Evocação de pessoas vivas

38. A encarnação do Espírito impede de maneira absoluta a sua evocação?
 – Não, mas é necessário que a condição corpórea facilite o seu desprendimento nesse momento. O Espírito encarnado atende mais facilmente quando o mundo em que se encontra é mais elevado, porque então os corpos são menos materiais.
39. Podemos evocar o Espírito de uma pessoa viva?
 – Sim, desde que se pode evocar um Espírito encarnado. O Espírito de um vivo pode, também, nos seus momentos de liberdade, manifestar-se sem ser evocado. Isso depende da simpatia que tiver pelas pessoas em causa. (Ver n° 116, História do homem da tabaqueira).
40. Como se acha o corpo da pessoa cujo Espírito é evocado?
 – Dorme ou cochila; é quando o Espírito está livre.
41. Poderia despertar na ausência do Espírito?
 – Não; para isso, o Espírito é forçado a voltar ao corpo. Se nesse momento estiver se comunicando, ele vos deixa e frequentemente diz o motivo.
42. Como o Espírito é avisado da necessidade de voltar ao corpo?
– O Espírito de um vivo nunca está completamente separado do corpo. Por mais que se distancie, continua ligado por um laço fluídico que serve para chamá-lo quando necessário. Só com a morte se rompe esse laço.
(22) A ligação fluídica é de natureza vibratória e portanto energética. A expressão laço costuma sugerir um cordão material. Devemos lembrar que o perispírito é semimaterial (O Livro dos Espíritos, nº. 95) e compreenderemos melhor a natureza desse laço, que se poderia comparar a uma frequência de ondas nas ligações de aparelhos teleguiados. (N. do T.)

OBSERVAÇÃO – Muitas vezes esse laço fluídico é percebido pelos médiuns videntes. É uma espécie de rastro fosforescente que se perde no espaço, na direção do corpo. Certos Espíritos disseram que reconhecem por ele os que continuam no mundo corpóreo.

43. Que aconteceria se o corpo fosse mortalmente ferido durante o sono e na ausência do Espírito?
 – O Espírito seria advertido e voltaria antes que a morte se consumasse.
44. Não poderia então ocorrer a morte do corpo na ausência do Espírito, e que este, ao voltar, não mais pudesse retomá-lo?
 – Não, isso seria contrário à lei que rege a união da alma com o corpo.
45. Mas se fosse desferido um golpe súbito?
 – O Espírito seria prevenido antes do golpe.
OBSERVAÇÃO – Interrogado a respeito, o Espírito de um vivo respondeu: “Se o corpo pudesse morrer na ausência do Espírito, seria esse meio muito cômodo de se praticarem suicídios hipócritas”.

(23) As pesquisas parapsicológicas provam, atualmente que o pensamento se transmite à distância com rapidez instantânea. Se uma pessoa pensar em ferir outra que dorme, esse pensamento a atinge por antecipação. Nos casos de acidentes a percepção do próprio Espírito da vítima se verifica às vezes com grande antecedência. São os chamados fenômenos de precognição. Por outro lado, sendo a morte um desligamento vital do Espírito, o seu desprendimento total do corpo, é necessário que ele retorne à unidade psicossomática para que se processe o fenômeno biológico da morte. (N. do T.)

46. O Espírito de uma pessoa evocada durante o sono comunica-se tão livremente como o de um morto?
 – Não. A matéria sempre o influencia em maior ou menor grau.
OBSERVAÇÃO – Uma pessoa interrogada nesse estado respondeu: “Estou sempre ligado a bola de ferro que arrasto comigo”.

47. Nesse estado de sono o Espírito poderia ser impedido de atender por estar em outro lugar?
 – Sim, pode acontecer que o Espírito se encontre num lugar em que deseja permanecer. Então não atende à evocação, sobretudo quando feita por alguém que não lhe interessa.
48. É absolutamente impossível evocar o Espírito de uma pessoa acordada?
 – Embora difícil, não há impossibilidade absoluta porque, se a evocação a atingir, a pessoa pode adormecer. Mas o Espírito só pode comunicar-se, como Espírito, nos momentos em que a sua presença não for necessária à atividade inteligente do corpo.
OBSERVAÇÃO – Prova a experiência que a evocação durante o estado de vigília pode provocar o sono ou, pelo menos, uma abstração aproximada ao sono. Mas esse efeito só se produz por uma vontade bastante enérgica e se houver laços de simpatia entre as duas pessoas. De outra maneira a evocação não dá resultado. Mesmo quando a evocação puder provocar sono, se o momento for inoportuno a pessoa não quiser dormir, resistirá. Caso sucumba, seu Espírito estará perturbado com isso e dificilmente responderá. Conclui-se que o momento mais favorável à evocação de uma pessoa viva é o do sono natural, porque o Espírito estando livre pode atender ao chamado, da mesma maneira que pode ir a outro lugar. Quando a evocação é feita com o consentimento da pessoa, tentando esta dormir sob o seu efeito, pode acontecer que essa preocupação retarde o sono e perturbe o Espírito. Eis porque o sono natural é ainda o preferível. 

49. A pessoa viva evocada tem consciência disso ao acordar?
– Não. Tu mesmo és evocado bem mais frequentemente do que pensas. Só o Espírito o sabe e às vezes pode dar ao homem uma vaga impressão do que houve, como a de um sonho.
(24) O Espírito é a essência do homem, mas em cada encarnação se limita às condições existenciais necessárias a essa fase de sua evolução. Sua manifestação é condicionada pelas exigências da existência que está enfrentando. Daí os enigmas do psiquismo o mistério do inconsciente, os problemas do animismo. As respostas a estas pergunta; fazendo a distinção entre o Espírito e o homem, levantam todos esses problemas que as nossas escolas psicológicas e psiquiátricas desconhecem, razão porque muitas vezes se perdem em hipóteses e teorias confusas. (N. do T.)

50. Quem nos pode evocar, se somos seres obscuros?
 – Noutras existências poderias ter sido pessoa conhecida nesse mundo ou em outros, e há também os teus parentes e amigos desse e de outros mundos. Suponhamos que o teu Espírito haja animado corpo do pai de outra pessoa. Pois bem: quando essa pessoa evocar o seu pai, é o teu Espírito que está sendo evocado e que responderá.
51. O Espírito da pessoa viva responde como Espírito ou com as ideias do seu estado de vigília?
 – Isso depende de sua elevação, mas considera as coisas com mais lucidez e menos preconceitos, exatamente como os sonâmbulos. É um estado quase semelhante.
52. Se o Espírito de um sonâmbulo fosse evocado durante o sono magnético seria mais lúcido que o de qualquer outra pessoa?
 – Responderia mais facilmente, sem dúvida, porque estaria mais desprendido. Tudo depende do grau de independência do Espírito em relação ao corpo.
53. O Espírito de um sonâmbulo poderia responder a quem o evocasse à distância, ao mesmo tempo que respondia verbalmente a outra pessoa?
 – A faculdade de se comunicar simultaneamente em dois lugares diferentes só pertence aos Espíritos completamente libertos da matéria.
54. Poderíamos modificar as ideias de uma pessoa em estado de vigília, agindo sobre o seu Espírito durante o sono?
 – Sim, às vezes. Não estando o Espírito, no sono, ligado tão estreitamente à matéria, torna-se mais acessível às sugestões morais e estas podem influir sobre a sua maneira de ver no estado ordinário. Infelizmente acontece, quase sempre, que ao acordar a natureza corpórea o domina e o faz esquecer as boas resoluções que tenha podido tomar.
55. O Espírito de pessoa viva é livre de dizer ou não o que desejar?
 – Ele está na posse de suas faculdades de Espírito, portanto do seu livre-arbítrio. Como dispõe de mais perspicácia, é mesmo mais cauteloso do que no seu estado de vigília.
56. Poderíamos obrigar uma pessoa evocada a dizer o que deseja calar?
 – O Espírito tem o seu livre-arbítrio, como eu disse. Mas pode acontecer que, como Espírito, dê menos importância a certas coisas do que no seu estado ordinário. Sua consciência pode revelar-se mais livremente. Aliás, se não falar, pode sempre escapar às importunações indo embora, pois não se pode reter o Espírito como se retém o corpo.
57. O Espírito de pessoa viva não poderia ser constrangido por outro Espírito a se manifestar e falar, como acontece com Espíritos errantes?
 – Entre os Espíritos de mortos ou de vivos só há uma supremacia, que é a da superioridade moral. Deves compreender que um Espírito superior jamais apoiaria uma indiscrição covarde.
OBSERVAÇÃO – Esse abuso de confiança seria de fato uma ação má, que entretanto não daria resultado, pois não se pode arrancar um segredo do Espírito que o deseja guardar. A menos que, dominado por um sentimento de justiça, confessasse o que em outras circunstâncias calaria. Uma pessoa quis saber, por esse meio, se um de seus parentes a beneficiava em seu testamento. O Espírito respondeu: “Sim, minha querida sobrinha, e logo terás a prova.” Realmente era assim, mas poucos dias depois o parente desfez o seu testamento e teve a malícia de dar ciência disso à sobrinha, sem entretanto saber que havia sido evocado. Um sentimento instintivo o levou, sem dúvida, a executar a resolução que o seu Espírito tomara após a pergunta que lhe fora feita. Há covardia em se perguntar ao Espírito de um morto ou de um vivo que não se ousaria perguntar à sua pessoa, e essa covardia não tem sequer a compensação do resultado que se espera.

58. Pode-se evocar um Espírito cujo corpo ainda se encontra seio materno?
 – Não. Sabes muito bem que nessa fase o Espírito se acha completa perturbação.
OBSERVAÇÃO – A encarnação somente se efetiva no momento que a criança respira. Mas desde a concepção o Espírito designado é envolvido por uma perturbação que aumenta com a aproximação nascimento e lhe tira a consciência de si mesmo. Por conseguinte não pode responder. (Ver O Livro dos Espíritos: Retorno à Vida Corporal e União da Alma com o Corpo, n° 344).

59. Um Espírito mistificador poderia responder pelo de uma pessoa viva que se evocasse?
 – Não há dúvida e isso acontece com muita frequência, sobretudo quando a intenção do evocador não é pura. Aliás, a evocação de pessoas vivas só tem interesse como estudo psicológico. Convém não fazê-la quando não se visa a um resultado instrutivo.
OBSERVAÇÃO – Se a evocação dos Espíritos errantes nem sempre os atinge, para usarmos a sua própria expressão, isso ainda é mais frequente no tocante aos encarnados. É então, sobretudo, que os Espíritos mistificadores tomam o seu lugar.

60. É inconveniente evocar uma pessoa viva?
 – Nem sempre é livre de perigos. Depende da condição da pessoa. Se ela estiver doente podemos aumentar os seus sofrimentos.
61. Quando a evocação de um vivo pode ser mais inconvenientes?
 – Não devem ser evocadas as crianças de tenra idade, as pessoas gravemente doentes, os velhos enfermos. Numa palavra: ela pode ter inconvenientes sempre que o corpo esteja muito debilitado.
OBSERVAÇÃO – A brusca suspensão das faculdades intelectuais durante o estado de vigília, também poderia oferecer perigo, se a pessoa, no momento, necessitasse de toda a sua agilidade mental.

62. Durante a evocação de uma pessoa viva seu corpo se cansa por causa do trabalho do Espírito, embora ausente?
 – Uma pessoa evocada, afirmando que o seu corpo se cansava, respondeu assim a essa pergunta:
 – Meu Espírito é como um balão amarrado a um poste; meu corpo é o poste que estremece com as sacudidelas do balão.
63. Desde que a evocação dos vivos pode ter inconvenientes, quando feita sem precaução, não há perigo também ao se evocar um Espírito que não se sabe se está encarnado e poderia não se encontrar em condições favoráveis?
 – Não, as circunstâncias não são as mesmas. Ele só atenderá se estiver em condições. Aliás, eu já não disse que antes de fazer a evocação deve-se perguntar se ela é possível?
64. Quando sentimos, nos momentos mais impróprios, um sono irresistível, será por que estamos sendo evocados em algum lugar?
 – Isso pode ser, sem dúvida, mas o mais frequente é tratar-se de uma exigência física, seja pela necessidade de repouso do corpo ou porque o Espírito precisa da sua liberdade.
OBSERVAÇÃO – Uma senhora nossa conhecida, médium, teve um dia a ideia de evocar o Espírito do seu neto, que dormia no mesmo quarto. Constatou-se a identidade pela linguagem, pelas expressões familiares da criança e pelo relato bastante exato de muitas coisas que lhe haviam acontecido no internato. Mas uma circunstância ainda a confirmou. Súbito a mão da médium parou em meio de uma frase, sem que fosse possível escrever mais. Nesse momento, meio acordado, o menino agitou-se no leito. Logo mais, voltando a dormir, a mão se pôs a escrever, continuando a conversa interrompida. A evocação de vivos, feita nas condições convenientes, prova de maneira incontestável a atividade distinta do Espírito e do corpo, e por conseguinte a existência de um princípio inteligente independente da matéria. (Ver na Revista Espírita de 1860, páginas 11 e 85 da “Edicel”, vários exemplos notáveis de evocação de pessoas vivas.

(25) Na coleção da Revista Espírita, publicada em português pela Edicel, encontra-se toda a documentação das experiências de evocações de vivos feitas por Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Uma investigação científica rigorosa, que nada fica a dever às pesquisas atuais. (N. do T.)

65. Duas pessoas, evocando-se reciprocamente, poderiam transmitir-se os seus pensamentos e corresponder-se?
 – Sim, e essa telegrafia humana será um dia um meio universal de correspondência.
66. Por que não seria praticada desde agora?
– Já é por algumas pessoas, mas não por todos. É necessário que os homens se depurem para que o seu Espírito se liberte da matéria, eis ainda uma razão para que se faça a evocação em nome de Deus. Até lá, ela estará circunscrita às almas de eleição e desmaterializadas, que raramente se encontram no estado atual dos habitantes da Terra.
(26) As modernas experiências parapsicológicas de telepatia à distância confirmam essa previsão. A tese de Rhine (Duke University) de que o pensamento não é físico, apoia a teoria espírita. E esta teoria, como se vê, considerando a telepatia como forma de comunicação mediúnica, só plenamente acessível aos Espíritos purificados, explica a razão das dificuldades atuais para obter-se segurança e regularidade nas comunicações telepáticas. (N. do T.)

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