Humboldt e Benjamin Constant
Uma quarta-feira de maio de 1897.
Sessão privada no Grupo Ismael da Federação Espírita Brasileira.
Bezerra de Menezes, na Presidência, faz a Prece.
Vibra e chora, sentindo o ambiente, povoado de Espíritos doentes, rebeldes, descrentes, verdadeiros ateus, trabalhos de muita responsabilidade e de relevância cristã.
Dirige-se, por isto, à Virgem, de cujo Coração Iluminado, ganhara tantas Graças, para que lhe valesse naquela conjuntura.
Sem Seu Auxílio não poderia realizar sua Tarefa Cristã.
E a paisagem espiritual modifica-se.
Há, pelo ar, cântico de Anjos e perfumes de flores celestiais.
Espíritos Superiores, do Falangiário de Maria Santíssima, abraçam e fortalecem encarnados e desencarnados, no afã respeitoso da Oração e da Vigilância, em busca das Graças entressonhadas.
E dois Espíritos incorporam-se nos médiuns.
Revelam seus nomes: Humboldt e Benjamim Constant, o grande Naturalista que, na terra, vivera extasiado na conquista de conhecimentos nos tesouros da nossa Fauna e da nossa Flora, e o culto positivista e que fora a ideia-força da República brasileira, que lhe deveu o plantio e a segurança. Ambos sábios, donos de grande lastro cultural mas descrentes, sem uma ideia segura da existência de Deus...
Conversam longamente com Bezerra de Menezes.
E se mostram irredutíveis em seus acanhados pontos de vista...
Depois de exaltar o Amor de Deus, Sua Justiça, Sua Sabedoria, o Apóstolo brasileiro conceitua vencido:
— Deus é Amor e somente em estado de Amor e Humildade pode a criatura entendê-Lo, amá-Lo e servi-Lo! Observo que não conseguirei levar-lhes ao íntimo, à zona de lucidez de seus Espíritos, o pouco que sei, que tenho, que acumulei entre lágrimas e dores. Vou, no entanto, orar à Virgem e pedir-LHE que lhes dê o que não lhes consegui dar, porque ainda nada sei e nada valho. E levantou-se e com ele, levantaram os demais companheiros em redor da mesa, inclusive os que traziam os Espíritos incorporados.
E o bom velhinho, já com o coração gasto de tanto sentir a dor de seu próximo, comiserado da situação de seus Irmãos, ali presentes, ainda tão fechados à compreensão de Deus, suplicou da Flor de Jericó, do Coração amantíssimo da Virgem, um Raio de Luz para aqueles descrentes, embora modestos e bons, serviçais e abnegados. A rogativa de Bezerra recebe a Resposta de Nossa Senhora e todo o ambiente se veste de Luz e Amor, de algo que comove e se torna intraduzível!
Os médiuns vibram e, por eles, os dois Espíritos, incorporados, choram, soluçam, assim que observando alguma coisa com que se maravilham e se emocionam.
E o Espírito de Benjamin Constant, falando por ele e pelo Espírito de Humboldt, entre compungido e arrependido, exclama:
— Deus existe! Deus nos abençoa, Deus nos visita. Deus nos dá um testemunho de Sua Existência! Obrigado, Amigo! Que Deus lhe pague o Bem que nos fez!
E partem, levando consigo outros ateus convertidos, emocionados, e deixando, no ambiente, luz e emoção, humildade e gratidão!