Natal na aldeia
Soluços da alma contente…
Doce visão do Natal!…
Deus vos salve eternamente,
Lembranças de Portugal!
Natal!… O trigo na Azenha,
Água correndo a cantar!…
A lareira pede lenha,
Fagulhas brincam no ar.
Natal! Ah! Saudade minha!…
Cantiga do coração!…
A teleiga de farinha
Amassa a estriga do pão.
Na sombra que envolve a terra,
Outeiros acendem lume.
Do braçal que se descerra
Chegam vagas de perfume.
À janela, erguem-se vozes…
—“Pastores ternos, quem sois?…”
Meninos voam às nozes;
Quanta alegria depois!…
Na sala que se alvoroça,
Surge um velho sem ninguém.
Diz o dono: —“A casa é vossa
E a mesa é vossa também…
Provida e grande candeia
Faz luz sob o teto morno:
Espalha-se em toda a aldeia
O alegre cheiro de forno.
Há canções claras e puras,
Nas sabes tintas de breu:
—Glória ao Senhor nas Alturas!…
Hosanas!… Jesus nasceu!…
Um mocho pia de leve
No velho beiral vizinho…
Não sei se é chuva ou se é neve
Que o vento lança ao caminho!…
Meia-noite!… Dons supremos!…
Calam-se os próprios lebréus.
Roga a avozinha: —“Louvemos!…
Pai nosso que estás nos Céus!…
Soluços da alma contente…
Doce visão do Natal!…
Deus vos salve eternamente,
Lembranças de Portugal!
Espírito Antônio Corrêa D´Oliveira, do livro Antologia Mediúnica do Natal, psicografado por Chico Xavier.
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