13 outubro 2019

Na Senda


Na senda

Enquanto o discípulo apenas se enlevava na meditação, acerca do Mestre, tudo se lhe afigurava harmonia... Cada ensinamento era para ele uma nascente de luz, rasgando horizontes novos. E, por isso, a vida nunca lhe pareceu tão suave e risonha.
Ébrio de júbilo dividia-se entre o firmamento povoado de estrelas e a Terra de flores, a repetir:
- Que não farei por ti, Senhor?
Muitas luas decorreram, assinalando a passagem do tempo, quando o Mestre deliberou chamá-lo à sua presença augusta.
Escutando a divina voz, o aprendiz pôs-se em marcha, transbordante de contentamento.
Que não faria para testemunhar amor e gratidão?
Em plena estrada, contudo, arrefeceu-se-lhe o ânimo: é que lhe era enorme o dispêndio de energia, ressumando-lhe o suor em grossas bagas.
Erguia-se a poeira, fustigando-lhe o rosto.
De espaço a espaço, desabava um temporal, dardejando-lhe em torno raios deslumbrantes e aterradores; e então a lama se enovelara e esparzia em todas as direções.
Quando a sede o escaldava, não via senão água barrenta, e, se a fome o corroía, somente encontrava frutos amargos e ervas venenosas.
Ele, que começara a viagem à marcha batida, arrastava-se agora passo a passo.
Serpentes e ciladas multiplicavam-se na dificultosa jornada.
E ele, prometera amor a todos e a tudo, lançava-se ao ódio: ele, que louvava a humildade, entregava-se à revolta; ele, que enxergava no mundo o templo magnificente do Eterno, passara a considerar a Natureza taça de fel...
Incapaz de compreender a necessidade da luta para o crescimento da própria alma, ele, que se afirmara apaixonado pela perfeição do Mestre, duvidou de Sua Sabedoria e previdência.
Por que não vinha o Senhor em seu auxílio? Por que abandonar um aspirante da luz em plena desesperação?
Depois de longa reflexão, recolheu-se a extrema tristeza e fugiu à estrada real da redenção, arrojando-se, espavorido, aos formidáveis desfiladeiros das margens.
Assim decorre na jornada cristã.
Enquanto o seguidor do Evangelho apenas dorme e sonha, falando e imaginando, fora das realidades que lhe dizem respeito, é como o bateleiro em que lago plácido, a vogar de manso à brisa acariciante, sob um céu azul; mas, se desperta e resolve navegar no largo oceano, ao encontro da Claridade Divina, pensando e agindo, conscientemente, de acordo com as lições do Mestre, os recifes e os evangelhos lhe sobranceiam o batel, em desafio ao aventureiro.
Trava-se, então, a grande batalha.
Somente a fé ungida de amor conseguirá vencer.

Chico Xavier/Bento Pereira, no livro Falando à Terra

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