25 novembro 2019

A Família Zebedeu


Na manhã que se seguiu à primeira manifestação da sua palavra defronte do Tiberíades, o Mestre se aproximou de dois jovens que pescavam nas margens e os convocou para o seu apostolado.
Filhos de Zebedeu disse, bondoso, desejais participar das alegrias da Boa Nova?!
Tiago e João, que já conheciam as pregações do Batista e que o tinham ouvido na véspera, tomados de emoção se lançaram para ele, transbordantes de alegria:
Mestre! Mestre! Exclamavam felizes.
Como se fossem irmãos bem-amados que se encontrassem depois de longa ausência, tocados pela força do amor que se irradiava do Cristo, fonte inspiradora das mais profundas dedicações, falaram largamente da ventura de sua união perene, no futuro, das esperanças com que deveriam avançar para o porvir, proclamando as belezas do esforço pelo Evangelho do Reino. Os dois rapazes galileus eram de temperamento apaixonado. Profundamente generosos, tinham carinhosas e simples, ardentes e sinceras as almas. João tomou das mãos do Senhor e beijou-as afetuosamente, enquanto Jesus lhe acariciava os anéis macios dos cabelos. Tiago, como se quisesse hipotecar a sua solidariedade inteira, aproximou-se do Messias e lhe colocou a destra sobre os ombros, em amoroso transporte.
Os dois novos apóstolos, entretanto, eram ainda muito jovens e, em regressando a casa com o espírito arrebatado por imensa alegria, relataram a sua mãe o que se passara.
Salomé, a esposa de Zebedeu, apesar de bondosa e sensível, recebeu a notícia com certo cuidado. Também ela ouvira o profeta de Nazaré nas suas gloriosas afirmações da véspera. Pôs-se, então, a ponderar consigo mesma: não estaria próximo aquele reino prometido por Jesus? Quem sabe se o filho de Maria não falava na cidade em nome de algum príncipe? Ah! O Cristo deveria ser o intérprete de algum desconhecido ilustre que recrutava adeptos entre os homens trabalhadores e mais fortes. A quem seriam confiados os postos mais altos, dentro da nova fundação? Seus filhos queridos bem os mereciam. Precisava agir, enquanto era tempo. O povo, de há muito, falava em revolução contra os romanos e os comentadores mais indiscretos anteviam a queda próxima dos Antipas. O novo reinado estava próximo e, alucinada pelos sonhos maternais, Salomé procurou o Messias no círculo dos seus primeiros discípulos.
Senhor, disse atenciosa, logo após a instituição do teu reino, eu desejaria que os meus filhos se sentassem um à tua direita e outro à tua esquerda, como as duas figuras mais nobres do teu trono.
Jesus sorriu e obtemperou com gesto bondoso:
Antes de tudo, é preciso saber se eles quererão beber do meu cálice!…
A genitora dos dois jovens embaraçou-se. Além disso, o grupo que rodeava o Messias a observava com indiscrição e manifesta curiosidade. Reconhecendo que o instante não lhe permitia mais amplas explicações, retirou-se apressada, colocando o seu velho esposo ao corrente dos fatos.

Chico Xavier/Humberto de Campos, no livro Boa-nova

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