Carrasco
Verdugo invisível, onde se lhe evidencie a influência, aparecem a rebeldia e o azedume, preparando a perturbação e a discórdia.
Mostra-se na alma que lhe ouve as pérfidas sugestões, à maneira de fera oculta a atirar-se sobre a presa.
Assimilando-lhe a faixa de trevas, cai a mente em aflitiva cegueira, dentro da qual não mais enxerga senão a si mesma.
E assim dominada, a criatura, ao pé dos outros, é a personificação da exigência, desmandando-se, a cada instante, em reclamações descabidas, incapaz de anotar os sofrimentos alheios. Pisa nas dores do próximo com a dureza do bronze e recebe-lhe as petições com a agressividade do espinheiro, expelindo pragas e maldições. Onde surge, pede os primeiros lugares e, se lhos negam, à face das tarefas que a previdência organiza, não se peja de evocar direitos imaginários, condenando, sem análise, tudo quanto se lhe expõe ao discernimento. Desatendida nos caprichos particulares com que se aproxima dos setores de luta que desconhece, mastiga a maledicência ou gargalha o sarcasmo, lançando lodo e veneno sobre nomes e circunstâncias que demandam respeito. Se alguém formula ponderações, buscando-lhe o ânimo à sensatez, grita, desesperada, contra tudo o que não seja adoração a si mesma, na falsa estimativa dos minguados valores que carrega no fardo de ignorância e bazófia.
E, então, a pessoa, invigilante e infeliz, assim transformada em temível fantasma de incompreensão e de intransigência, enrodilha-se na própria sombra, como a tartaruga na carapaça e, em lastimável isolamento de espírito, não sabe entender ou perdoar para ser também perdoada e entendida, enquistando-se na inconformação, que se lhe amplia no pensamento e na atitude, na palavra e nos atos, tiranizando-lhe a vida, como a enfermidade letal que se agiganta no corpo pela multiplicação indiscriminada de perigosos bacilos.
Atingido esse estado d’alma, não adota outro rumo que não seja o da crueldade com que, muitas vezes, se arroja ao despenhadeiro da delinquência, associando-se a todos aqueles que se lhe afinam com as vibrações deprimentes, em largas simbioses de desumanidade e loucura, formando o pavoroso inferno do crime.
Irmãos, precatai-vos contra semelhante perseguidor, vestindo o coração na túnica da humildade que tudo compreende e a todos serve, sem cogitar de si mesma, porque esse estranho carrasco, que nos alenta o egoísmo, em toda parte chama-se orgulho.
Emmanuel, do livro Religião dos Espíritos, psicografado por Chico Xavier
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