O poderoso recurso da prece

Pede-me o confrade Ramiro Gama que relate, para a nova edição de seu livro, um caso ocorrido em minha família, faz alguns anos, e no qual tive a prova imediata da ação da prece. Embora o caso já tenha sido publicado no jornal “O Clarim”, de Matão (SP), vou resumi-lo, aqui, a fim de atender à solicitação amiga de Ramiro Gama:
"Havia eu saído, horas antes, de uma sessão mediúnica, dirigida pelo coronel Antônio Barbosa da Paixão (um dos primeiros espíritas, que conheci no Rio de Janeiro), muito próxima da pensão onde eu morava, na rua Haddock Lobo. Faço questão de ressaltar uma circunstância: sempre tive pelo cel. Paixão, que era um homem de bem, na mais exata acepção do termo, uma admiração profunda; mas a verdade que, doutrinariamente falando, havia certas divergências entre nós, e ele, homem compreensivo e humilde, sabia disto, mas a nossa estima e o meu sincero respeito a essa nobre expressão de valor humano jamais se alteraram. Pois bem, embora discordando intimamente de algumas praxes adotadas pelo cel. Paixão no tocante à repetição de preces e outros aspectos, que, aliás, não comprometiam de forma alguma as verdadeiras características do Centro Espírita que ele dirigia com a maior dignidade, eu me sentia bem, espiritualmente, quando ia às sessões, porque o fato de estar na direção dos trabalhos um homem da envergadura moral e da simplicidade do cel. Paixão era uma garantia, era um motivo de tranquilidade interior, para todos nós. Barbosa da Paixão irradiava simpatia pela educação, pela amabilidade com que se dirigia a todos, fosse quem fosse, pelo timbre de humildade e pureza que ele imprimia às sessões espíritas.
Vamos, agora, ao meu caso. 
Certa noite, ao deixar a sessão, em casa do cel. Barbosa da Paixão, bem calmo e confortado, ainda sob os efeitos do bom ambiente que eu levara do Centro, encontrei uma surpresa desagradável, ao entrar em casa: minha filha mais velha (hoje casada), e que tinha apenas um ano quando se deu o caso, estava com dores fortes, sem dormir, chorando muito, apresentando contorções um tanto esquisitas, e já era tarde da noite. Minha mulher, com a menina nos braços, caminhando para lá e pra cá, não conseguia melhorar a situação. Quando vi o quadro, lembrei-me logo de fazer uma prece e pedir o auxílio do Espírito de Bezerra de Menezes, que já me beneficiou mais de uma vez, em circunstâncias especiais. Eu estava, como já disse, sob a influência do ambiente sadio, do ambiente benéfico da sessão mediúnica, e naturalmente levei esse ambiente espiritual para o meu lar. Havia, portanto, um estado de predisposição psicológica para o ato da prece. Então, deitei-me naturalmente, como se fosse dormir, e fiz sinal a minha mulher que ficasse onde estava, com a menina nos braços, enquanto eu fazia a prece, em silêncio, pedindo a Bezerra que me desse auxílio naquele momento. Imediatamente, antes de terminar a prece, comecei a sentir uma espécie de frio na mão direita e, deitado mesmo, apenas com os olhos fechados, apliquei o passe. Fi-lo com toda a confiança, porque já estava sentindo as irradiações desse bondoso Espírito.
Resultado: à medida que aplicava o passe, de lá, da cama onde estava, pois a menina continuava distante, no quarto, ela ia ficando calma, ia deixando de chorar e, por fim, quando terminei o passe, com a prece, a menina já estava dormindo.
Minha mulher pôs ela no berço, tudo voltou ao estado de calma e, no dia seguinte, a criança amanheceu rindo, como sempre, como se nada houvesse acontecido antes. 
Senti, aí, mais uma vez, pois tenho várias experiências pessoais, o poderoso recurso da prece, como também senti a vibração caridosa desse espírito iluminado, que se chamou, entre nós, Adolfo Bezerra de Menezes.”


Rio de Janeiro, Guanabara, 9 de novembro de 1965.
Deolindo Amorim

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