Perguntas sobre a natureza e a identidade dos Espíritos

1. Por qual sinais podemos reconhecer a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos?
 – Pela sua linguagem, como distingues um estouvado de um homem sensato. Já dissemos que os Espíritos superiores nunca se contradizem e só tratam de boas coisas. Só querem o bem. Essa é a preocupação.
 – Os Espíritos inferiores estão dominados pelas ideias materiais. Suas manifestações se ressentem da sua ignorância e da sua imperfeição. Só aos Espíritos superiores é dado conhecer todas as coisas e julgá-las sem paixão.
2. O conhecimento científico de um Espírito é sempre uma prova da sua elevação?
 – Não, porque se ainda estiver sob a influência da matéria pode ter os vossos vícios e preconceitos. Há pessoas que são no vosso mundo excessivamente invejosas e orgulhosas. Pensas que ao deixá-lo perdem esses defeitos? Resta-lhes, depois que partem daí, principalmente as que alimentaram fortes paixões, uma espécie de atmosfera que as envolve e conserva todas essas coisas más.
– Esses Espíritos semi-imperfeitos são mais temíveis que os Espíritos maus, porque, na sua maioria, juntam a astúcia e o orgulho à inteligência. Pelo seu pretenso saber eles se impõem às pessoas simples e ignorantes, que aceitam sem exame as suas teorias absurdas e mentirosas. Embora essas teorias não possam prevalecer contra a verdade, não deixam de produzir um mal momentâneo porque entravam a marcha do Espiritismo e porque os médiuns se enganam ingenuamente quanto ao mérito das comunicações que recebem. Este o ponto que requer grande estudo de parte dos espíritas esclarecidos e dos médiuns. Para distinguir o verdadeiro do falso é que devemos convergir toda a nossa atenção.
(10) Muitos entendem que não devemos importar-nos com as mistificações, pois a verdade acaba prevalecendo. Kardec toca o nó da questão ao advertir que estes embustes entravam a marcha do Espiritismo e prejudicam a atividade dos médiuns, perturbando-lhes o discernimento necessário ao cumprimento de suas missões. Grande número de criaturas sofrem a desorientação proveniente das confusões semeadas no campo doutrinário e muitas chegam mesmo a perder oportunidades de uma encarnação ardentemente solicitada na vida espiritual. O dever dos espíritas, portanto, é combater as mistificações e desmascarar os Espíritos embusteiros, assegurando o progresso normal da doutrina que eles se empenham em ridicularizar com suas teorias absurdas. Esse é o bom combate de que falava o apóstolo Paulo, em que os inimigos não são os Espíritos nem as pessoas por eles fascinadas, todos dignos do nosso amor, mas os erros semeados entre as criaturas ingênuas.  – (N. do T.)

3. Muitos Espíritos protetores se apresentam com nomes de santos ou de personagens conhecidos. O que devemos pensar disso?
 – Todos os nomes de santos e de personagens conhecidos não bastariam para designar o protetor de cada criatura. São poucos os Espíritos de nomes conhecidos na Terra. É por isso que quase sempre não dão os seus nomes. Mas na maioria das vezes quereis um nome. Então, para vos satisfazer eles usam o de um homem que conheceis e que respeitais.
4. Esse empréstimo de nome não pode ser considerado uma fraude?
 – Seria fraude se feito por um Espírito mau que desejasse enganar. Mas sendo para o bem, Deus permite que se faça entre os Espíritos da mesma ordem, pois entre eles existe solidariedade e similitude de pensamentos.
5. Assim, quando um Espírito protetor se apresenta como São Paulo, por exemplo, não é certo que seja o Espírito ou a alma do apóstolo desse nome?
 – De maneira alguma, pois encontram-se milhares de pessoas às quais disseram que têm São Paulo como anjo guardião, ou outro santo. Mas que importa, se o Espírito que vos protege é da mesma elevação do apóstolo Paulo? Já vos disse: precisais de um nome e eles se servem de um para que os chameis e os reconheçais. É como fazeis com os nomes de batismo para vos distinguir dos demais membros da família. Eles podem também tomar os nomes dos arcanjos Rafael, Miguel, etc., sem que isso traga consequências.
 – Aliás, quanto mais um Espírito é elevado, mais se multiplica o seu poder de irradiação. Sabei que um Espírito protetor de ordem superior pode tutelar centenas de encarnados. Entre vós, na Terra, tendes os notários que se encarregam dos negócios de cem ou duzentas famílias. Porque haveríamos de ser menos aptos, espiritualmente falando, na direção moral dos homens, do que aqueles na direção material de seus interesses?
6. Porque os Espíritos comunicantes tomam com tanta frequência nomes de santos?
 – Identificam-se com os hábitos daqueles a quem se dirigem. Tomam os nomes mais aptos a melhor impressionar o homem, de acordo com as crenças deste.
7. Certos Espíritos superiores que se costumam evocar atendem sempre em pessoa? Ou, como pensam alguns, enviam mandatários para transmitir o seu pensamento?
 – Porque não atenderiam em pessoa, se o podem? Mas se o Espírito não puder atender, em seu nome falará forçosamente um mandatário.
8. O mandatário é sempre suficientemente esclarecido para responder como o faria o próprio Espírito?
 – Os Espíritos superiores sabem a quem confiam o encargo de os substituir. Aliás, quanto mais elevados são os Espíritos, mais se harmonizam num pensamento comum, e tal maneira que para eles a personalidade é diferente, como deve ser também para vós. Pensais então que no mundo dos Espíritos superiores só existem aqueles que conhecestes na Terra como capazes de vos instruir? Sois de tal modo levados a vos tomar por tipos universais que acreditais nada haver além do vosso mundo. Assemelhai-vos de fato aos selvagens que nunca saíram de sua ilha e pensam que o mundo não vai além dela.
9. Compreendemos que seja assim quando se trata de ensinamento sério. Mas como os Espíritos elevados permitem a Espíritos de baixa classe usarem nomes respeitáveis para semear o erro através de máximas muitas vezes perversas?
 – Não é com a sua permissão que o fazem. Isso não acontece também entre vós? Os que assim enganam serão punidos, ficai certos disso, e a punição será proporcional à gravidade da impostura. Aliás, se não fosseis imperfeitos só teríeis Espíritos bons ao vosso redor. Se sois enganados, não o deveis senão a vós mesmos. Deus o permite para provar a vossa perseverança e o vosso discernimento, para vos ensinar a distinguir a verdade do erro. Se não o fazeis é porque não estais suficientemente elevados e necessitais ainda das lições da experiência.
10. Espíritos pouco adiantados, mas animados de boas intenções e do desejo de progredir não são às vezes incumbidos de substituir um Espírito superior para se exercitarem na prática do ensino?
– Jamais nos Centros importantes. Quero dizer nos Centros sérios e para um ensino de ordem geral. (11). Os que o fazem é por sua própria conta e, como dizem, para se exercitarem. É por isso que as suas comunicações, embora boas, trazem sempre a marca da sua inferioridade. Recebem essa incumbência apenas para as comunicações de segunda importância e para as que podemos chamar de pessoais.
(11) “Les grands centres”, como está no original, ou os Centros importantes, como diríamos em português, são as instituições responsáveis, pouco importando o seu tamanho ou número de adeptos. Para se compreender a razão dessa espécie de privilégio (ao menos aparente) confronte-se este item com os de n° 19 e 20. A justiça espírita é aplicada segundo os méritos reais de pessoas e instituições, visando sempre ao bem geral. – (N. do T.)

11. As comunicações espíritas ridículas são às vezes entremeadas de boas máximas. Como resolver essa anomalia, que parece indicar a presença simultânea de Espíritos bons e maus?
 – Os Espíritos maus ou levianos se metem também a sentenciar, mas sem perceberem bem o alcance ou a significação do que dizem. Todos os que o fazem entre vós são homens superiores? Não, os Espíritos bons e maus não se misturam. É pela constante uniformidade das boas comunicações que reconhecereis a presença dos Espíritos bons.
12. Os Espíritos que induzem ao erro estão sempre conscientes do que fazem?
 – Não. Há Espíritos bons, mas ignorantes; podem enganar-se de boa fé. Quando tomam consciência da sua falta de capacidade eles a reconhecem e só dizem o que sabem.
13. Ao dar uma falsa comunicação, o Espírito sempre o faz com má intenção?
 – Não. Se for um Espírito leviano apenas se diverte a mistificar, sem outra finalidade.
14. Desde que certos Espíritos podem enganar pela linguagem, podem tomar também uma falsa aparência para os médiuns videntes?
– Isso acontece, mas é mais difícil. Em todos os casos isso somente se dá com uma finalidade que os próprios Espíritos maus desconhecem, pois servem de instrumentos para uma lição. O médium vidente pode ver os Espíritos levianos e mentirosos como os outros médiuns podem ouvi-los ou escrever sob sua influência. Os Espíritos levianos podem aproveitar-se da faculdade do médium para o enganar com uma falsa aparência. Isso depende das qualidades do próprio Espírito do médium.
(12) Passa-se exatamente como entre os encarnados: o trapaceiro só consegue êxito com as pessoas que lhe dão ouvidos. Daí o ensino evangélico de vigiar e orar. Na mediunidade esse ensino se aplica como verdadeira lei. O médium que não vigiar a si mesmo e não souber manter-se em oração está sujeito a todos os enganos. Mas cada engano será para ele uma lição, como é para os homens enganados por outros. – (N. do T.)

15. É suficiente a boa intenção para não ser enganado, e nesse caso os homens realmente sérios, que não mesclam de curiosidade leviana os seus estudos, também estariam expostos à mistificação?
– Menos do que os outros, evidentemente. Mas o homem tem sempre algumas esquisitices que atraem os Espíritos zombeteiros. Julga-se forte e quase nunca o é. Deve desconfiar, por isso mesmo, da fraqueza proveniente do orgulho e dos preconceitos. Não se levam muito em conta essas duas causas de que os Espíritos se aproveitam, pois agradando-lhes as manias estão seguros de conseguir o que desejam.
(13) Todos nós temos as nossas manias e as nossas pretensões. Os Espíritos zombeteiros ou mistificadores, por simples diversão ou maldade se aproveitam delas, dizendo coisas que estão de acordo com essas fraquezas do nosso caráter. Com isso nos agradam e nos dominam. – (N. do T.)

16. Porque Deus permite que os Espíritos maus se comuniquem e digam coisas más?
 – Mesmo o que há de pior traz um ensinamento. Cabe a vós saber tirá-lo. É necessário que haja comunicações de toda espécie para vos ensinar a distinguir os Espíritos bons dos maus e para que vos sirvam de espelho.
17. Os Espíritos podem sugerir desconfianças injustas contra certas pessoas, por meio de comunicações escritas, e separar amigos?
 – Os Espíritos perversos e invejosos podem praticar os males que os homens praticam. Eis porque precisamos estar sempre em guarda. Os Espíritos superiores são sempre prudentes e reservados quando censuram: nada dizem de mal, advertem com jeito. Se quiserem que duas pessoas, no próprio interesse delas, deixem de ver-se, provocarão incidentes que as separem de maneira natural. Uma linguagem que semeia discórdia e desconfiança provém sempre de um Espírito mau, seja qual for o nome de que se sirva. Assim, recebei sempre com reservas o que um Espírito disser de mal contra outro, sobretudo quando um Espírito bom já vos disse o contrário, e desconfiai também de vós mesmos, das vossas próprias aversões. Das comunicações espíritas aceitai somente o que for bom, grande, belo, racional e o que a vossa consciência aprove.
18. Pela facilidade com que os Espíritos maus se infiltram nas comunicações, parece que nunca se pode estar certo da verdade?
 – Sim, podeis, desde que tendes a razão para os julgar. Ao ler uma carta sabeis reconhecer muito bem se foi um grosseirão ou um homem educado, um tolo ou um sábio que a escreveu. Se recebeis uma carta de um amigo distante, o que vos prova que é dele? A letra, direis. Mas não há farsantes que imitam todas as letras e tratantes que podem conhecer os vossos negócios? Não obstante, há indícios que não vos permitem enganar. O mesmo se dá com os Espíritos. Imaginai que é um amigo que vos escreve ou que se trata da obra de um escritor. E julgai da mesma maneira.
19. Os Espíritos superiores poderiam impedir os maus de tomarem nomes falsos?
 – Certamente que o podem. Mas, quanto piores são os Espíritos, mais teimosos são e frequentemente resistem às injunções. Convém saber que há pessoas pelas quais os Espíritos superiores se interessam mais do que por outras, e quando julgam necessário sabem preservá-las da mentira. Contra essas pessoas os mistificadores são impotentes.
20. Qual a razão dessa parcialidade?
 – Isso não é parcialidade, é justiça. Os Espíritos bons se interessam pelos que aproveitam os seus conselhos e se esforçam seriamente para melhorarem. São esses os seus preferidos e os ajudam, mas pouco se importam com aqueles que os fazem perder o seu tempo em belas palavras.
21. Porque Deus permite aos Espíritos o sacrilégio de usarem falsamente nomes veneráveis?
 – Poderíeis perguntar também porque Deus permite aos homens mentir e blasfemar. Os Espíritos, como os homens, têm o seu livre-arbítrio para o bem e para o mal, mas nem uns nem outros escaparão à justiça de Deus.
22. Há fórmulas eficazes para expulsar Espíritos mentirosos?
 – Fórmula é matéria. Vale mais um bom pensamento dirigido a Deus.
23. Certos Espíritos disseram possuir sinais gráficos inimitáveis, espécies de selos pelos quais se pode reconhecer e constatar a sua identidade. Isso é verdade?
 – Os Espíritos superiores só possuem como sinais de sua identidade a elevação de suas ideias e de sua linguagem. Qualquer Espírito pode imitar um sinal material. Quanto aos Espíritos inferiores, traem-se de tantas maneiras que só um cego se deixa enganar por eles.
24. Os Espíritos inferiores não podem imitar também o pensamento?
 – Imitam o pensamento como os cenários do teatro imitam a Natureza.
26. Há pessoas que se deixam seduzir por uma linguagem enfática, que se contentam mais com palavras do que com ideias, que chegam mesmo a tomar ideias falsas e vulgares por sublimes. Como essas pessoas, inaptas para julgar os homens, podem julgar os Espíritos?
– Quando são bastante modestas para reconhecer a sua insuficiência não se fiam em si mesmas. Quando, por orgulho, se julgam mais capazes do que são, pagam pela sua tola vaidade. Os Espíritos mistificadores sabem a quem se dirigem. Há pessoas simples e pouco instruídas que são mais difíceis de enganar do que as espertas e sabidas. Agradando o amor-próprio eles fazem dos homens o que querem.
(14) A vaidade anula a inteligência e a instrução. A humildade supre as deficiências dos simples. É através da vaidade que os mistificadores dominam os mais inteligentes e instruídos. Podemos ver isso ao nosso redor, e nos espantamos de que certas pessoas se deixem levar por mistificações evidentes. Os itens 25 e 26 esclarecem bem esse problema. Devemos meditar sobre esses itens. – (N. do T.)

27. Ao escrever, os Espíritos maus às vezes se traem por sinais materiais involuntários?
 – Os habilidosos, não. Os inábeis se atrapalham. Qualquer sinal inútil e pueril é indício certo de inferioridade. Os Espíritos elevados não fazem nada inútil.
28. Muitos médiuns reconhecem os Espíritos bons e maus pela sensação agradável ou penosa que experimentam à sua aproximação. Perguntamos se a impressão desagradável, a agitação convulsiva, ou mal-estar enfim, são sempre indícios da natureza má dos Espíritos manifestantes.
 – O médium experimenta as sensações do estado em que se encontra o Espírito manifestante. Quando o Espírito é feliz, seu estado é tranquilo, calmo; quando é infeliz, é agitado, febril e essa agitação se transmite naturalmente ao sistema nervoso do médium. Aliás, é assim com o homem na Terra: aquele que é bom, mostra-se calmo e tranquilo; aquele que é mau está sempre agitado.
OBSERVAÇÃO – Há médiuns de maior ou menor impressionabilidade e, por isso, não se pode considerar a agitação como regra absoluta. Nisto, como em tudo, devemos levar em conta as circunstâncias. A natureza penosa e desagradável da sensação é produzida pelo contraste, pois se o Espírito do médium simpatizar com o Espírito mau que se manifestar, será pouco ou nada afetado por este. Além disso, é necessário não confundir a rapidez da escrita, produzida pela extrema flexibilidade de certos médiuns, com a agitação convulsiva que os médiuns mais lentos podem sofrer ao contato dos Espíritos imperfeitos.

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