18 janeiro 2020

O Cristão ativo


…O Messias fixou nele o olhar translúcido e, deixando perceber que não poderia ser mais explícito com o recurso das palavras, disse apenas:
–Eu to prometo…

A conversação que acabamos de narrar verificara-se nas cercanias de Jerusalém, numa das ausências eventuais do Mestre do círculo bem-amado de sua família espiritual em Cafarnaum.
No dia seguinte, Jesus e João demandaram Jericó, a fim de atender ao programa de viagem organizado pelo primeiro.
Na excursão a pé, ambos se entretinham em admirar as poucas belezas do caminho, escassamente favorecido pela Natureza. A paisagem era árida e as árvores existentes apresentavam as frondes recurvadas, entremostrando a pobreza da região, que não lhes incentivava o desenvolvimento.
Não longe de uma pequena herdade, o Mestre e o apóstolo encontraram um rude lavrador, cavando grande poço à beira do caminho. Bagas de suor lhe desciam da fronte, mas, seus braços fortes iam e vinham à terra, na ânsia de procurar o líquido precioso.
Ante aquele quadro, Jesus estacionou com o discípulo, a pretexto de breve descanso, e, revelando o interesse que aquele esforço lhe despertava, perguntou ao trabalhador:
–Amigo, que fazes?
–Busco a água que nos falta – redarguiu com um sorriso o interpelado.
–A chuva é assim tão escassa nestas paragens? – tornou Jesus, evidenciando afetuoso cuidado.
–Sim, nas proximidades de Jericó, ultimamente, a chuva se vem tornando uma verdadeira graça de Deus.
O homem do campo prosseguiu no seu trabalho exaustivo, mas, apontando para ele, o Messias disse a João, em tom amigo:
–Este quadro da Natureza é bastante singelo, porém, é na simplicidade que encontramos os símbolos mais puros. Observa, João, que este homem compreende que sem a chuva não haveria mananciais na Terra; mas, não para em seu esforço, procurando o reservatório que a Providência Divina armazenou no subsolo. A imagem é pálida, todavia, chega para compreenderes como Deus reside também em nós. Dentro do símbolo, temos de entender a chuva como o favor de sua misericórdia, sem o qual nada possuiríamos. Esta paisagem deserta de Jericó pode representar a alma humana, vazia de sentimentos santificadores.
Este trabalhador simboliza o cristão ativo, cavando junto dos caminhos áridos, muitas vezes com sacrifício, suor e lágrimas, para encontrar a luz divina em seu coração. E a água é o símbolo mais perfeito da essência de Deus, que tanto está nos céus como na Terra.
O discípulo guardou aquelas palavras, sabendo que realizara uma aquisição de claridades imorredouras. Contemplou o grande poço, onde a água clara começava a surgir, depois de imenso esforço do humilde trabalhador que a procurava desde muitos dias, e teve nítida compreensão do que constituía a necessária comunhão com Deus. Experimentando indefinível júbilo no coração, tomou das mãos do Messias e as osculou, com a alegria do seu espírito alvoroçado. Confortado, como alguém que vencera grande combate íntimo, João sentiu que finalmente compreendera.

Chico Xavier/Humberto de Campos, do livro Boa Nova

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