Conselho Materno

Dona Rita de Cássia criava em sua casa, como filho adotivo, um sobrinho de nome Moacir, menino de onze a doze anos de idade.

Moacir trazia larga ferida na perna, quando a dona da casa mandou chamar Dona Ana Batista, antiga benzedeira da localidade denominada Matuto, hoje Santo Antônio da Barra, nos arredores de Pedro Leopoldo.

Dona Ana examinou a úlcera e informou:

—Aqui só uma “simpatia” dará resultado.

—Qual? – perguntou a madrinha do Chico.

—Uma criança deve lamber a ferida por três sextas-feiras continuadas, pela manhã, em jejum.

E Dona Rita perguntou:

—Chico serve?

A benzedeira observou e declarou:

—Muito bem lembrado.

Isso ocorria numa quinta-feira. À tarde, quando o menino foi à prece, sob as árvores, encontrou Dona Maria João de Deus, em espírito, e contou-lhe, chorando, que no dia seguinte ele deveria tomar parte na “simpatia”.

—Você deve obedecer, meu filho.

—A senhora acha que eu devo lamber a ferida do Moacir?

—Mais vale lamber feridas que fazer aborrecimentos nos outros – falou o espírito maternal, – você é uma criança e não deve contrariar sua madrinha.

—E a senhora crê que isso poderá curar o doente?

—Não. Isso não é remédio? Mas dará bom resultado para você mesmo, porque sua obediência dará tranquilidade à sua madrinha.

E, vendo que o menino hesitava, continuou:

— Seja humilde, meu filho. Se você ajudar a paz de que precisamos, você lamberá a ferida e nós faremos o remédio para curá-la.

No outro dia, Chico obedeceu à ordem.

Na sexta-feira imediata repetiu a estranha operação e a úlcera desapareceu.

Quando lambeu a ferida pela terceira vez, viu o Espírito de sua mãe, sorridente, ao seu lado.

Extático, viu-a abraçar Dona Rita. E Dona Rita, transformada, acariciou-o, pela primeira vez, e disse-lhe, bondosa:

— Muito bem, Chico. Você obedeceu direitinho. Louvado seja Deus!

E depois de dois anos de flagelação, o Chico teve a felicidade de passar uma semana inteira sem garfadas e sem vergões.

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