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Perante Deus

Se houve alguém na Terra com autoridade suficiente para definir o Supremo Criador do Universo, esse alguém foi Jesus, que O representava, sublime, à frente da Humanidade. Entretanto, para desincumbir-se da divina missão de revelá-lo a nós outros, não se perde em cogitações da inteligência, de vez que a inteligência é fatalmente constrangida a renovar-se, todos os dias. Nem presunção. Nem retórica. Nem violência. Nem fantasia. O Mestre Inolvidável serviu apenas; elegendo no amor puro e irrestrito, a força de sua mensagem inesquecível. De todas as criaturas busca a melhor parte para exalçá-las à gloria excelsa. Doutrinando os doutores do Templo, não lhes menospreza a cultura. Apenas esclarece-os. Em contato com Zaqueu, não lhe amaldiçoa os haveres. Auxilia-o a usá-los. Junto de Madalena, não lhe vergasta a condição de mulher sofredora. Soergue-lhe o bom ânimo. Ao pé dos enfermos de todos os matizes, não lhes destaca os erros e os compromissos. Ajuda-os, simplesmente. Sofrendo a negaçã...

Em nome de Jesus

A viúva havia perdido o filho que se lhe fizera arrimo, assassinado por um amigo que o tóxico desequilibrara e que fugira ao pronunciamento da justiça. Depois de alguns meses, estava ela distribuindo refeições a pessoas necessitadas, numa instituição cristã de beneficência, quando alguém lhe apontou um rapaz à mesa e lhe segredou:  — Aquele é o matador de seu filho. A senhora, com grande terrina às mãos, estremeceu; mas voltando-se para uma parede lateral, como quem desejava ausentar-se daquela situação, esbarrou com a efígie de Cristo Crucificado.  Imediatamente, recordou que o Divino Mestre também fora exterminado sem culpa. Estranha força lhe surgiu no coração e prosseguiu adiante. Chegando ao prato do rapaz indicado, passou a servi-lo com gentileza. O moço, surpreendido, perguntou-lhe:  — A senhora sabe que matei seu filho e que sou um assassino… Como pode me servir com tanta bondade? Ela, porém, sorriu levemente e apontando-lhe, com o olhar, a face do Senhor, na t...

Amorável Jesus, estamos de retorno

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Ontem, nesse passado sempre presente, ouvimos-te nas paisagens formosas da gentil Galileia e fascinamo-nos com os Teus sublimes ensinamentos. Tocados sinceramente no coração, resolvemos seguir-te à distância através dos tempos, vivendo e cantando a Tua mensagem libertadora. No entanto, o mundo que enfrentamos não era semelhante às praias formosas e calmas de Cafarnaum e deixamo-nos vencer pelas ondas encapeladas, pelo tumulto das nossas paixões não apaziguadas, afogando-nos lamentavelmente. Durante largo período em que procuramos retornar ao Teu rebanho de amor, somente complicamos a conduta, cada vez afundando mais nas águas revoltas do desespero íntimo. Sentíamos saudades de Ti e não conseguíamos decodificar corretamente. Por isso, fugíamos de nós mesmos, buscando fora o que somente é possível encontrar no interior dos sentimentos profundos. Enquanto nos ensinavas correr para o deserto, para acalmar a febre das paixões primitivas, atirávamo-nos nas labaredas dos incêndios morais e...

A ordem do Mestre

Avizinhando-se o Natal, havia também no Céu um rebuliço de alegrias suaves. Os Anjos acendiam estrelas nos cômoros de neblinas douradas e vibravam no ar as harmonias misteriosas que encheram um dia de encantadora suavidade a noite de Belém. Os pastores do paraíso cantavam e, enquanto as harpas divinas tangiam suas cordas sob o esforço caricioso dos zéfiros da Imensidade, o Senhor chamou o Discípulo Bem-Amado ao seu trono de jasmins matizados de estrelas. O vidente de Patmos não trazia o estigma da decrepitude como nos seus últimos dias entre as Espórades. Na sua fisionomia pairava aquela mesma candura adolescente que o caracterizava no princípio do seu apostolado.  — João — disse-lhe o Mestre — lembras-te do meu aparecimento na Terra?  — Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade de frei Dionísios,  que colocou erradamente o vosso natalício em 754, calculando no século VI da era cristã.  — Não, meu João — retornou docemente o Senhor...

A manjedoura

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As comemorações do Natal conduzem-nos o entendimento à eterna lição de humildade de Jesus, no momento preciso em que a sua mensagem de amor felicitou o coração das criaturas, fazendo-nos sentir, ainda, o sabor de atualidade dos seus divinos ensinamentos. A Manjedoura foi o Caminho. A exemplificação era a Verdade. O Calvário constituía a Vida. Sem o Caminho, o homem terrestre não atingirá os tesouros da Verdade e da Vida. É por isso que, emaranhados no cipoal da ambição menos digna, os povos modernos, perdendo o roteiro da simplicidade cristã, desgarram-se da estrada que os conduziria à evolução definitiva, com o Evangelho do Senhor. Sem ele, que constitui o transunto de todas as ciências espirituais, perderam-se as criaturas humanas, nos desfiladeiros escabrosos da impiedade. Debalde, invoca-se o prestígio das religiões numerosas, que se afastaram da Religião Única, que é a Verdade ou a Exemplificação com o Cristo. Com as doutrinas da Índia, mesmo no seio de suas filosofias mais ava...

Natal na aldeia

Soluços da alma contente… Doce visão do Natal!… Deus vos salve eternamente, Lembranças de Portugal! Natal!… O trigo na Azenha, Água correndo a cantar!…  A lareira pede lenha, Fagulhas brincam no ar. Natal! Ah! Saudade minha!…  Cantiga do coração!…  A teleiga de farinha Amassa a estriga do pão. Na sombra que envolve a terra, Outeiros acendem lume. Do braçal que se descerra Chegam vagas de perfume. À janela, erguem-se vozes…  — “Pastores ternos, quem sois?…” Meninos voam às nozes; Quanta alegria depois!…  Na sala que se alvoroça, Surge um velho sem ninguém. Diz o dono: “A casa é vossa E a mesa é vossa também… Próvida e grande candeia Faz luz sob o teto morno: Espalha-se em toda a aldeia O alegre cheiro de forno. Há canções claras e puras, Nas sebes tintas de breu:  — Glória ao Senhor nas Alturas!…  Hosanas!… Jesus nasceu!… Um mocho pia de leve No velho beiral vizinho…  Não sei se é chuva ou se é neve Que o vento lança ao caminho!…  Meia-noit...

Ante o Divino Semeador

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Jesus é o Sublime Semeador da Terra e a Humanidade é a Lavoura de Deus em suas Divinas Mãos. Lembramo-nos, assim, da renúncia exigida à semente chamada à produção e que se destina ao celeiro, para que não venhamos a sucumbir em nossas tarefas. Atirada ao ninho escuro da gleba em que deve desabrochar, sofre extremo abandono, sufocada ao peso do chão que lhe esmaga o envoltório. Sozinha e oprimida desenfaixa-se das forças inferiores que a constringem, a fim de que os seus princípios germinativos consigam receber a bênção do Céu. Contudo, mal desponta, habitualmente, padece o assalto de vermes que lhe maculam o seio, quando não experimenta a avalanche de lama, por força dos temporais. Ainda assim, obscura e modesta, a planta humilde crê instintivamente na sabedoria da Natureza que lhe plasmou a existência e cresce para o brilho solar, vestindo-se de frondes tenras e florindo em melodias de perfume e beleza para frutificar, mais tarde, nos valiosos recursos que sustentam a vida. À frent...