Cantiga da fé
Indagas, coração,
Como seguir além de alma segura,
Ante a noite de pranto e de amargura,
Como agir e avançar …
Contemplemos a estrada em que marchamos:
Quando a tormenta ruge, implacável e cega,
A vida roga em tudo a que se apega:
Confiar, confiar …
Bramem trovões, ao longe riscam raios,
Grandes árvores tombam retorcidas,
Gemem no vale multidões de vidas,
O furacão é um monstro sem lugar …
As aves espantadas, entretanto,
Relegadas, de chofre, aos assombros da furna,
Pipilam, como em prece, ante a treva noturna:
Confiar, confiar…
Pedras lascadas rolam sob estrondos,
Gritam rochas no impacto violento,
Braços ocultos no fragor do vento
Movem a gleba multissecular…
Águas descendo era fúria jorram lodo
E engolindo-as em paz sem que se afronte,
Conquanto a sufocar-se, reza a fonte:
Confiar, confiar …
Mas o aguaceiro passa … A sombra aos poucos
Foge temendo o dia que a devora
As janelas de luz da nova aurora
Abrem-se, a plenos céus, de par em par …
O Sol ressurge a refazer o campo
Depois extingue a lama dos caminhos
E as aves cantam restaurando os ninhos:
Confiar, confiar…
Assim também, alma querida e boa,
Nos momentos de angústia a que te levas
Sofre sem reclamar a convulsão das trevas,
Persistindo no bem, a servir e a esperar…
E embora as aflições e as lágrimas do mundo,
Pela fé, ouvirás, de ânimo atento,
A mensagem de Deus no firmamento:
Confiar, confiar…
Espírito Maria Dolores, do livro Recanto de paz, psicografado por Chico Xavier.
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