A luxação do Viriato
O prezado confrade Alberto Souza Rocha dedicou-nos o Caso abaixo; publicou-o no jornal O Espírita Fluminense de agosto de 1960, e pediu-nos que o fizéssemos constar da segunda edição deste nosso livro.
Com muito prazer lhe atendemos e agradecemos por esta sua valiosa colaboração.
“Quem se dedicar, como o nosso querido irmão Ramiro Gama, à tarefa convidativa de reunir e publicar os lindos casos que repontam em toda a parte envolvendo fatos de interesse nos domínios do Espiritismo, terá por força uma tarefa inextinguível.
É tão comum encontrarem-se pessoas espíritas a contar casos, com aquele entusiasmo contagiante que prende e comove que não haveria mãos a medir. É a misericórdia de Deus que a todos chega e que a muitos envolve nas luzes do seu Amor.
Lemos os “Lindos casos de Chico Xavier“. Agora os de Bezerra de Menezes.
Compulsando uma publicação antiga da Federação Espírita Brasileira, a da bela conferência do consagrado escritor Viriato Corrêa, quando de sua profissão de fé espírita, demos com mais um caso do nosso bem amado Bezerra. Que o irmão Ramiro possa incluí-lo nas futuras edições de sua obra. Ei-la, na palavra do beletrista:
“Sofro de uma luxação dos músculos do braço direito, na região do úmero, motivada por várias luxações. No meu tempo de estudante em Pernambuco, luxei o braço e, de lá para cá, os deslocamentos se têm repetido vinte e duas vezes.
Qualquer jeito mal, estou com o úmero fora do lugar. E a redução da luxação é sempre demorada. Sofro dores incríveis, tremendas, culminantes. Uma noite de setembro, dormia, talvez agitadamente. Parece-me que me deitei sobre o braço, que fiz algum jeito mau. O que é certo é que, num grito, acordei com o braço luxado. Alarmei as pessoas da casa. Aquela hora, no Maranhão, um médico, como aqui, como em qualquer lugar, é dificílimo. Foi-se à procura do médico. Fiquei sentado à beira da cama, com o braço arriado, esperando. Eram duas horas da madrugada. Sofrendo dores intensas, pus-me a imaginar as que teria de sofrer quando o médico chegasse, quando fosse o momento laborioso da redução do deslocamento.
Era a vigésima segunda vez e bem sabia o que me esperava. Nesse instante, estava sozinho no quarto. Veio-me à lembrança o nome de Bezerra de Menezes. Fora ele, na terra, na última encarnação, um médico de fama, um operador notável. E do que eu necessitava era de um médico. E concentrei-me. Concentrei-me e pedi com todas as minhas forças. Não sei quantos minutos estive na concentração. Não mais de cinco. Subitamente ouvi um som, o som que as rolhas de garrafas de cerveja produzem quando saltam, o som do úmero deslocado que volta a seu lugar. Levei com rapidez a mão esquerda à região doente. A luxação estava reduzida. Dei um salto da cama, estatelado. Quem se não surpreenderia? Uma luxação escapuloumeral não a reduz quem quer. Tenho tido médicos habilíssimos ao meu lado, durante horas, em esforços exaustivos. Uma luxação, redu-la quem sabe, quem tem prática e isto com muito trabalho, com jeitos próprios, movimentos particularíssimos, sem falar nas dores cruciantes do doente.
A minha ali estava reduzida sem um movimento, sem o mais leve movimento e sem dor.”