25 abril 2024

Indicação de Pedro


“Aparte-se do mal, e faça o bem; busque a paz, e siga-a.” - Pedro. (I Pedro, 3:11.)

A indicação do grande apóstolo, para que tenhamos dias felizes, parece extremamente simples pelo reduzido número de palavras, mas revela um campo imenso de obrigações.

Não é fácil se apartar do mal, consubstanciado nos desvios inúmeros de nossa alma através de consecutivas reencarnações, e é muito difícil praticar o bem, dentro das nocivas paixões pessoais que nos empolgam a personalidade, cabendo-nos ainda reconhecer que, se nos conservarmos envolvidos na túnica pesada de nossos velhos caprichos, é impossível buscar a paz e segui-la.

Cegaram-nos males numerosos, aos quais nos inclinamos nas sendas evolutivas, e acostumados ao exclusivismo e ao atrito inútil, no desperdício de energias sagradas, ignoramos como procurar a tranquilidade consoladora. Esta é a situação real da maioria dos encarnados e de grande parte dos desencarnados que se acomodam aos círculos do homem, porque a morte física não soluciona problemas que condizem com o foro íntimo de cada um.

A palavra de Pedro, desse modo, vale por desafio generoso.

Nosso esforço deve convergir para a grande realização.

Dilacere-se-nos o ideal ou fira-se-nos a alma, apartemo-nos do mal e pratiquemos o bem possível, identifiquemos a verdadeira paz e sigamo-la. E tão logo alcancemos as primeiras expressões do sublime serviço, referente à própria edificação, lembremo-nos de que não basta evitar o mal e sim nos afastarmos dele, semeando sempre o bem, e que não vale tão-somente desejar a paz, mas buscá-la e segui-la com toda a persistência de nossa fé.

Espírito Emmanuel, do livro Vinha de Luz, psicografado por Chico Xavier.

24 abril 2024

O Livro dos Espíritos


Contém Os Princípios da Doutrina Espírita Sobre a natureza dos seres do mundo incorpóreo, suas manifestações e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade.

ESCRITO DE ACORDO COM O DITADO E PUBLICADO POR ORDEM DOS ESPÍRITOS SUPERIORES. Por ALLAN KARDEC.
 
Esta obra, como o indica seu título, não é uma doutrina pessoal: é o resultado do ensino direto dos próprios Espíritos sobre os mistérios do mundo onde estaremos um dia, e sobre todas as questões que interessam à Humanidade; eles nos dão, de algum modo, o código da vida, ao nos traçarem a rota da felicidade futura.

Não sendo este livro fruto de nossas ideias, visto que, sobre muitos pontos importantes tínhamos uma maneira de ver bem diversa, nossa modéstia nada sofreria com os nossos elogios; preferimos, no entanto, deixar falar os que estão inteiramente desinteressados por esta questão.

O Courrier de Paris, de 11 de julho de 1857, publicou sobre este livro o seguinte artigo:

A Doutrina Espírita

O Editor Dentu acaba de publicar uma obra deveras notável; diríamos mesmo bastante curiosa, mas há coisas que repelem toda qualificação banal.

O Livro dos Espíritos, do Sr. Allan Kardec, é uma página nova do grande livro do infinito, e estamos persuadidos de que um marcador assinalará essa página. Ficaríamos desolados se pensassem que acabamos de fazer aqui um anúncio bibliográfico; se pudéssemos supor que assim fora, quebraríamos nossa pena imediatamente. Não conhecemos absolutamente o autor, mas confessamos abertamente que ficaríamos felizes em conhecê-lo.

Aquele que escreveu a introdução que inicia O Livro dos Espíritos deve ter a alma aberta a todos os sentimentos nobres. Aliás, para que não se possa suspeitar de nossa boa-fé e nos acusar de tomar partido, diremos com toda sinceridade que jamais fizemos um estudo aprofundado das questões sobrenaturais.

Apenas, se os fatos que se produziram nos causaram admiração, pelo menos jamais nos levaram a dar de ombros. Somos um pouco dessas pessoas que se chamam de sonhadores, porque não pensamos absolutamente como todo o mundo. A vinte léguas de Paris, à noite sob as grandes árvores, quando não tínhamos em torno de nós senão choupanas esparsas, pensávamos naturalmente em qualquer coisa, menos na Bolsa, no macadame dos bulevares ou nas corridas de Longchamp. Diversas vezes nos interrogamos, e isto muito tempo antes de ter ouvido falar em médiuns, o que haveria de passar no que se convencionou chamar o Alto. Outrora chegamos mesmo a esboçar uma teoria sobre os mundos invisíveis, guardando-a cuidadosamente para nós, e ficamos muito felizes de reencontrá-la quase por inteiro no livro do Sr. Allan Kardec.

A todos os deserdados da Terra, a todos os que caminham e caem, regando com suas lágrimas o pó da estrada, diremos: Lede O Livro dos Espíritos; isso vos tornará mais fortes. Também aos felizes, aos que pelos caminhos só encontram os aplausos da multidão ou os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o; ele vos tornará melhores.

O corpo da obra, diz o Sr. Allan Kardec, deve ser reivindicado inteiramente pelos Espíritos que o ditaram. Está admiravelmente classificado por perguntas e por respostas. Algumas vezes, estas últimas são sublimes, e isto não nos surpreende; mas, não foi preciso um grande mérito a quem as soube provocar?

Desafiamos a rir os mais incrédulos quando lerem este livro, no silêncio e na solidão. Todos honrarão o homem que lhe escreveu o prefácio.

A doutrina se resume em duas palavras: Não façais aos outros o que não quereríeis que vos fizessem. Lamentamos que o Sr. Allan Kardec não tenha acrescentado: e fazei aos outros o que gostaríeis que vos fosse feito. O livro, aliás, o diz claramente e a doutrina, sem isto, não estaria completa. Não basta não fazer o mal; é preciso também fazer o bem. Se apenas sois um homem de bem, não tereis cumprido senão a metade do vosso dever. Sois um átomo imperceptível desta grande máquina que se chama mundo, onde nada deve ser inútil. Sobretudo, não nos digais que se pode ser útil sem fazer o bem; ver-nos-íamos forçados de vos replicar por um volume.

Lendo as admiráveis respostas dos Espíritos na obra do Sr. Kardec, dissemos a nós mesmos que haveria um belo livro a escrever. Bem depressa reconhecemos que nos havíamos enganado: o livro já está escrito. Apenas o estragaríamos se tentássemos completá-lo.

Sois homem de estudo e possuís a boa-fé, que não pede senão para se instruir? Lede o Livro Primeiro sobre a Doutrina Espírita.

Estais colocado na classe dos que só se ocupam consigo mesmos e que, como se diz, fazem os seus pequenos negócios muito tranquilamente, nada vendo além dos próprios interesses? Lede as Leis Morais.

A desgraça vos persegue com furor, e a dúvida vos envolve, por vezes, com o seu abraço gelado? Estudai o Livro Terceiro: Esperanças e Consolações

Todos vós que abrigais nobres pensamentos no coração e que acreditais no bem, lede o livro do começo ao fim.

Se alguém nele encontrasse matéria para zombaria, nós o lamentaríamos sinceramente.

G. du Chalard.

CONTINUAÇÃO

23 abril 2024

Mehemet-Ali, antigo paxá do Egito


16 de março de 1858.

1-O que vos motivou a atender ao nosso apelo?
“Para vos instruir.”

2-Estais contrariado por vir até nós e responder às perguntas que vos desejamos fazer?
“Não; as que tiverem, por fim, vossa instrução, eu o consinto.”

3-Que prova podemos ter de vossa identidade e como poderemos saber se não é um outro Espírito que toma vosso nome?
“Para que serviria isso?”

4-Sabemos, por experiência, que os Espíritos inferiores muitas vezes se utilizam de nomes supostos; é por isso que vos fizemos essa pergunta.
“Eles utilizam também as provas; mas o Espírito que toma uma máscara também se revela por suas próprias palavras.”

5-Sob que forma e em que lugar estais entre nós?
“Sob a que leva o nome de Mehemet-Ali; perto de Ermance.”

6. Gostaríeis que vos déssemos um lugar especial?
“A cadeira vazia.” (Perto dali havia uma cadeira vazia, à qual não se tinha prestado atenção).

7-Tendes uma lembrança precisa de vossa última existência corporal?
“Não a tenho ainda precisa; a morte me deixou sua perturbação.”

8-Sois feliz?
“Não; infeliz.”

9-Estais errante ou reencarnado?
“Errante.”

10-Recordais o que fostes antes de vossa última existência?
“Eu era pobre na Terra; invejei as grandezas terrestres: subi para sofrer.”

11-Se pudésseis renascer na Terra, que condição escolheríeis de preferência?
“Obscura; os deveres são muito grandes.”

12-Que pensais agora da posição que ocupastes por último na Terra?
“Vaidade do nada! Quis conduzir os homens; sabia conduzir a mim mesmo?”

13-Dizia-se que já há algum tempo a vossa razão estava alterada; isso é verdade?
“Não.”

14-A opinião pública aprecia o que fizestes pela civilização egípcia, e vos coloca entre os maiores príncipes. Experimentais satisfação com isso?
“Que me importa! A opinião dos homens é o vento do deserto que levanta a poeira.”

15-Vedes, com prazer, vossos descendentes trilhando o mesmo caminho? Interessai-vos por seus esforços?
“Sim, já que têm por objetivo o bem comum.”

16. Entretanto, sois acusado de atos de grande crueldade: envergonhai-vos deles, agora?
“Eu os expio.”

17-Vedes os que mandastes massacrar?
“Sim.”

18. Que sentimento experimentam por vós?
“O do ódio e o da piedade.”

19-Depois que deixastes esta vida revistes o sultão Mahamud?
“Sim: em vão fugimos um do outro.”

20-Que sentimento vós experimentais agora um pelo outro?
“O da aversão.”

21-Qual a vossa opinião atual sobre as penas e recompensas que nos esperam após a morte?
“A expiação é justa.”

22-Qual o maior obstáculo que tivestes de vencer para a realização de vossos objetivos progressistas?
“Eu reinava sobre escravos.”

23-Pensais que se o povo que governastes fosse cristão, teria sido menos rebelde à civilização?
“Sim; a religião cristã eleva a alma; a maometana não fala senão à matéria.”

24-Quando vivo, vossa fé na religião muçulmana era absoluta?
“Não; eu acreditava num Deus maior.”

25-Que pensais disso agora?
“Ela não faz homens.”

26-Na vossa opinião, Maomé tinha uma missão divina?
“Sim, mas que ele corrompeu.”

27-Em que a corrompeu?
“Ele quis reinar.”

28-O que pensais de Jesus?
“Esse vinha de Deus.”

29-Na vossa opinião, qual dos dois, Jesus ou Maomé, fez mais pela felicidade da
Humanidade?
“Por que o perguntais? Que povo Maomé regenerou? A religião cristã saiu pura da mão de Deus; a maometana é obra do homem.”

30-Acreditais que uma dessas duas religiões esteja destinada a desaparecer da face da Terra?
“O homem progride sempre; a melhor permanecerá.”

31. Que pensais da poligamia consagrada pela religião muçulmana?
"É um dos laços que retêm na barbárie os povos que a professam."

32-Acreditais que a submissão da mulher esteja conforme os desígnios de Deus?
“Não; a mulher é igual ao homem, pois que o Espírito não tem sexo.”

33-Diz-se que o povo árabe não pode ser conduzido senão pelo rigor; não pensais que os maus-tratos, em vez de o submeterem, mais o embrutecem?
“Sim, é o destino do homem; ele se avilta quando é escravo.”

34-Poderíeis reportar-vos aos tempos da Antiguidade, quando o Egito era florescente, e dizer-nos quais foram as causas de sua decadência moral?
“A corrupção dos costumes.”

35. Parece que fazíeis pouco-caso dos monumentos históricos que cobrem o solo do
Egito. Não podemos compreender essa indiferença da parte de um príncipe amigo do progresso.
“Que importa o passado! O presente não o substituiria.”

36-Poderíeis explicar-vos mais claramente?
“Sim. Não era necessário lembrar ao egípcio envilecido um passado muito brilhante: não o teria compreendido. Menosprezei aquilo que me pareceu inútil; não poderia me ter enganado?”

37-Os sacerdotes do antigo Egito tinham conhecimento da Doutrina Espírita?
“Era a deles.”

38-Recebiam manifestações?
“Sim.”

39-As manifestações obtidas pelos sacerdotes egípcios provinham da mesma fonte que as recebidas por Moisés?
“Sim, ele foi iniciado por elas.”

40-Por que as manifestações de Moisés eram mais poderosas que as recebidas pelos sacerdotes egípcios?
“Moisés queria revelar; os sacerdotes egípcios, apenas ocultar.”

41-Acreditais que a doutrina dos sacerdotes egípcios tivesse alguma relação com a dos indianos?
“Sim; todas as religiões primitivas estão ligadas entre si por laços quase imperceptíveis; procedem de uma mesma fonte.”

42-Dentre essas duas religiões, a dos egípcios e a dos indianos, qual delas é a mãe da outra?
“São irmãs.”

43-Como se explica que em vida éreis tão pouco esclarecido sobre essas questões, e agora podeis respondê-las com tanta profundidade?
“Outras existências me ensinaram isso.”

44-No estado errante em que estais agora, tendes, pois, pleno conhecimento de vossas existências anteriores?
“Sim, exceto da última.”

45-Haveis, pois, vivido no tempo dos Faraós?
“Sim; três vezes vivi no solo egípcio: como sacerdote, como mendigo e como príncipe.”

46-Sob que reinado fostes sacerdote?
“Já faz tanto tempo! O príncipe era vosso Sesóstris.”

47. Conforme isso, parece que não progredistes, uma vez que expiais, agora, os erros da vossa última existência.
“Sim, progredi lentamente; acaso era eu perfeito por ter sido sacerdote?”

48-Porque fostes sacerdote àquela época é que pudestes falar com conhecimento de causa da antiga religião dos egípcios?
“Sim; mas não sou bastante perfeito para tudo saber; outros leem no passado como num livro aberto.”

49-Poderíeis dar-nos uma explicação sobre o motivo da construção das pirâmides?
"É muito tarde." (Nota: Eram quase onze horas da noite.)

50-Só vos faremos mais uma pergunta; dignai-vos de respondê-la.
“Não, é muito tarde; essa pergunta suscitaria outras.”

51-Poderíeis respondê-la em outra ocasião?
“Não me comprometo com isso.”

52-Mesmo assim, agradecemos a benevolência com que respondestes às nossas perguntas.
“Bem! Eu voltarei.”

Revista Espírita, Abril de 1858.

22 abril 2024

Na edificação



Os ociosos de todos os tempos sempre encontram infinitos recursos, para escapar ao círculo das obrigações que lhes competem. Comumente, estão queixosos e desalentados. Para eles, os melhores cargos estão providos, no templo de serviço em que trabalham; as maiores realizações já foram levadas a efeito; as estações do ano trazem variações decisivas que os compelem à permanência no lar; as relações sociais são algemas que os agrilhoam às longas conversações, os menores sintomas de enfermidade constituem ensejo a dilatadas teorias sobre diagnoses diversas. Estão rodeados de obstáculos e não realizam coisa alguma. Gastam fortunas para que ninguém os aborreça e se alguém lhes pede contas dessa ou daquela edificação, explicam que não tiveram sorte, essa sorte por eles transformada num gênio cego que distribui os favores divinos, a torto e a direito.

Assim acontece, igualmente, no campo das realizações de ordem espiritual. É incontável o número de pessoas que se aproximam das fontes espiritistas, afirmando-se desejosas de iluminação. Querem as bênçãos da esfera superior, desejam aquisições mediúnicas, pretendem participar dos serviços de auxílio. Entretanto, em todos os cometimentos do progresso legítimo, o problema da construção não se resume à palavra. É necessário dispor de material efetivo na concretização dos propósitos elevados. A casa reclama pedra e cal. A ferrovia pede trilhos adequados. A usina solicita aparelhagem. Se, na vida física, há necessidade do aproveitamento de recursos vivos e substanciais, como dispensar a boa vontade e os valores do homem, nas edificações do espírito?

Inúmeros corações dirigem-se a nós, suplicando auxílio, mas, como ministrar-lhes o socorro fraterno? Esperam que as almas desencarnadas lhes tomem a iniciativa, subtraindo-os a toda espécie de responsabilidades e preocupações.

Que movimento doutrinário, porém, seria esse em que os amigos experientes, a pretexto de proteção e socorro, instituiriam o regime da irresponsabilidade e da preguiça sistemática? Estariam os mortos tão desocupados, não recebendo da vida outra obrigação que essa de converter a grande universidade da existência humana em simples jardim da infância?

Bondosos amigos nossos comparecem às reuniões do Espiritismo e aguardam fenômenos estupefacientes. Intentam consolidar a fé e se dizem necessitados de paz íntima; todavia, esperam as manifestações maravilhosas dos desencarnados, como se todas as suas construções interiores dependessem disso. Às vezes, recebem o que pedem, mas ficam na situação do espectador que se espantou no circo, vendo as acrobacias do atleta, dançando numa corda frágil, a quinze metros de altura, ou contemplando, boquiaberto, o mágico que engole fogo.

Findo o espetáculo, volta para casa, a fim de atender às obrigações pertinentes à família e à rotina de luta redentora. Ocorre o mesmo, nas observações espirituais. Terminada a injeção de emotividade, o estudante, o crente e o investigador regressam ao campo habitual, onde os deveres de cada dia lhes aguardam o testemunho de amor e compreensão.

Daí essa necessidade de renovação do pensamento que os desencarnados esclarecidos apregoam.

Muitos companheiros se aproximam de nosso plano e pedem qualidades de cooperação, esquecendo-se, porém, de que eles são portadores delas. Apenas necessitam dilatá-las, com educação e proveito. Esse desenvolvimento, contudo, não pode ser uma realização do exterior para o interior. Não são os Espíritos que, desenvolvem os médiuns e sim estes que apuram as faculdades receptivas, alargando as suas possibilidades de colaboração e valorizando-as pelo estudo constante e pela aplicação própria às obras da verdade e do bem.

Que dizer de uma pessoa que aspira ao diploma de médico, detestando os doentes? Como apreciar o falador pedante que deseja cooperar nos serviços da sabedoria, mantendo-se nos círculos escuros da ignorância? Outros se propõem a receber a luz brilhante do cume, entretanto, sentem receio do caminho. Temem as pedras, os espinhos e as serpentes prováveis, talvez ocultas nas várias regiões que separam o vale da montanha. Obrigá-los a ajudar o enfermo, a soletrar o alfabeto e a fugir das tentações, não é atitude compatível com a lei de vida e liberdade que nos rege.

O próprio Jesus, segundo a venerável lição do Evangelista, permanece à porta e bate. Se alguém abrir, Ele entrará com as bênçãos divinas. Ele, o Mestre, traz a sabedoria, o amor, a luz e a revelação, mas não tem a chave, que pertence ao aprendiz, filho de Deus e herdeiro da vida eterna, como Ele próprio. Poderia, efetivamente, violentar a habitação e destruir o impedimento. Foi o Cristo, Senhor e Organizador do Planeta, quem forneceu ao usufrutuário do mundo a matéria prima para a edificação temporária em que se mantém, mas, Administrador Consciencioso e Justo, sabe que, acima de tudo, permanece a autoridade do Pai, e espera, nos casos de rebeldia e endurecimento, que o Doador Universal se manifeste.

E, por vezes, a ordem suprema é de bombardeio demolidor. Aí, então, não há necessidade de chave para a abertura. Os impactos diretos do sofrimento modificam a habitação, apenas com a circunstância desagradável de que o dono por muito tempo se aprisiona na perturbação e na dor, antes de retomar a oportunidade de nova construção.
 
Espírito Humberto de Campos, do livro Lázaro Redivivo, psicografado por Chico Xavier.

21 abril 2024

Espíritos errantes


Quanto às suas qualidades íntimas, os Espíritos pertencem a diferentes ordens, que percorrem sucessivamente à medida que se depuram. Como estado, podem estar encarnados, isto é, unidos a um corpo num mundo qualquer; ou errantes, ou seja, despojados do corpo material e aguardando nova encarnação para se melhorarem.

Os Espíritos errantes não formam uma categoria especial; é um dos estados em que podem se encontrar. O estado errante ou de erraticidade não constitui inferioridade para os Espíritos, pois que nele os podemos encontrar de todos os graus. Todo Espírito que não está encarnado é, por isso mesmo, errante, à exceção dos Espíritos puros que, não tendo mais encarnação a sofrer, estão no seu estado definitivo.

Como a encarnação é um estado transitório, a erraticidade é, em verdade, o estado normal dos Espíritos e esse estado não é necessariamente uma expiação para eles. São felizes ou desventurados conforme seu grau de elevação e segundo o bem ou mal que hajam praticado.

Allan Kardec.
Revista Espírita, Fevereiro de 1858.