Caracteres da Lei Natural

614. O que se deve entender por lei natural?
– A lei natural é a lei de Deus; é a única necessária à felicidade do homem; ela lhe indica o que ele deve fazer ou não fazer, e ele só se torna infeliz porque dela se afasta.
615. A lei de Deus é eterna?
– É eterna e imutável como o próprio Deus.

Por este princípio: “a lei natural é a lei de Deus, eterna e imutável como Ele mesmo”, certos teólogos católicos e protestantes acusam o Espiritismo de doutrina panteísta. Fizeram o mesmo com Espinosa, para quem Deus, a substância única, é a própria Natureza, mas não no seu aspecto material, e sim nas suas leis. Espinosa respondeu: “Afirmo-o com Paulo, e talvez com todos os filósofos em Deus; ouso mesmo acrescentar que esse foi o pensamento de todos os antigos hebreus”. (Carta LXXIII, explicando a proposição XV da “ética”: “Tudo o que existe, existe em Deus, e nada pode existir nem ser concebido sem Deus”). Embora exista funda divergência entre a concepção espinosiana e a espírita de Deus, ambas concordam ao negar o antropomorfismo católico e protestante, ao reafirmar o princípio Paulino citado e ao estabelecer identidade de origem e natureza divina para todas as leis do Universo. Por outro lado, assim como Espinosa não confundia a natureza material (natura naturata) com Deus, mas apenas a natureza inteligente (natura naturans), assim também o Espiritismo não faz semelhante confusão, estabelecendo ainda que as leis de Deus são uma coisa e Deus mesmo é outra. Veja-se o capítulo primeiro do Livro Primeiro, sobre Deus. Não há possibilidade de confusão entre Espiritismo e Panteísmo, a menos que se admita como panteísta a doutrina da imanência de Deus, por força mesmo de sua transcendência; e nesse caso, católicos e protestantes também seriam panteístas. – N. do T.

616. Deus teria prescrito aos homens, numa época, aquilo que lhes proibiria em outra?
– Deus não se engana; os homens é que são obrigados a modificar as suas leis, que são imperfeitas, mas as leis de Deus são perfeitas. A harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade.
617. O que as leis divinas abrangem? Referem-se a mais do que à conduta moral?
– Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois Deus é o autor de todas as coisas. O sábio estuda as leis da matéria, o homem de bem, as da alma, e as segue.
617-a. É dado ao homem aprofundar umas e outras?
– Sim, mas uma só existência não lhe é suficiente para isso.

Que são, de fato, alguns anos para se adquirir tudo o que constitui o ser perfeito, embora não consideremos mais do que a distância que separa o selvagem do homem civilizado? A mais longa existência possível é insuficiente e com mais forte razão quando ela é abreviada, como acontece com um grande número.
Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: são as leis físicas; seu estudo pertence ao domínio da Ciência. As outras concernem especialmente ao homem e às suas relações com Deus e com os seus semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo e as da vida da alma: são as leis morais
.

618. As leis divinas são as mesmas para todos os mundos?
– A razão nos diz que elas devem ser apropriadas à natureza de cada mundo e proporcionais ao grau de adiantamento dos seres que os habitam.

Índice
Início

0 Comments:

Postar um comentário