28 março 2023

O Anjo da saúde


Angustiado, o Homem enfermo invocou a Proteção do Cristo e clamou em lágrimas copiosas:
—Senhor, ampara-me o coração desalentado no círculo das provas! Esgotaram-se-me os recursos para a resistência…  Não posso mais! Minhas noites são prolongadas vigílias, repletas de dor, e meus dias constituem longas horas de aflição permanente! A dor lacera-me as carnes e desarticula-me os ossos…  Compadece-te, Senhor meu! Desce um raio de tua divina luz que me restaure a força física, e me reerga o coração humilhado! Desiludido de todos os processos de cura, mobilizados na Terra, volto-me para o Céu, esperando-te a inesgotável misericórdia! ajuda-me, Pastor do Bem! Vê os meus sofrimentos e auxilia-me!…  
De joelhos e braços abertos, o peregrino soluçava, contemplando o firmamento.
Ouviu Jesus a oração e enviou-lhe o Anjo da Saúde, que desceu, bondoso e prestativo, surgindo aos olhos deslumbrados do infeliz enfermo.
Em êxtase, o doente fitou o mensageiro e suplicou:
—Emissário do Médico Divino, lava-me as feridas dolorosas, levanta-me o espírito abatido!
Há muitos anos sou um miserável sofredor, embora a minha confiança no Pai de Infinita Bondade! De corpo chagado e apodrecido, sinto que a esperança e a crença desertaram de minh’alma! socorre-me, por piedade, caridoso emissário do Céu!
O gênio tutelar afagou-lhe a fronte, compassivo, e exclamou:
—Meu amigo, põe a consciência nos lábios em oração e responde-me! Tens vivido de acordo com a Vontade de Deus, fugindo aos caprichos do coração? Viveste, até agora, amando o Senhor Supremo, acima de todas as coisas, e querendo ao próximo como a ti mesmo?
Dedicaste teu corpo e tuas faculdades à execução das divinas leis?
Presa do antigo hábito de fugir à verdade, o Homem quis proferir qualquer frase tendente a desculpar-se; entretanto, a presença do emissário sublime empolgava-lhe o ser e não conseguia se furtar ao império absoluto da consciência. Dominado pela realidade, respondeu em soluços:
—Não!…  ainda não servi às leis do Senhor como deveria…  Contudo, Anjo Bom, compadece-te de mim, a enfermidade consome os meus dias, o sofrimento devora-me!
O enviado pousou a destra na fronte do mísero, como se intentasse lhe arrancar a verdade do fundo do coração, e interrogou:
—Estarás, porém, disposto a esquecer, de imediato, o pretérito criminoso? Desculparás, fraternalmente, sem qualquer sombra de hesitação, a todos aqueles que te desejam o mal? Auxiliarás o inimigo?
O enfermo dirigiu ao preposto celeste um olhar de terrível angústia, e porque nada respondesse, o mensageiro continuou interrogando:
—Perdoarás sempre, esquecendo ingratidões, injúrias e pedradas? Recomendarás os teus adversários à bênção do Todo Poderoso, reconhecendo que eles são mais infelizes que tu mesmo, pela ignorância que testemunham?
Exercerás a piedade, beneficiando as mãos que te ferem e olvidarás, sem esforço, a boca que calunia?
Compelido pelas forças insofreáveis da consciência, o enfermo respondeu, sem trair a verdade:
—Infelizmente, ainda não posso…  
—Não emitirás Pensamentos desarmônicos, ante a felicidade do próximo? – indagou o emissário, afável e benevolente – partilharás a alegria do vizinho e a prosperidade do amigo, como se te pertencessem também? Ajudarás ao irmão mais feliz, na consolidação da ventura que lhe coroa a existência?
O mendigo da saúde recordou suas lutas interiores, junto daqueles que lhe pareciam mais venturosos, e respondeu, sincero:
—Não posso ainda…  
—Terás bastante disposição – prosseguiu afetuosamente o interlocutor – para manter viva a própria esperança? compreendendo a paciência de Deus, que nos aguarda a iluminação, há milênios incontáveis, decidir-te-ás a esperar, sem revolta, o entendimento dos teus irmãos de luta, por alguns anos? Saberás calar a desesperação, a fim de auxiliar em nome do Pai Altíssimo, mobilizando as forcas que te foram confiadas?
O desventurado suspirou e disse com tristeza:
—Ainda não me é possível proceder assim…  
Após intervalo mais longo, o Anjo voltou a interrogar:
—Cultivaras o silêncio, quando a leviandade e a calúnia espalharem palavras loucas em torno de teu corarão? Defenderás a saúde, evitando as reações invisíveis de pessoas que poderias ofender com as falsas e delituosas apreciações verbais?
—Ainda não sigo semelhante caminho! – exclamou o infortunado.
—Poderás viver – continuava o mensageiro – no legítimo respeito à Natureza, conservando o teu vaso carnal de manifestações na sublime posição de equilíbrio, através da temperança, e cumprindo com fidelidade o programa de serviço, em beneficio de ti mesmo e dos semelhantes? Experimentas o prazer de ser útil, sinceramente despreocupado das atitudes alheias de gratidão ou recompensa?
—Ainda não! – murmurou o interpelado em tom angustioso.
O emissário envolveu o infeliz num olhar de compaixão infinita e acrescentou:
—Oh! Meu amigo, ainda é cedo para deprecares o socorro dos mensageiros da saúde! Se ainda não sabes viver, perdoar, esperar, compreender, ajudar e servir, de acordo com a Vontade do Altíssimo, ainda lutarás com a enfermidade, por muito tempo. Por enquanto, não peças vantagens que não saberias receber!
Roga ao Senhor te conceda a energia necessária para que te afeiçoes à lei do equilíbrio e às exigências da reflexão!
Em seguida, o emissário endereçou-lhe carinhoso gesto de adeus. O infeliz, entretanto, buscando retê-la, exclamou em soluços:
—Oh! enviado do Céu, confiarei em Jesus!
O Anjo contemplou-o, bondoso, e respondeu ternamente:
—Sim, eu sei. Isto, porém, não basta.
É necessário que Jesus também possa confiar em ti…  
E afastou-se, para dar conta de sua missão, nas esferas mais altas. 

Espírito Irmão X (Humberto de Campos), do livro Lázaro Redivivo, psicografado por Chico Xavier.

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