Casos de M. Quintão
Manuel Justiniano de Freitas Quintão
Nascimento 28 de maio de 1874.
Falecimento 15 de dezembro de 1955
Presidente da Federação Espírita Brasileira em 1915, 1918, 1919 e 1929.
Numa sexta-feira do mês de maio de 1945, M. Quintão, na varanda de sua aprazível vivenda, no Bairro do Méier, conversava animadamente com o confrade Meireles, quando sua cara companheira o chama para nivelar o piano, isto é, acertá-lo no chão.
Com o auxílio do irmão Meireles, pegou na alça do piano e, fazendo força para levantá-lo, sentiu uma torção nos rins, sobrevindo-lhe intensa dor que o obrigou a acamar-se.
O caso, que antes parecia sem importância, agravou-se, impossibilitando-o de ir à Casa de Ismael presidir à Sessão pública das 19 horas e 30 min. Dona Alzira, sua esposa, alvitrou que telegrafasse ao Chico, respondendo-lhe M. Quintão:
— Não convém, isto vai alarmar e nada produzirá, de vez que, se for permitido, mesmo de longe ou daqui de perto, receberei o remédio de que careço. Esperemos até domingo, se não melhorar, escreveremos ao Chico.
E, por intuição, foi medicando-se.
Domingo, pela manhã, o correio traz uma carta.
Abrem-na.
É do Chico Xavier, com uma mensagem de Emmanuel, que logo de início, diz:
— Antes de tudo, desejo identificar-me, dizendo-lhe que, em verdade, o telegrama antes alarma e nada beneficia. Desde que sofreu o acidente, estamos medicando-o. E continue tomando os remédios que, por via intuitiva, já lhe receitamos.
Dias depois, o nosso caro irmão ficou restabelecido.
Procurou a mensagem para nos dar, mas não a encontrou.
Que pena!
Seria mais um clichê documentativo para o nosso Livro!
Também, em começo de abril de 1947, o mesmo confrade sonha com a data de 18.
Constou esse sonho de seu magnífico livro Cinzas de meu cinzeiro.
Depois de várias considerações sobre sonhos, disse-nos:
— Despertei alta noite, a tracejar uma folha de calendário do ano de 1947.
Era uma dessas folhinhas de parede, modelo comercial, que eu esboçava com requintes de meticulosidade, à tinta encarnada, assim: 1947, 18 de abril, sexta-feira.
E a impressão era tão viva que não resisti ao desejo de grafá-la imediatamente no meu calepino; nem sopitava a freima de transmiti-la aos confrades mais íntimos. E não faltou quem sorrisse de minha puerilidade.
“Ora para que havia de dar o Quintão no crepúsculo da vida!”
Um houve, que identificou a efeméride com a primeira edição do “Livro dos Espíritos”; em outros eu pressentia o palpite piedoso da minha desencarnação. Em matéria de sonhos o campo é livre e infinito, e como lá diz: “O melhor da festa é esperar por ela”, e a festa veio no dia 18 de abril passado; o nosso nunca assaz e lembrado Chico Xavier viajou a serviço, de Pedro Leopoldo para Juiz de Fora e, porque não nos víamos havia três anos, aproveitou o ensejo para uma surpresa de arromba. De arromba, porque me chegou a penates às 22 horas, debaixo de chuva.
Era só para matar saudades, num fugaz e furtivo abraço. Não podia demorar, regressaria no primeiro trem da manhã, precisava parar ainda em Juiz de Fora e estar a tempo em Pedro Leopoldo, a fim de, na próxima terça-feira, seguir para a Feira Pecuária de Uberaba. Serviço é Lei, manda quem pode. Repousar? Dormir? Não. Poderia perder o trem… Candura do Chico!
— Vamos, então, “bater papo” toda a noite, enquanto chove grosso lá fora. Mesa posta, café, biscoitos e um mundo de ideias, comentários, recordações. O velho Cronos se eclipsa, envergonhado talvez, e Morfeu vai-lhe na pegada com as suas papoulas… Às quatro da madrugada canta o galo. Minha mulher pede ao Chico uma indicação, um conselho mediúnico…
— Deixa-te disso, o Chico está fatigado, exausto mesmo; de resto, eu sempre fui infenso a comunicações preconcebidas.
O Médium, porém, não recalcitrou, toma lesto da lapiseira e sem pestanejar escreve de jato:
AVE, MARIA!
No primeiro aniversário
De minha libertação,
Em teu lar, Quintão amigo,
Procuro o altar da oração.
Ave, Maria! Mãe que por nós velas
Do teu trono de ternos resplendores,
Auxilia os teus filhos sofredores,
Que padecem a fúria das procelas.
Cheia de graça, estrela entre as mais belas,
Anjo excelso dos pobres pecadores,
Balsamiza, Senhora, as nossas dores,
Tu, que por nossas almas te desvelas.
O Senhor é contigo, Soberana,
Astro sublime sobre a noite humana,
Sol que infinitos dons de Deus encerra!
Bendita és para sempre, Mãe querida,
Por teus braços de amor, ternura e vida,
Por teu manto de luz que ampara a terra!
Espírito Braga Neto.
Isto, continua M. Quintão, com a lapiseira que guardo como lembrança do saudoso e inesperado visitante. (Braga Neto).
Juro que não me lembrava, absolutamente, do seu transpasse nesta data. Nem o Médium, tê-lo-ia de memória, tão pouco.
E aqui fica mais um lindo caso de um sonho premonitório, para cuja realização o caro Chico foi o instrumento feliz.