslizes de vernaculidade, por parte daqueles que aqui não os tinham.
O livro Parnaso de Além-Túmulo, editado pela Federação Espírita Brasileira e prefaciado, admiravelmente, pelo ilustre confrade M. Quintão é, pois, um magnífico espetáculo da inteligência, melhorada de poetas desencarnados e da qualidade boa do instrumento mediúnico. Francisco Cândido Xavier (que ele nos perdoe contrariar a sua modéstia e a sua grande alma) é um atestado vivo da Verdade Espírita. Marca um dos momentos mais expressivos do nosso progresso mediúnico e avulta como um dos cimos espirituais da doutrina santa e verdadeira de Jesus, codificada por Allan Kardec.
Com uma cópia da nossa crônica, mandamos uma carta ao humilde e abnegado médium. A resposta que recebemos de Francisco Cândido Xavier fez-nos chorar de emoção. Conhecêramos, pela carta recebida, que nos achávamos diante de uma Grande Alma a Serviço do Senhor.
Desde daí, começamos uma correspondência que, interrompida às vezes, a benefício do extraordinário polígrafo da cidade de “Pedro Leopoldo”, chega até hoje, para nosso enlevo e para que, ainda, de quando em quando, vivamos horas de Encantamento, em contato com os Ensinos Vivos e Salvadores do Divino Amigo, na pessoa de seu leal servidor.
Em novembro de 1944, já residindo aqui, no Distrito Federal, depois de uma convivência de 13 anos pelo fio do pensamento, fomos visitá-lo. Chico Xavier vivia seus grandes dias de apreensões e de dores, “O CASO HUMBERTO DE CAMPOS” estava em foco. Era o assunto do dia. A imprensa daqui e do interior, através de seus repórteres mais atilados, estava em “Pedro Leopoldo”. Chico era descoberto e experimentado por todos os meios. O repórter de uma revista carioca, mais bisbilhoteiro e catador de novidades e não muito amigo das verdades apuradas, tanto mais quando estas lhe contrariavam seus acanhados pontos de vista, fê-lo chorar lágrimas amargas, que ele derramou em silêncio para que ninguém, em seu redor, as notasse e com ele sofresse.
Em Belo Horizonte, antes de tomarmos a camioneta que nos levaria a Pedro Leopoldo, lemos num jornal local a resposta que dera a quantos o visitavam para o animar e prestar-lhe solidariedade: “CREIO EM JESUS.”
E disse tudo, mostrando-nos uma alma cristianizada e ligada ao Seu e Nosso Mestre, confiante naquele que tudo é e pode, Advogado de seus verdadeiros servidores junto ao Grande Juiz, que é Deus.
Em Pedro Leopoldo chegamos, pois, dentro de um clima de apreensões. Soavam aos nossos ouvidos as palavras inspiradas de Emmanuel, seu amoroso Guia: Ganhando, às vezes, perdemos. Perdendo, quase sempre ganhamos. Sim, com Jesus. E, de fato, mais tarde sucedeu o que previra o esclarecido autor de Há dois mil anos: Chico perdeu para os homens, humilhando-se, sofrendo, testemunhando os Ensinos do Amigo Celeste, em atos, em ações e, para Jesus, ganhou uma Grande Batalha.

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