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Ante Jesus

Eis que passa no tempo a imensa caravana, A multidão revel que humilhada se agita, Reis, tiranos e heróis, rondando a turba aflita, E fugindo à verdade augusta e soberana.  Sobre carros triunfais, a Treva se engalana…  E a mendaz ilusão freme, goza e palpita, Para rojar-se, após a miséria infinita, Na cinza a que se acolhe a majestade humana. Mas Tu, Mestre da Paz, que a bondade ilumina, Guardas, imorredoura, a grandeza divina, Sem que o lodo abismal Te ofenda ou desconforte. Tudo passa, descendo à sombra do caminho, Mas no sólio da cruz inda imperas sozinho, Na vitória do amor que fulge além da morte. Espírito Amaral Ornellas, do livro Antologia Mediúnica do Natal, psicografado por Chico Xavier.  

O peru pregador

Um belo peru, após conviver largo tempo na intimidade duma família que dispunha de vastos conhecimentos evangélicos, aprendeu a transmitir os ensinamentos de Jesus, esperando-lhe também as divinas promessas. Tão versado ficou nas letras sagradas que passou a propagá-las entre as outras aves. De quando em quando, era visto a falar em sua estranha linguagem “glá-glé-gli-gló-glu”. Não era, naturalmente, compreendido pelos homens. Mas os outros perus, as galinhas, os gansos e os marrecos, bem como os patos, entendiam-no perfeitamente. Começava o comentário das lições do Evangelho e o terreiro enchia-se logo. Até os pintainhos se aquietavam sob as asas maternas, a fim de ouvi-lo. O peru, muito confiante, assegurava que Jesus-Cristo era o Salvador do Mundo, que viera alumiar o caminho de todos e que, por base de sua doutrina, colocara o amor das criaturas umas para com as outras, garantindo a fórmula de verdadeira felicidade na Terra. Dizia que todos os seres, para viverem tranquilos e co...

Conto de Natal

A noite é quase gelada.  Contudo, Mariazinha É a menina de outras noites Que treme, tosse e caminha…  Guizos longe, guizos perto…  É Natal de paz e amor. Há muitas vozes cantando: — “Louvado seja o Senhor”! A rua parece nova Qual jardim que floresceu. Cada vitrine enfeitada Repete: “Jesus nasceu”! Descalça, vestido roto, Mariazinha lá vai…  Sozinha, sem mãe que a beije, Menina triste, sem pai. Aqui e ali, pede um pão…  Está faminta e doente. — “Vadia, sai depressa”! É o grito de muita gente. —”Menina ladra”! – outros dizem: —”Fuja daqui, pata feia! Toda criança perdida Deve dormir na cadeia”! Mariazinha tem fome E chora, sentido em torno O vento que traz o aroma Do pão aquecido ao forno. Abatida, fatigada, Depois de percurso enorme, Estira-se na calçada…  Tenta o sono, mas não dorme. Nisso, um moço calmo e belo Surge e fala, doce e brando: — Mariazinha, você Está dormindo ou pensando? A pequenina responde, Erguendo os bracinhos nus: — Hoje é noite de Nat...

Página do Natal

“Luz para alumiar as nações”. – Lucas, 2:32. Há claridade nos incêndios destruidores que consomem vidas e bens. Resplendor sinistro transparece nos bombardeiros que trazem a morte. Reflexos radiosos surgem do lança-chamas. Relâmpagos estranhos assinalam a movimentação das armas de fogo. No Evangelho, porém, é diferente…  Comentando o Natal, assevera Lucas que o Cristo é a luz para alumiar as nações. Não chegou impondo normas ou pensamento religioso. Não interpelou governantes e governados sobre processos políticos. Não disputou com os filósofos quanto às origens dos homens. Não concorreu com os cientistas na demonstração de aspectos parciais e transitórios da vida. Fez luz espírito eterno…  Embora tivesse o ministério endereçado aos povos do mundo, não marcou a sua presença com expressões coletivas de poder, quais exércitos e sacerdócios, armamentos e tribunais. Trouxe claridade para todos, projetando-a de si mesmo. Revelou a grandeza do serviço à coletividade, por interméd...

Rimas do Natal

Natal! – enquanto enfarpelas Teu salão aurifulgente, Desfilam, junto às janelas, As dores de muita gente. Natal!… Um pobre foi visto, Passando sobre pedradas. Soube, depois, que era o Cristo Batendo a portas fechadas. Natal! Quem foge ao preceito De repartir o seu pão Carrega um calhau no peito, Em forma de coração. O Natal em toda idade É sempre nova alegria, Mas nos dons da caridade, O Natal é todo dia. Natal!… Festeja esquecendo Quaisquer preconceitos vãos… Natal é Jesus dizendo Que todos somos irmãos. Espírito Leôncio Correia, do livro Antologia Mediúnica do Natal, psicografado por Chico Xavier.  

Evangelho

Baseando no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo a predicação do apostolado que lhes compete, os Espíritos Superiores não se apegam a qualquer nuvem de mistério para sustentar o alimento à fé religiosa, em cuja renascença colaboram, na qualidade de homens redivivos. É que a vida extrafísica promove, nos que pensam, mais altas ilações com respeito à realidade. Se há leis que presidem ao desenvolvimento do corpo, há leis que regem o crescimento da alma. Jesus no estábulo não é um fenômeno isolado no espaço e no tempo: é acontecimento vivo para o espírito humano. Cristo homem veio plasmar o Homem Cristo. Há quem enxergue no Cristianismo a simples apologia do sofrimento. Acusam-no pensadores e filósofos vários, tachando-o em oposição à beleza e à alegria. Para eles, Jerusalém teria asfixiado a felicidade e o encanto da vida, a fluir vitoriosa e serena nos ajuntamentos da Grécia e de Roma. Antes do Mestre, a única beleza espiritual, geralmente conhecida, era aquela das virtudes filosóf...

Na noite de Natal

Noite de Paz e amor! Repicam sinos, Doces, harmoniosos, cristalinos, Cantando a excelsitude do Natal!…  A estrela de Belém volta, de novo, A brilhar, ante os júbilos do povo, Sob a crença imortal. De cada lar ditoso se irradia A glória da amizade e da harmonia, Em festiva oração; Une-se o noivo à noiva bem-amada, Beija o filho a mãezinha idolatrada, O irmão abraça o irmão. Dentro da noite, há corações ao lume E há sempre um bolo, em vagas de perfume, Sob claro dossel…  Em edens fechados de carinho, De esperança e de mel. Mas, lá fora, a tristeza continua…  Há quem chora sozinho, em plena rua, Ao pé da multidão; Há quem clama piedade e passa ao vento, Ralado de tortura e sofrimento, Sem a graça de um pão. Há quem contempla o céu maravilhoso, Rogando à morte a bênção do repouso Em terrível pesar! Ah! Como é triste a imensa caravana, Que segue, aflita, sob as trevas humanas Sem consolo e sem lar…  Tu que aceitaste a luz renovadora Do Rei que se humilhou na manjedoura...