Notícia sobre o livro

Assim como O Livro dos Espíritos teve urna edição inicial de contato, ampliada definitivamente na segunda edição, também O Livro dos Médiuns foi precedido de um pequeno volume intitulado Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas. Publicado em 1858 esse pequeno volume foi substituído, em janeiro de 1861, pela primeira edição de O Livro dos Médiuns. A presente tradução foi feita da segunda edição, lançada por Didier & Cie., em 1862, sob revisão pessoal de Kardec: “com o concurso dos Espíritos e acrescida de grande número de novas instruções”, como se lê no original francês. Foi essa a edição definitiva.
Com a preparação deste livro Kardec considerou o Livro Instruções Práticas superado. Seu desejo era que os espíritas estudassem mais a fundo o problema mediúnico, não ficando apenas nas informações iniciais daquele pequeno volume. Entretanto, 65 anos mais tarde, em 1923, Jean Meyer, que então presidia a Casa dos Espíritas, em Paris, achou conveniente lançar nova edição do Livro Instruções Práticas. Essa edição despertou, no Brasil, o interesse de Cairbar Schutel, que depois dos necessários e entendimentos com Meyer lançou entre nós, pela sua modesta e heroica editora de Matão, Estado de São Paulo, a primeira tradução brasileira da obra. Nova edição foi lançada em 1968 pela Casa Editora O Clarim, a mesma de Schutel, como parte das comemorações do primeiro centenário do nascimento de seu fundador. Instruções Práticas se impôs novamente ao meio espírita como um livro necessário, em virtude do seu caráter de síntese.
Apresentado por Kardec como continuação de O Livro dos Espíritos, este livro foi também considerado por ele como em grande parte obra deles, o que se pode verificar na Introdução. Os Espíritos o reviram, modificaram, aumentaram, acrescentando-lhe um número muito grande de observações e instruções do mais alto interesse. É o segundo volume da Codificação do Espiritismo e, como assinala Kardec, desenvolve a parte prática da doutrina. Por isso mesmo é o livro básico da Ciência Espírita, um tratado de mediunidade indispensável a todos os que se interessam pela boa realização de trabalhos mediúnicos e pelo desenvolvimento das pesquisas espíritas.
A tese fundamental deste livro é a da existência do perispírito ou corpo energético dos Espíritos, elemento de ligação do espírito ao corpo material. Essa ligação, de tipo energético ou vibratório, é o princípio da mediunidade. Assim como o nosso espírito anima o nosso corpo através do perispírito, constituindo em vida o que chamamos alma, os demais Espíritos, de mortos ou de vivos, podem influenciá-lo. Em sintonia com o nosso espírito podem mesmo utilizar-se do nosso corpo para as suas manifestações. Dessa maneira, a mediunidade é uma condição natural do homem, uma faculdade geral da espécie humana, que se revela em dois campos paralelos de fenômenos: os anímicos, decorrentes das atividades do nosso próprio espírito fora do condicionamento orgânico; e os espíritas, decorrentes das relações naturais do nosso espírito com outros Espíritos.
As investigações da Metapsíquica e da Parapsicologia incidem precisamente nesse duplo campo, investigado em primeira mão pela Ciência Espírita, que graças a uma posição metodológica apropriada obteve há mais de um século o êxito que até agora as referidas ciências não conseguiram. Partindo da certeza da sobrevivência espiritual do homem – certeza adquirida através da pesquisa científica – este livro não se preocupa com investigações referentes a essa prova, mas avança no campo conquistado, pesquisando o processo das relações mediúnicas, estabelecendo as leis e as condições do intercâmbio espiritual, indicando, com a segurança advinda da experiência e da observação, os processos a seguir para a obtenção de resultados satisfatórios na prática mediúnica.
Tanto as pesquisas metapsíquicas quanto as parapsicológicas mais fizeram do que referendar, até agora, os princípios estabelecidos neste livro. Tudo quanto conseguiram provar cientificamente já estava provado pela Ciência Espírita e exposto neste volume. Por exemplo: que a mediunidade (funções psi) é uma faculdade humana natural, que todas as criaturas humanas possuem, mas que em algumas se revela de maneira mais acentuada; que a mediunidade se manifesta duas áreas fenomênicas, a subjetiva e a objetiva (fenômenos inteligentes e fenômenos físicos); que as manifestações sujeitas a leis psicofísicas como as da boa disposição orgânica dos médiuns e assistentes, as de ambiente, as referentes ao processo orgânico da fadiga e assim por diante.
A própria questão da sobrevivência espiritual já está sendo admitida por importantes áreas parapsicológicas como a norte-americana, a inglesa e a alemã sendo de notar a recente inclusão dos fenômenos teta na classificação parapsicológica, ou seja, dos fenômenos referentes a avisos de morte e manifestações mediúnicas de mentes desencarnadas ou de agentes extrafísicos Sendo a Parapsicologia uma ciência integrada no campo da metodologia materialista, de tipo rigorosamente quantitativo e, portanto, inadequado ao objeto que investiga, é evidente que se defronta com enormes embaraços para avançar nas suas pesquisas. Apesar disso, é inegável a sua contribuição para confirmar no seu próprio campo as conquistas efetuadas pela Ciência Espírita e expostas neste livro.
A teoria dos fluidos, tão ferozmente criticada como heresia científica proveniente das hipóteses ingênuas do século XIX, e que tem função tão importante neste volume, já hoje está sendo readmitida na própria Física, embora com outros nomes e outras modalidades descritivas. Na essência, porém, é a mesma teoria do fluido universal e do fluido vital que tem sido sustentada pela Ciência Espírita e figura nestas páginas. Como dizia Kardec do magnetismo, que apenas mudando de nome foi adotado pelas Academias como hipnotismo, os fenômenos espíritas constantes deste livro já foram em grande parte aceitos pela Ciência com outros nomes.
Ao contrário, pois, do que pensam algumas pessoas mal informadas, O Livro dos Médiuns não é um livro antiquado, mas um livro atual, e mais ainda do que isso, um livro que rasga novos horizontes para as concepções científicas dos nossos dias. Nesta edição, como em todas as da coleção Obras Completas de Allan Kardec, que a Editora Edicel lança pela primeira vez no mundo em 20 volumes, procuramos estabelecer as ligações necessárias entre os princípios aqui expostos e as conquistas atuais da Ciência. Dessa maneira, o leitor e, particularmente, o estudante tem em mãos não apenas o texto primitivo da obra, mas também as indicações de todas as relações mais evidentes da Ciência Espírita com as Ciências contemporâneas. E o próprio texto primitivo aparece escoimado de impropriedades e enganos de tradução.

O Tradutor 

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